Poe: do Gato Preto ao Pálido Olho Azul 6z6o6c
Alex Mendes fala sobre o escritor Edgar Allan Poe na coluna desta sexta-feira 6t6y2m
Um dos maiores nomes da literatura gótica é, sem dúvida, Edgar Allan Poe (1809-1849). O poeta e escritor de contos de terror nasceu nos Estados Unidos, ficou órfão aos 3 anos, foi adotado, se alistou no exército, conquistou prêmios e morreu de forma misteriosa: sífilis e excesso de consumo de álcool estão entre as possíveis causas.
Dúvida na morte que não existiu em vida. Talento puro. Até hoje, Poe é leitura obrigatória para os fãs do gênero. O seu conto mais famoso, O Corvo, foi traduzido no Brasil por ninguém menos que Machado de Assis. Ele fala do encontro do poeta com um pássaro que bate em sua janela. A cada pergunta que ele faz para o bicho recebe a resposta: Nunca Mais. Poe queria respostas de um reencontro com sua amada Lenora, já morta. Nunca mais é a resposta que recebe.
Existe uma série de interpretações sobre o poema e nas variadas áreas, o que já comprova a genialidade do autor. Mas não é a intenção desta coluna esmiuçá-las. Apesar de reconhecer a importância desse poema, prefiro os contos de Poe. Dois deles, em particular.
O Barril de Amontillado traz uma história sinistra de vingança. De uma perversidade sem tamanho. A frieza do protagonista é tanta que a para os leitores um frio que percorre nossa espinha conforme vamos adivinhando o desfecho da história.
O outro conto é O Gato Preto que, assim como O Corvo, já inspirou várias obras cinematográficas. Um casal pacato vive normalmente em companhia de um gato. De repente, o marido a a beber demais e o amor que ele tinha pelo bicho se transforma em desprezo e ódio mortal. Uma tragédia acontece depois de ele tomar uma medida drástica contra o animal. E o final, a exemplo do Amontillado, é desses de ficar pensando horas. Ou no caso de Poe, anos. Afinal, o conto foi escrito no século XIX e continua a ser descoberto pelas novas gerações.

Como se não bastasse ser um dos mais incríveis poetas e escritores de todos os tempos, Poe também tem sido detetive em alguns filmes. Em 2012, John Cusack encarnou o escritor no filme O Corvo (The Raven, EUA) e ou a caçar o serial killer e sequestrador de sua noiva que, de lambuja, gosta de matar suas vítimas com instrumentos baseados em contos do próprio Poe. Um deles, o angustiante O Poço e o Pêndulo.
E no ano ado, o Batman em pessoa, Christian Bale, também colocou Poe em meio a uma investigação. O filme O Pálido Olho Azul (The Pale Blue Eyes) é um mistério com tom gótico inspirado num livro de mesmo nome – não de Poe, e sim de Louis Bayard — que traz o inspetor aposentado Landor de volta à ativa quando um cadete de uma escola de exército tem o seu coração arrancado depois de enforcado.
Entre os alunos, Edgard Allan Poe (Harry Melling) – sim, ele serviu ao exército e foi cadete de uma escola semelhante. Landor logo vê a perspicácia do jovem e o contrata como uma espécie de olheiro para ajudá-lo na investigação.
Muitas agens da vida e dos contos de Poe se misturam à ficção até o final. Confesso que achei o filme bem morno, longe de fazer jus ao personagem homenageado. Porém, após o desfecho, um plot twist (virada de roteiro) faz aumentar a simpatia pelo roteiro e entender o porquê de Bale ter mergulhado no projeto.
Essa veia de detetive de Poe tem a ver com obras como o Assassinato da Rua Morgue, onde ele escreve justamente na temática policial.
Vale a pena assistir a O Pálido Olho Azul? Sim, vale, sim. Mas não para conhecer Poe. É um filme nota 6. Se quiser mesmo ser apresentado a Edgar Allan Poe – e, acredite, você deve fazer isso – busque seus livros. Existem centenas deles e muitos a preços irrisórios. Procure sebos, obras digitais em e-readers, livrarias, bibliotecas. Mas não deixe de se deliciar com a capacidade que ele tinha em escrever narrativas envolventes com tão poucas palavras. Com a habilidade de estabelecer conexões entre personagens e leitores sem precisar de vários capítulos pra isso.
Apresente-se a Poe e, quem sabe, não e a compartilhar comigo uma nova interpretação sobre O Corvo: a de que o pássaro tenha dito “Nunca mais” para a chance de aparecer um outro exímio contador de curtas histórias de terror.