“Tentando me reerguer”, diz marido de enfermeira morta com cerol 6s5v58
Vítima da irresponsabilidade, Cátia Pavaneli, de 34 anos, deixou marido e dois filhos de 5 e 15 anos 25534v
Há 7 dias, o almoxarife Éder Gomes de Moura perdeu a companheira de uma vida. A enfermeira Cátia Pavaneli, de 34 anos, esposa de Éder, seguia de moto com o filho pela rua Rogaciano Garcia Moreira, quando foi atingida por uma linha cortante, também conhecida como cerol, em Três Lagoas.
O acidente fruto de uma atitude irresponsável custou a vida de Cátia. Desde então o trabalhador conta com o apoio dos dois filhos do casal, de 5 e 15 anos, na busca de forças para lidar com a perda.

“Não sei quando eu vou conseguir superar. Acho que ainda tenho uma grande jornada pela frente, tento buscar força nos meus filhos. Hoje o meu porto seguro é eles e o restante da família, amigos que estão dando um apoio imenso. E buscar força em Deus, porque para mim hoje no momento não está sendo nada fácil. Estou tentando me reerguer dias após dias. Está bem recente ainda, então. A dor ainda é muito grande”.
Éder Gomes de Moura.
Éder conta que conheceu Cátia quando os dois ainda eram crianças. Só de relacionamento foram 18 anos, período em que ela engravidou, concluiu a tão sonhada faculdade e ou a ser dedicar ao trabalho home care.
Para a enfermeira, o cuidado com o outro, vinha sempre em primeiro lugar, conta Éder. Cátia sonhava em criar um projeto de apoio à quem mais precisa. Após a morte da esposa, Éder “resgatou” um álbum antigo da formatura da esposa. (Confira acima).
“A gente se conhecia desde criança, então a nossa ligação sempre foi muito grande, estudamos juntos, nos casamos. Eu vi ela batalhar para conseguir entrar na faculdade, se formar. Ela nunca desistiu e sempre teve um amor imenso pela área de enfermagem, pela área da saúde. Para ela, as pessoas tinham que estar bem”.
Éder Gomes de Moura.

Além da lembrança da profissional dedicada, resta a saudade da mulher humilde e de alto-astral.
“A Cátia sempre foi uma pessoa muito humilde, simples, cuidadosa. Ela sempre pregou a simplicidade, a humildade, a confiança. Ela acreditava que tudo ia sempre dar certo. Então, que a gente mantenha essas boas lembranças dela nos nossos corações e acredito que um dia a gente vai se encontrar e que tudo vai dar certo. Não posso deixar a tristeza tomar conta do meu coração”.
Éder Gomes de Moura.
O acidente 2n5l6l
Éder conta que estava trabalhando na reforma da casa do pai dele, na fatídica tarde de 27 de janeiro, quando ocorreu o acidente. Naquele mesmo dia, Cátia conseguiu o dinheiro que faltava para quitar a motocicleta comprada 15 dias antes do acidente.
Ela estava indo para o local da reforma deixar o filho de 5 anos com Éder, para então seguir para o trabalho, quando foi atingida pela linha cortante.
“Meu filho me ligou e na hora que escutei que tinha sido um acidente com linha de pipa, eu já chamei o meu irmão e falei: vamos lá. Eu já imaginei que não seria uma notícia boa porque eu já vi outros casos na televisão falando sobre o risco da linha de pipa. Então, na hora que falaram que ela tinha se acidentado com linha de pipa, eu já estava temendo o pior. É algo que todo mundo sabe que é um risco na cidade, ela não foi a primeira e, se continuar assim, isso pode acontecer com outras pessoas”.
Éder Gomes de Moura

Ao chegar no local, as suspeitas de Éder se confirmaram. Após ser atingida pela linha, Cátia perdeu o controle da motocicleta que pilotava e sofreu uma queda junto do filho. Ela chegou a caminhar por 50 metros, mas acabou perdendo a consciência. Ela morreu no local.
“Eu cheguei lá e vi a minha esposa caída no chão. Ainda tentei ver se ela tinha algum sinal vital, virei ela para sentir, mas notei o tanto de sangue que tinha no chão, vi o tamanho da lesão, então, eu só falei para o meu irmão: minha esposa se despediu de nós, não temos o que fazer. Foi lamentável a cena, muito dolorosa. Volta e meia essa cena vem na minha cabeça ainda, eu tentando fazer alguma coisa. Esse trauma ainda persiste e eu acredito que vai levar um bom tempo para eu melhorar. Bem, eu não vou ficar, porque ela não vai estar mais comigo. Então eu busco força nos meus filhos”.
Éder Gomes de Moura.
Suspeitos fugiram 2304c
Conforme Éder, próximo ao local do acidente havia uma aglomeração de pessoas soltando pipa. Todos conseguiram deixar o local antes da chegada do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e da Polícia Militar.
“Me informaram que tinha um evento de pipas no local com mais ou menos 60 pessoas. Quando perceberam que houve um incidente e que uma mulher tinha morrido, todo mundo sumiu do local. Quando eu cheguei lá só estavam as crianças”.
Éder Gomes de Moura.
A polícia, inclusive, apreendeu algumas pipas no local do acidente e encaminhou para a perícia. Até o momento, no entanto, não foi possível identificar quem portava os itens. Conforme a Polícia Civil de Três Lagoas, testemunhas estão sendo ouvidas, mas até o momento, o culpado de soltar a pipa com a linha cortante ainda não foi encontrado.

O acidente não foi registrado por câmeras de segurança, o que também dificulta o trabalho de investigação. Éder tem esperanças de que o suspeito do crime seja identificado e pague pelo crime que cometeu.
“Eu ainda acredito na Justiça do nosso país. Eu acredito que as autoridades vão ajudar, os investigadores estão fazendo a parte deles e a conscientização também não pode parar. Já faz tempo que a gente sabe que é proibido usar esse tipo de linha, os comerciantes têm que ser penalizados. Os pais também têm que orientar os filhos para eles não utilizarem esse tipo de linha. Eu espero que a justiça seja feita para inibir esse tipo de esporte, principalmente em locais urbanos. Da mesma forma que tem lugares específicos para determinados esportes, eu acho que o mesmo deveria ser aplicado com a pipa”.
Éder Gomes de Moura.
Grave 4vr1c
Os dados do Corpo de Bombeiros indicam que, em 2023, foram registrados 7 casos de ferimento acidental com linha de pipa ou cerol, cinco deles no interior do estado e dois na capital.
Leia mais 6p1262
É crime 2m6z6q
O uso de linhas cortantes em pipas é proibido no país. Quem é flagrado vendendo ou transportando esse tipo de linha também pode ser penalizado com pena de três meses a 1 ano de prisão. E quem comercializa ainda pode ter que pagar multa de R$ 17 mil.
Três Lagoas, inclusive, também possui lei municipal que proíbe a prática. O estabelecimento que comercializar linha cortante na cidade pode ser, imediatamente, lacrado e ter o alvará de funcionamento suspenso pelo período de três meses.
Em caso de reincidência o alvará será, imediatamente, cancelado e não mais concedido para o infrator. A fiscalização fica a cargo das forças de segurança locais, informou a prefeitura do município.
Como se prevenir 4ej2y
Pelas ruas, ciclistas e motociclistas são as vítimas mais vulnerável a acidentes com linhas cortantes. Para aumentar a segurança, a orientação é que motociclistas instalem uma antena de cada lado do guidão.