Quanto vale o mercado da droga ? Livro que estudou 4 estados diz porque é importante saber 396bg
Mato Grosso é um dos quatro estados integrantes de estudo estratégico para aprimoramento das políticas sobre drogas no Brasil. As conclusões, recém divulgadas no livro “Dinâmicas do Mercado de Drogas Ilícitas no Brasil”, traçam espécie de radiografia desse mercado paralelo às leis, a partir do preço dos entorpecentes – um foco que sempre foi tabu, […] 2u4f5v
Mato Grosso é um dos quatro estados integrantes de estudo estratégico para aprimoramento das políticas sobre drogas no Brasil. As conclusões, recém divulgadas no livro “Dinâmicas do Mercado de Drogas Ilícitas no Brasil”, traçam espécie de radiografia desse mercado paralelo às leis, a partir do preço dos entorpecentes – um foco que sempre foi tabu, do prisma das divulgações públicas sobre o tema.

O projeto-piloto foi realizado em São Paulo, Paraná, Pernambuco e Mato Grosso pelo CdE (Centro de Excelência para a Redução de Drogas Ilícitas), em parceria com o Simci (Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos), da Colômbia.
A iniciativa veio de órgãos de peso: a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública da Justiça e Segurança Pública (Senad/MJSP), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
Entenda os motivos da escolha dos quatro estados: 465g64
- São Paulo, por se tratar de um grande mercado consumidor e rota de exportação para diversas regiões do mundo, através de suas zonas portuárias;
- Paraná, considerando a região fronteiriça com o Paraguai (país com grande produção de maconha), e também por ser uma região estratégica para o trânsito de drogas ilícitas com zona portuária utilizada para o tráfico internacional;
- Pernambuco, representando o eixo Norte-Nordeste, por integrar o denominado polígono da maconha e também com zona portuária utilizada para o tráfico internacional; e
- Mato Grosso, por ter fronteira com a Bolívia, relevante região de produção de cocaína, e por constituir a principal rota brasileira de apreensão de cocaína.
Foram as forças de segurança locais as fontes dos dados compilados. Por Mato Grosso, cita pesquisa, a cocaína atravessa a fronteira para o Brasil em direção aos consumidores finais, em solo brasileiro e mundo afora. Na comparação dos preços de venda, em terras mato-grossenses vigora o menor patamar.
“É evidente que o preço médio mais baixo é informado em Mato Grosso com R$ 18.000/kg para a base de cocaína”, informa o documento. Nas outras unidades da federação, o valor chega a R$ 50 mil, caso do Pernambuco.
Para os analistas, o resultado é coerente, “se considerarmos que este estado tem aspectos diferenciais em sua fronteira, principalmente com a Bolívia, país produtor de folha de coca e seus derivados, situação que ameaça seu território com o estabelecimento de dinâmicas do tráfico de drogas internacional”.
Tomando como referência a base de cocaína, explicitam os pesquisadores, foi verificado que, conforme ela se afasta do estado de Mato Grosso, o preço sofre incremento, ando a custar mais que o dobro em estados como Paraná e Pernambuco.
A conclusão lógica é de que, na medida em que o transporte da droga é feito, são gerados custos, por sua vez reados nas etapas de logística do tráfico.
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Quem briga pelo comando do tráfico em MT? 5i1217
Enquanto em São Paulo e Paraná, os maiores estados alvos do estudo, o controle do crime organizado voltado às drogas é da facção surgida nos presídios paulistas na década de 1990, em Mato Grosso, quem dá as cartas é um grupo criminoso do Rio de Janeiro. Ainda assim, há atuação de outras “irmandades” de bandidos, assim como rixas entre elas, causadoras de uma guerra capaz de influenciar nos índices de violência e no dia a dia da sociedade.
“Com relação aos grupos que atuam no estado, foram relatados a presença do CV [Comando Vermelho], grupo local que possui ligações com a facção carioca, contudo, observa-se um afrouxamento hierárquico quando se compara o grupo mato-grossense com o grupo que atua no Rio de Janeiro. O CV do MT seria o grupo que atua com maior presença em todo o estado, tendo rixas com os demais grupos. O PCC (Primeiro Comando da Capital), também é presente no estado, atuando principalmente na região de fronteira com a Bolívia, tendo intensas disputas com o CV. Outro grupo identificado se denomina ADE (Amigos do Estado), que teria uma maior presença na região nordeste do MT, próximo ao estado de Goiás. Segundo os interlocutores, o PCC e o ADE estão aliançados contra o CV”.
Conforme o levantamento de dados, os dois grupos citados por último recebem dissidentes da facção carioca, como consequência da dinâmica de cobranças rígidas em relação aos filiados, inclusive na forma de violência. As penalidades incluem tortura, chicoteamento, por vezes filmados, parte deles derivando em mortes, nos “tribunais do crime”.
“Faccionalização” 5lcl
“Além dos grupos faccionados, também foi relatada atuação de pessoas que são ´independentes´, que eram mais comuns anteriormente”. O atual momento acaba por “empurrar” os criminosos em direção às facções”, conclui o livro.
“No âmbito do sistema prisional, foi relatado um domínio quase que completo do CV nas cadeias de Mato Grosso, com exceção do presídio em Várzea Grande, em que há controle do PCC. Relatou-se, também, uma rivalidade entre ADE e CV em Água Boa”, continua o texto.
“Há o relato que de faccionados ligados ao PCC, quando presos em Cuiabá, são executados, e aqueles ligados ao CV, quando encarcerados em Várzea Grande (região metropolitana de Cuiabá), também são vitimados”, prossegue.
Mulas da Bolívia “valem menos”. 1l534c
A atuação das chamadas “mulas”, pessoas pagas para transportar pequenas quantidades de droga, é abordada, mesmo que de forma breve.
“Se a pessoa que faz o transporte for brasileira, recebe R$ 200,00 por cada barra de pasta-base de cocaína que carrega. No caso de ser boliviana, o preço costuma ser de R$ 50,00, sendo as pessoas desta nacionalidade aliciadas com maior frequência”, identificou o estudo.

O fim de um paradigma? 3j3ot
Tratar de valores atribuídos ao negócio do tráfico sempre foi ponto sensível. O raciocínio aplicado era o seguinte: falar em quantias vindas do comércio de drogas configura-se em chamariz e incentivo, principalmente aos mais jovens, a entrar na vida clandestina da comercialização de substâncias ilegais.
Pois na análise sobre a qual a Capivara Criminal trata nesta edição, o entendimento é bem ao contrário. A máxima “informação é poder” sintetiza a leitura construída pelo CdE com apoio do Simci.
No caso, o poder almejado é de – a partir da organização do conhecimento aprofundado sobre o gigantesco mercado da venda de drogas – estabelecer antídotos para reduzir a quantidade de produtos disponíveis, combater a violência e os crimes conexos, descapitalizar as organizações criminosas e, por fim, atacar a arquitetura de chegada aos clientes finais.
“Desenvolver conhecimento especializado a respeito do tráfico de drogas permitirá um trabalho mais eficaz no enfrentamento às organizações criminosas”, descreve uma das lições elencadas nas conclusões do texto.
“Recomenda-se que as informações sejam utilizadas para o melhor direcionamento das ações policiais, sobretudo aquelas que possam surtir maior efeito e de espectro preventivo, como um olhar direcionado para etapas anteriores ao tráfico varejista”, defendem os responsáveis pelo documento de mais de cem páginas, tornado público no dia 14 de dezembro pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Os dois trechos citados fazem parte de uma relação de 10 lições aprendidas durante a confecção do relatório.
São conselhos que vão da necessidade de maior integração entre os órgãos de repressão, debate que já dura décadas, até a simples constatação da falta de um padrão para nomear as embalagens usadas pelos traficantes.
Outro aspecto tem a ver com a ciência aplicada ao trabalho institucional de enfrentamento ao mercado de drogas.
“Recomenda-se que o governo federal e governos estaduais promovam ações que resultem na ampliação da capacidade das Polícias Científicas dos estados. Dessa forma, essas instituições poderiam realizar com maior frequência testes de pureza em amostras de cocaína apreendidas no âmbito das Unidades da Federação, com o intuito de gerar informações mais adequadas e precisas”, sugere o documento.
O livro está disponível na internet. Clique aqui para ter o.