Professora sofre racismo enquanto tentava renovar CNH em Rondonópolis 561z72

Keila contou ao Primeira Página sobre o episódio de racismo pelo qual ou por mais de 20 minutos. 256y60

Por ter cabelo crespo e estar usando um turbante, a professora Keila Pereira da Silva, de 37 anos, foi vítima de racismo enquanto tentava tirar uma foto para renovar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) em uma unidade do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá.

Keila fala sobre o momento em que foi vítima de racismo na unidade do Detran de Rondonópolis, (Vídeo: Gabi Braz).

Em entrevista ao Primeira Página, Keila conta o episódio de humilhação pelo qual ou por mais de 20 minutos, enquanto a atendente pediu, primeiramente, para que ela retirasse o turbante e, depois, para que ela se reposicionasse diversas vezes pois o cabelo estava “muito alto”.

O episódio de racismo 1e5a34

Keila é professora da educação infantil no município, pesquisadora do campo das relações étnico-raciais voltada para a pré-escola e está concluindo um mestrado nessa área.

Na manhã dessa segunda-feira (9), ela foi até a unidade do Detran localizada no bairro Jardim Modelo, na cidade, para fazer o processo de renovação.

No local, a servidora responsável por tirar as fotos da nova CNH, disse à Keila que ela só poderia tirar a foto se retirasse o turbante, ório que ela usava na cabeça. Essa teria sido, para a vítima, a primeira forma de constrangimento naquele momento.

E durante o processo de fotografia, que não deveria durar mais que cinco minutos, a vítima foi desrespeitada e humilhada por mais de vinte minutos.

racismo
Keila Silva, de 37 anos, foi vítima de racismo enquanto tentava tirar foto para a CNH em MT. (Foto: Primeira Página).

Após ter retirado o adereço, a professora ainda teve que repetir a foto diversas vezes, enquanto outras pessoas aguardavam na fila para também fotografar.

Nesse momento, a servidora, que não teve a identidade divulgada, repetia para Keila frases como “seu cabelo está muito alto”, “seu cabelo não está aparecendo na foto”, “não estou conseguindo tirar a foto por causa do seu cabelo”, “não estou conseguindo fazer o enquadramento porque seu cabelo é muito alto.”

A reação da professora diante das falas racistas da servidora foi de não saber exatamente o que dizer, só de sentir uma dor no peito.

Diante disso, Keila ainda perguntou à atendente se ela entendia que aquela situação era racismo. A mulher não respondeu, apenas riu do que a vítima falava.

Keila conta sobre o constrangimento que ou na unidade. (Vídeo: Gabi Braz).

Além disso, Keila ainda se sentiu envergonhada, por ter a sensação que estava atrapalhando o andamento dos atendimentos na unidade.

“Foi como se eu estivesse atrapalhando quem estava ali para ser atendido. Foi uma situação muito vexatória. Como se eu tivesse alguma culpa por ter cabelo crespo e alto. Senti na pele as consequências do racismo estrutural. Isso precisa mudar”, desabafou.

Keila fala sobre a dor de ter ado pela situação. (Vídeo: Gabi Braz).

Denúncia 3t1t1q

A professora contou, também, sobre a insatisfação até mesmo no processo de denúncia. Segundo ela, mesmo existindo uma lei prevendo o racismo como crime na Legislação Brasileira, a criação do termo ‘injúria racial’ como uma outra forma de crime, veio para tentar “amenizar” ou menosprezar as denúncias feitas pela população negra.

Em 1997, a Lei do Racismo foi ampliada no Brasil e o crime de injúria racial ou a contar como um crime associado a uma pessoa específica, ao uso de palavras depreciativas com a intenção de ofender a honra da vítima, de atacar diretamente a pessoa por causa de sua raça e cor.

Nos dois tipos de crime a pena é de 1 até 3 anos de prisão, mas em casos de injúria racial, que está apenas no Código Penal, e não na Constituição, o agressor tem direito a fiança e o crime pode prescrever –  que é quando não houve ação judicial dentro do prazo estipulado por lei e o Estado perde o direito de punir o criminoso.

A resistência que vem da dor 2ed6b

Keila explica que tanto o turbante quanto o próprio formato do cabelo fazem parte da identidade dela, da ancestralidade e da cultura na qual ela se enxerga como pertencente.

(Vídeo: Gabi Braz).

Apesar da dor que carregará na memória cada vez que se lembrar do ocorrido, o objetivo agora, segundo Keila, é transformar essa aflição em luta para que outras pessoas negras possam, no futuro, se verem livres de olhares, momentos, crimes como este.

Por fim, a professora chama atenção sobre a importância de que a população negra não se cale e não deixe de denunciar casos de racismo.

(Vídeo: Gabi Braz).

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Outro lado 31e

Keila registrou um boletim de ocorrência horas após o crime e, em nota, o Detran-MT informou que a repetição e a demora no processo de fotografia pode acontecer em casos em que fatores como iluminação ou má qualidade da câmera estejam prejudicando o resultado final.

Além disso, a entendida informou que a portaria nº 968 de julho de 2022 da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) determina que, para a captura de imagens para confecção da CNH, o cidadão não pode estar usando nenhum tipo de adereço que atrapalhe a identificação facial, tais como óculos de sol, boné, lenços, turbantes e afins.

Por fim, o Detran-MT lamentou o fato, informou que não concorda com casos como este e que o assunto já está na Ouvidoria do órgão para ser apurado.

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