Policiais penais denunciados por praticar, em tese, tortura são afastados das funções 4h514o
Policiais penais foram denunciados por outra colega policial. Tortura teria acontecido em curso de formação do GIR (Grupo de Intervenção Rápida). 2e26n
Foram cumpridas nessa sexta-feira (10) as medidas cautelares de afastamento da função pública, determinadas pela Justiça, contra seis policiais penais da GIR (Gerência de Intervenção Rápida), do Sistema Penitenciário de Mato Grosso. A decisão da Justiça atende à representação encaminhada pela Polícia Civil, como parte da investigação instaurada para apurar o crime de tortura praticado, em tese, pelos policiais penais contra uma também policial penal.

Na decisão, o magistrado estabeleceu que as medidas cautelares sejam cumpridas pela autoridade policial e, determina ainda, que os seis policiais penais estão proibidos de manter contato de qualquer natureza, pessoalmente ou por terceiros, e ainda por meio telefônico, telemático, cartas e outros com a vítima.
O crime foi denunciado pela vítima no último sábado (4), no Plantão 24h da Mulher. O procedimento foi encaminhado à Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Cuiabá, onde foi instaurado inquérito policial para apuração dos fatos.
A defesa de Marcos Benigno Monteiro e Kleber Félix da Silva afirmou que eles negam a acusação de que teriam participado de tortura. Já o advogado que representa Roberval Ferreira Barros, Ivando Lembranzi e Gilberto de Almeida Sales foi procurado pela reportagem, mas não quis se manifestar por nota. O Primeira Página não conseguiu localizar a defesa de José Gomes.
Entenda o caso 566u43

A policial penal que denunciou um colega de trabalho por importunação sexual e policias por tortura durante o Curso da GIR detalhou as agressões, em entrevista exclusiva exibida na TV Centro América, nessa sexta-feira.
Segundo a agente, tudo aconteceu no dia 3 março, em um curso ministrado pelo GIR (Grupo de Intervenção Carcerária).
“Me torturaram o tempo todo, jogaram gás no meu rosto o tempo todo, jogaram espuma no meu corpo inteiro, queimaram meu rosto e a minha boca”, disse à reportagem.
A mulher acredita que a denúncia do crime de importunação sexual no ambiente de trabalho, ocorrida em novembro do ano ado, motivou a tortura durante o curso.
Ela relatou que, após ser vendada com uma balaclava, que é um capuz, foi levada para outra sala onde ocorreu agressões.
“Alguém me tira do local [onde estavam os demais colegas de curso] e, antes de me levar para uma sala totalmente escura, alguém dá uma pancada nas minhas costas. Não sou capaz de identificar quem é. Na tal sala, alguém diz que eu estou querendo ver o meu coleguinha de farda preso”.
Conforme a vítima, dentro da sala, os envolvidos teriam a questionado o porquê de ter feito a denúncia. Ela se defendeu dizendo que ele estava observando-a sem roupa pela janela do alojamento. Mesmo assim, os colegas não aceitaram a resposta e culparam a policial por deixar a janela aberta propositalmente.
‘Intenção era saber sobre meu depoimento’ 1p5a1j
A policial penal contou que os agressores questionaram o que ela havia dito no boletim de ocorrência.
“A intenção era saber sobre o meu depoimento, que é sigiloso. Não disse, eu me calei. Contaminaram os meus olhos com um produto que causa irritação nos olhos, fecha involuntariamente a suas pálpebras e causa uma dor tremenda”, relatou.
“Puxaram meu braço pra bater o sino [para desistir do curso]. Me levam pra uma viatura e falaram que me levariam para um determinado local. Eu falei: ‘Não! O que vocês estão fazendo é contra a minha vontade, isso é privação de liberdade’. Eles falaram que não, que era a ordem do coordenador do curso me levar pra esse determinado local”, detalhou.
Ela afirmou também que abriu a porta da viatura, saiu com os olhos vedados, enxergou uma luz na escuridão e foi até o local pedir socorro.
“Uma senhora abriu a porta e me escondeu debaixo de uma cama. Aí chegaram algummas pessoas lá pedindo para ela abrir a porta, que eu estava em surto psicótico, que eu não estava em minhas condições mentais. E eu pedia para ela não abrir, não. Eu peguei uma carona com uma pessoa para retornar para Cuiabá”, explicou.
Os integrantes do GIR denunciados pela mulher foram presos em flagrante, liberados no mesmo dia e tiveram os celulares apreendidos. Agora, respondem ao inquérito por lesão corporal, coação no curso do processo, cárcere privado e tortura.
“Eu espero que a Justiça seja feita, que os culpados, que inibiram o caso [sobre importunação sexual] de ir para frente, que sejam responsabilizados, porque tudo aconteceu comigo porque houve uma impunidade num período aí de três meses. Se não tivesse tido a impunidade, as coisas não teriam chegado a esse no nível que chegou”, finaliza.