Os motivos que fizeram Bonito virar QG do tráfico h3y
Cidade que é famosa por suas belezas naturais ou a ser usada como entreposto do tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul 4y1i1i
Bonito, o paraíso do turismo ecológico em Mato Grosso do Sul, foi transformado em QG de organização criminosa dedicada ao tráfico de drogas, sob chefia de “Cateto”, nome de guerra de Eliandro Fernandes do Amaral, 45 anos, preso em 28 de setembro de 2023 durante a operação “Paraíso Marcado 2″.

No município, de menos de 25 mil habitantes, “Cateto” angariou comparsas para fundar a sede de seu negócio ilegal, com a ajuda da herança deixada pelo irmão, José Elias Fernandes do Amaral, o “Bagual”, um dia considerado o sucessor de Fernandinho Beira-Mar no comando da criminalidade na fronteira Brasil-Paraguai, depois da captura do carioca na Colômbia.
“Cateto” e “Bagual” foram condenados juntos por duas vezes, em razão do envolvimento com a venda de entorpecentes. Em 2002, pegaram dez anos de cadeia como responsáveis por carga de 337 quilos de cocaína. Em 2007, a pena foi de cinco anos, na Justiça Federal, por ocultação de bens obtidos com o lucro do tráfico.
“Bagual” teve o destino comum a muitos dos que chegam ao topo no crime na fronteira: foi executado no dia 13 de dezembro de 2008, quando saía de uma festa e rumava para a camionete estacionada na rua. Tinha 38 anos.
Os irmãos eram baseados em Amambai, cidade vizinha ao Paraguai. Na época, o assassinato do mais velho gerou clima de temor – inclusive entre agentes de segurança pública – de um banho de sangue como vingança. “Cateto”, na época, estava com 30 anos.
Em 2009, Eliandro foi preso novamente, em uma grande operação da Polícia Federal, a “Saisane”, que teve 21 alvos em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. O termo usado para dar nome à ofensiva é alusivo exatamente à sucessão dos negócios.
Até 2016, o investigado cumpriu pena em Ponta Porã. Lá, informou trabalhar em um lavajato, de sua propriedade.

Em 2023, quinze anos depois do fim trágico da dupla, o irmão mais novo reaparece nos radares das autoridades de segurança, mas agora em Bonito.
Os motivos para a escolha da cidade nada têm a ver com a beleza da região, atrativa o suficiente para ser um dos principais destinos de estrangeiros ao Brasil.
É pura estratégia de logística, como analisa o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), em denúncia à Justiça estadual contra Eliandro.
Denúncia do Gaeco à Justiça de MS
“Segundo a conclusão das investigações, a comarca de Bonito foi escolhida por Cateto devido às suas características naturais, cobertura por matas, morros, áreas alagadas de difícil o, etc, além de trânsito inegável de caminhões boiadeiros, o que facilita esse processo de narcotraficância.
“Cateto” é alvo de ação penal junto com mais 13 pessoas, boa parte de gente de seu círculo mais próximo. Esposa, pai, sogro, amigos de infância estão no rol de agregados à empresa do crime montada por ele, conforme as investigações.
Para chegar ao posto de chefão do tráfico baseado no “paraíso”, contou com a conivência de policiais militares – alvo de uma ação em separado – e tinha os serviços de uma funcionária do Poder Judiciário, casada com um dos comparsas.
Com a ajuda dessa mulher, segundo relatado à Justiça, não apenas sabia das movimentações jurídicas envolvendo seu nome, como inseria informações falsas em processos.
A funcionária pública está afastada da chefia do cartório judicial da Comarca de Bonito, onde estava lotada, depois de ser alvo de busca e apreensão da operação “Paraíso Marcado 2”.
Por quê Bonito? 5k4d59
Pelas descobertas do Gaeco, Bonito foi a opção de “Cateto” para terminar de cumprir pena por tráfico de drogas já com o pensamento na continuidade do delito. Ele conseguiu transferir sua execução penal para a cidade a partir de documentos com informações inverídicas sobre a contratação para trabalhos.
O suposto patrão, asseguram os acusadores, na verdade era mais um dos chefiados.

O grupo de 14 pessoas é acusado de usar propriedades rurais em Bonito para receber cargas de entorpecentes, manter em depósito, preparar a droga e levar a outros estados.
Pista clandestina foi identificada em fazenda pertencente a Eliandro Fernandes do Amaral, que se apresenta como pecuarista, ofício questionado pelo Gaeco, por entendimento ao qual você vai ter o ainda nesta edição da Capivara Criminal.
Não foi localizada autorização estatal para a abertura da pista, conforme consta dos autos. A desconfiança é de que os voos eram usados para transporte dinheiro, enquanto as cargas de droga seguiriam por via terrestre.
A rota inclui o Pantanal, onde o acusado de chefiar o grupo comprou propriedade rural, na região de Nabileque, distante 200 quilômetros de Bonito. Para chegar à fazenda pantaneira, o trajeto pega uma pista sem asfalto, chamada de “estrada dos índios”, e ainda tem um trecho a percorrer de barco.
Para manter a estratégia criminosa, “Cateto” evita ligações da linha do celular, preferindo as comunicações via internet por meio de aplicativos de mensagem instantânea.
Com autorização judicial, diálogos interceptados mostram os comandados sendo orientados quanto a esse cuidado. Em resposta às orientações recebidas, foram captadas mensagens de respeito ao nível hierárquico no organograma da quadrilha, como “patrão”.
Nas conversas interceptadas, aparecem até sacos de dinheiro vivo.
Condutas denunciadas para os envolvidos:
- Constituir, promover e financiar organização criminosa armada
- Violação de sigilo funcional-Preparar, manter em depósito, transportar drogas
- Financiamento do tráfico de drogas
- Oferecimento ou exposição de drogas para a venda, inclusive por telefone
Os integrantes do Gaeco concluíram que “Cateto” instalou sua estrutura em Bonito há, pelo menos, seis anos. São relatadas atividades de tráfico no varejo por telefone, a partir de interceptações autorizadas pela Justiça, e também apreensões de cargas feitas com traficantes identificados como funcionários de Eliandro.
No dia 31 de agosto de 2017, por exemplo, carga de 412 quilos de cocaína foi interceptada pela Polícia Federal. A droga estava em um caminhão boiadeiro, saído de Bela Vista, município fronteiriço ao Paraguai, com destino a Bonito.
Três responsáveis pelo carregamento foram presos, entre eles um ex-vereador bonitense, Erregiano da Rosa, também chamado de “Regis” ou “Vereador”. Atualmente desaparecido, “Regis” era, para o Gaeco, apenas mais um dos comandados da “Turma do Cateto”, autodenominação do grupo.
Entre eles, uma das formas de comunicação era um grupo de Whatssapp, nos quais até mesmo matérias jornalísticas sobre o crime que são acusados de cometer eram enviadas.
Luxo e marcas pessoais 5m1i2t
“Cateto” está em uma cela do presídio fechado da Gameleira 2, chamado de “Federalzinha” pela massa carcerária, numa comparação ao presídio federal existente na capital sul-mato-grossense, diante de regras mais rígidas de custódia dos presos. Dois pedidos para aguardar a acusação em liberdade estão sendo apreciados.
A mudança no padrão de vida de “Cateto” é anotada pelo Gaeco como um indício de suas atividades ilegais. Quando se mudou para Bonito, apresentou à Justiça atestado de trabalho como funcionário de uma propriedade rural. Não ou muito tempo e a fazenda milionária ou a ser dele.
Na placa identificado a propriedade, está o nome Campo Limpo e uma sigla, EFA, a marca adotada pelo dito pecuarista.

Para a investigação, a atividade, comum nessa parte de Mato Grosso do Sul, é um disfarce.
Nas contas do Gaeco, considerando o tempo de prisão já cumprido e os indícios de atividade ilícita recolhidos, pode-se concluir, “sem sombras de dúvidas, que Cateto nunca exerceu qualquer atividade lícita e que certamente, todo o patrimônio por ele adquirido é proveito dos crimes que ele e sua família praticaram ao longo de muitos anos.”
Esqueceu da vacina do gado 4e605c
Como prova disso, é apresentada no processo a transcrição de uma ligação na qual Eliandro Fernandes do Amaral conversa com um interlocutor sobre vacinas para o rebanho bovino.
Na conversa, ele conta ter esquecido de comprar o imunizante para os animais – fato impensável entre criadores de gado que levam a atividade a sério. No diálogo, “Cateto” revelar não saber nem a quantidade de vacinas necessárias.
Os promotores argumentam que até para pessoas leigas em pecuária, é difícil acreditar num produtor rural que não sabe o tamanho do rebanho.
De uma coisa, conforme o trabalho do Gaeco, o investigado entende, de ostentar bens.
Foi descoberta a compra de uma lancha rápida, de veículos de alto valor e pelo menos cinco propriedades rurais. As aquisições somam mais de R$ 10 milhões, entre 2016 e 2022.
Entre os imóveis, está o balneário Ponta Bonita, avaliado em R$ 4,8 milhões.
Uma das fotos de “Cateto” anexada ao processo mostram um homem sem camisa, mas com o pescoço forrado de correntes, supostamente de ouro. Dá para ver um pingente de bom tamanho com imagem de Nossa Senhora, igualmente em metal preciso.
Junto da imagem religiosa, está a indefectível marca estilizada.
A palavra da defesa k1272
A Capivara Criminal localizou a defesa de Eliandro Fernandes do Amaral e pediu posicionamento sobre as novas acusações. O advogado José Roberto Rosa declarou que o processo é “completamente sem sentido”, baseada no ado do cliente.
“Estão apontando uma suposta organização criminosa sem crime meio. Tudo por causa de um grupo de WhatsApp que compartilhava notícias de crimes, etc”.
O criminalista sustenta não haver materialidade de crime algum contra seu cliente. “A acusação se estriba no ado do acusado. Nada mais que isso”, disse.
Estão em curso duas tentativas de colocar “Cateto” em liberdade, um pedido de revogação da prisão preventiva ao juiz de primeiro grau e um habeas corpus impetrado no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). Nenhum havia sido julgado até a conclusão desta edição da Capivara Criminal.