Mulher morre queimada, família aponta feminicídio, mas polícia vê suicídio 441d32
O caso é investigado pela Polícia Civil de Rochedo, onde o crime aconteceu 2x1n6r
Por um mês, Pamela de Oliveira da Silva, de 27 anos, ficou internada na Santa Casa com 90% do corpo queimado. Na segunda-feira, dia 22 de agosto, ela não resistiu aos ferimentos. Sua morte deu início a uma batalha para desvendar o que realmente aconteceu: de um lado, a família diz que a jovem foi vítima de feminicídio. Do outro, a polícia trabalha com a hipótese de suicídio.

Para entender todos os lados dessa história, é preciso voltar no dia 21 de julho. Foi quando Pamela teve o corpo incendiado em Rochedo – cidade a 67 quilômetros de Campo Grande – e precisou ser internada na Santa Casa de Campo Grande, devido à gravidade dos ferimentos.
Na época, a versão que chegou a polícia foi contada pelo marido de Pamela. Toda a família estava em casa naquele dia – ele, a esposa e os dois filhos, uma menina de 10 e um menino de 6 anos – mas ainda assim, a mulher ateou fogo no próprio corpo. A família a viu em chamas e o homem correu para ajudar. Usou um cobertor primeiro, mas só conseguiu apagar o fogo depois de jogar a vítima em uma caixa de água.
A mulher foi socorrida e a família avisada. Foram dias em coma induzido, mas conseguiu se recuperar. Foi para o quarto e lá contou outra versão do crime, a mesma que o pai de Pamela garante ter ouvido da neta.
O outro lado 264x4l
Roberto Martins da Silva, pai de Pamela, ainda procura entender o que aconteceu com a filha e por isso decidiu ir até a Polícia Civil. No dia 26 de julho, um boletim de ocorrência foi registrado na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), em Campo Grande. Na descrição feita pela família, a jovem de 27 anos foi vítima de feminicídio.

Segundo Roberto, os netos presenciaram todo o crime. Pamela e o marido tiveram uma briga e durante a discussão, ele jogou quatro litros de gasolina no quarto. Tudo estava encharcado de combustível, mas a mulher tentou contornar a situação, pediu para os filhos saírem para brincar e ficou na casa.
A briga continuou, os dois entraram em luta. O possível suspeito deu socos e chutes da esposa, até ela cair na cama, quando isso aconteceu, riscou o fósforo e fechou a porta. “Ela falou que tentou sair, mas ele tinha fechado a porta, quando ela saiu, o próprio marido jogou uma coberta, mas não conseguiu apagar o fogo, só depois que ela foi jogada em uma caixa d’água”, afirmou Roberto.
No primeiro momento, a filha de Pamela procurou uma tia e contou o que tinha acontecido. Mas depois, segundo o avó, foi ameaçada de morte pelo pai, caso revelasse a verdade. “Sentou os dois e falou que se contassem, mataria os dois”.
Desesperada com a morte da irmã, a tia das crianças acabou revelando a verdade aos pais, mesmo diante dos pedidos da sobrinha para manter segredo. Dias depois, quando conseguiu falar, a própria vítima acusou o marido. “Ele foi registrar um boletim de ocorrência como se ela tivesse atacado fogo nela e na casa. Isso não aconteceu”.
Ao Primeira Página, Roberto explicou que a filha viveu com o marido por 11 anos, mas nunca foram de fato casados. Por um tempo, eles moraram em uma fazenda, mas conseguiram comprar uma casa em Rochedo e se mudaram para lá. Já estavam no município há 8 anos. “No dia do crime, a minha outra filha foi até a casa dela, percebeu que ela não estava bem, chegou a perguntar, mas a Pâmela já foi falando pra ela ir embora. Depois a minha filha viu ambulância e polícia”.
Diante das informações de que Pamela sofria de problemas psicológicos e teria tentado tirar a própria vida, o pai afirma não acreditar nessa hipótese. “Minha filha tinha problema de saúde, tinha que manter o peso devido a um medicamento, que é manipulado. Todo dia ela me mandava mensagem dizendo que tinha conseguido emagrecer”, lamentou.
“Estamos lutando pela guarda das crianças. O mínimo é ele ser preso. A Justiça precisa ser feita. Eu temo pelo que ele pode fazer ainda. Uma pessoa capaz de fazer isso com a mãe dos filhos, praticamente na frente dos filhos, é capaz de tudo”.
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O que diz a polícia 5r139
Ao contrário do que a família afirma, a principal tese da polícia para o caso é de suicídio. Para a equipe de reportagem do Primeira Página, o delegado Roberto Duarte – titular da Delegacia de Polícia Civil de Rochedo – afirmou que até o momento não há nenhum indício de que Pamela foi assassinada.
Segundo o delegado, ao contrário do que afirma a família, a filha do casal foi ouvida em depoimento especial na DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) e contou que o pai tentou ajudar a mãe. “Ela disse no depoimento que o pai teria tentado salvar a mãe, que usou o cobertor para apagar as chamas e pediu socorro”, explicou Duarte.
Sem provas do crime, não há possibilidade de afastar a guarda dos filhos do suspeito, muito menos decretar sua prisão. “Estamos esperando a conclusão de um laudo para depois ouvir outras testemunhas, que inclusive foram até a Deam”, detalhou. O caso segue em investigação, por enquanto, como suicídio.