Investigação do Gaeco cita insatisfação de "Marcola" com transferências de presos em MS 2a1w4x
A insatisfação com a transferência de integrantes de facção criminosa paulista – que atua dentro e fora dos presídios brasileiros – teria sido a motivação para Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, ordenar atentados contra promotores de justiça de Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. A citação de plano de assassinato contra as autoridades foi descoberto durante as investigações da Operação Courrier, deflagrada na sexta-feira (25).
Realizada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), a operação teve advogados que atuam para a facção como alvos. Os investigados compõem o núcleo conhecido como “Sintonia dos Gravatas”.

O grupo de profissionais do Direito, conforme a representação criminal, à qual o Primeira Página teve o, é responsável por transmitir recados de faccionados presos a outros membros da organização criminosa. São suspeitos também de assumir outra função: istrar o dinheiro e contas bancárias dos criminosos. Entre os “recados”, estão ordens de assassinatos e outros crimes, para os integrantes em liberdade.
A conversa sobre atentados foi descoberta em perícia no celular de dois investigados: o advogado Bruno Ghizzi e o analista judiciário Rodrigo Pereira da Silva Correa, chefe de cartório da 1ª Vara de Execuções Penais de Campo Grande. Segundo o Gaeco, o servidor do poder judiciário recebia vantagens para rear informações sigilosas ao defensor.
Nos diálogos entre Bruno e Rodrigo, foram encontradas mensagens que revelaram quem foi o mandante do “salve” determinado por “Marcola”, o chefe da facção Paulista. Seria Edmar da Silva Santana, conhecido como “Arqueiro”. Em julho do ano ado o faccionado foi condenado a 27 anos de prisão em regime fechado pelos crimes de tráfico internacional de drogas, organização criminosa, uso de documento falso e porte ilegal de arma.
Ele é defendido por duas advogadas, que conforme as apurações, são integrantes da “Sintonia dos Gravatas”, Paula Tatiane Monezzi e Inaiza Herradon Ferreira. Seriam elas as encarregadas de “difundirem” a mensagem aos demais integrantes da facção. Entre a “lista” de vítimas do grupo criminoso está o promotor Thalys Franklyn de Souza, da 36ª Promotoria de Justiça de Campo Grande.
Resort de Luxo 84e58
Inaiza foi presa na sexta-feira. Ela é de Jaraguari, mas acabou detida em um resort na cidade de Olímpia, interior de São Paulo, onde curtia a folga com a família. Agora equipes do Gaeco se preparam para buscar a advogada no estado vizinho.

Nas interceptações telefônicas, foi descoberto que ela mantinha a mesma relação que Ghizzi com Rodrigo Pereira. Pagava por informações privilegiadas sobre os clientes, principalmente informações de transferências dos faccionados para presídios federais. Durante as apurações, chegou a pagar uma viagem para Bonito ao analista.
Atentados 1b2f1
As ameaças de morte a autoridades não ficaram restritas aos promotores de Goiás e Mato Grosso do Sul. No celular de Rodrigo foram encontrados ainda “salves” para faccionados assem o juiz Lourenço Migliorini Fonseca Ribeiro, da Vara de Execuções Criminais de Uberlândia/MG, juíza Andrea Cristina de Miranda Costa e da promotora de justiça Cythia Maria dos Santos Silva Jorge, que atuam na 2ª Vara de Tóxicos de Belo Horizonte/ MG.

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Chefe dos “Gravatas” 485144
Segundo as investigações, outro cliente de Inaiza que comandaria a “Sintonia dos Gravatas”. Quando preso na Penitenciária Federal em Brasília (Distrito Federal) o faccionado Esdras Augusto do Nascimento Júnior, já condenado por roubar uma joalheria em Rio Brilhante, teria ficado próximo a Marcola. Quando foi transferido à Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira foi encarregado de retransmitir as ordens da facção para os profissionais.
O grupo também receberia ordens de Chistian Thomas Vieira, o Tio Don, um dos principais nomes da facção em Mato Grosso do Sul.
Dentro da facção, a atuação dos “Gravatas” é dividia em dois grupos: “advogado de processo” e “advogado de recado”. O último exige “honorários específicos”, que podem envolver a entrega de recados as famílias dos presos até a comunicação de ordens e “salves” entre os integrantes da facção. Várias mensagens e áudios comprovando a função foram interceptadas na operação.
Para ajudar os clientes, os defensores recorriam a uma rede de influência no sistema judiciário. Rodrigo era um deles, mas outros servidores públicos agiam ilegalmente em favor da facção.
Dentro do sistema penitenciário, três policiais penais foram identificados como “comparsas” dos advogados. Um deles é Jonathas Wilson Moraes Candido e outros colegas recebiam dos advogados para conseguirem transferências e alterarem registro de presos. Ele foi detido na sexta-feira, por força de um mandado de prisão preventiva expedido pela justiça.
Pelo menos dois funcionários da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul são investigados por ajudar Ghizzi a consultar dados sigilosos nos sistemas policiais. Jesuel Marques Ramires Júnior, assessor jurídico na Defensoria Pública e Maycoln Campidelli Oliveira – que teria feito consultas para o advogado no Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul.
Todos os envolvidos, incluindo vários outros advogados, tiveram a prisão pedida pelo Gaeco, apenas nove tiveram a preventiva decretada pela justiça. São eles: Bruno Ghizii, Chistian Thomas Vieira, Edimar da Silva Santana, Inaiza Herradon Ferreira, Jonathas Wilson Moraes Candido, Paula Tatiane Monezzi, Rodrigo Pereira da Silva Correa, Douglas Silva Fonseca, Kamila Mendes de Sousa.
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Mato Grosso do Sul constituiu comissão para acompanhar as apurações. A Defensoria Pública e a Agepen (Agência de istração do Sistema Penitenciário) também informaram que estão colaborando. O Judiciário ainda não se manifestou sobre o funcionário preso.