Capivara Criminal 232h40

Facções impõem sangria de vidas e tiram bilhões da economia de MS 5a124u

Prejuízo para o setor privado foi calculado em estudo, e pode chegar a 4,2% das riquezas produzidas 5l3g1

Capitaneado pelas facções paridas nos ambientes de cárcere – onde bandidos deveriam reaprender a viver em sociedade sem cometer ilícitos e não a escalar a violência – o crime organizado é sumidouro de dinheiro também no setor privado do Brasil.

A sangria, segundo estudo de especialistas, fica entre 1,8% e 4,2% do PIB (Produto Interno Bruno), sigla referente à contagem das riquezas produzidas por municípios, estados e país.

Dinheiro e armas
Dinheiro e pistola apreendidos durante investigação em MS (Foto: Divulgação)

Na realidade sul-mato-grossense, considerando a expectativa de resultado do PIB de 2023 – de R$ 142 bilhões – a bagatela fica entre R$ 2,5 bilhões e R$ 5,9 bilhões.

Ladeadas ao orçamento que o governo de Mato Grosso do Sul teve a seu dispor no ano ado, as perdas debitadas às organizações clandestinas equivalem a 26,6% do PIB. É de impressionar: quase um terço.

Com o montante escoado para o ralo da marginalidade, daria para sustentar a istração de Campo Grande, com seus quase 900 mil habitantes. Na real, ainda ia sobrar quase meio bilhão, considerando a lei orçamentária da capital de 2023, fechada em R$ 5,4 bilhões em despesas e investimentos do município.

Aplicada à população do estado, a soma de R$ 5,9 bilhões equivaleria à perda de quase mil reais/ano por habitante sul-mato-grossense., para os efeitos da guerra entre facções e da atuação delas em inúmeros setores, do tráfico internacional de drogas e armas, aos assaltos a bancos, corrupção de agentes públicos, justiçamento de inimigos e muito mais.

“No caso do PCC, maior facção criminosa do País, parte relevante da expansão de sua estrutura organizacional resultou do envolvimento de seus integrantes em ações criminosas de grande aporte material (financeiro e logístico), como roubo a bancos e a empresas de transporte de valores. Nessa linha, o tráfico de drogas constituiu-se como forma de circulação do capital da facção num processo posterior e, atualmente, caracterizase como um dos carros chefes na manutenção da hegemonia da organização no cenário criminal nacional e transnacional, tendo em vista que o PCC exporta drogas para outros continentes.”

“Segurança Pública e Crime Organizado no Brasil”

Dos 23 estados onde o PCC atua, Mato Grosso do Sul está no “top 3” em domíninio da massa carcerária e nas ruas, junto com São Paulo e Paraná. A posição geográfica explica o quanto a região é essencial para as ações ilegais da máfia.

De onde vem a conta 28g25

O cálculo apresentado acima pela Capivara Criminal é baseado em levantamentos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), do Atlas da Violência, publicação do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e do FBSP (Fórum Brasileira de Segurança Pública).

Para onde vão os valores? 2p483

  • Custos diretos, como seguros e reforço da segurança privada
  • Custos indiretos: redução de anos da população jovem derivada dos homicídios e consequente redução da PEA (população economicamente ativa.

A origem da análise 25q2o

“Segurança Pública e Crime Organizado” é o nome do estudo que é a fonte das observações descritas nesta edição da Capivara Criminal e aplicadas à realidade sul-mato-grossense.

O documento foi divulgado recentemente, sob do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e da organização Esfera Brasil, uma think tank, denominação dada às instituições que produzem pesquisas, análises e recomendações com o objetivo de contribuir para as políticas públicas e privadas.

Em resumo, o paper aborda o domínio das máfias criadas nos presídios nas atividades ilegais no Brasil.

“Estudo recente da Secretaria de Políticas Penais do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senappen), de 2023, identificou que existem 72 diferentes facções nascidas nas prisões brasileiras, sendo duas delas com atuação transnacional, com características de verdadeiras holdings do crime. São elas o Comando Vermelho (CV), nascido no final da década de 1970, nas prisões do Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), que teve origem em 1993, nas prisões paulistas e cujas primeiras lideranças eram notórios ladrões de banco, modalidade criminosa bastante comum à época e que, mais recentemente, foi controlada.”

“Segurança Pública e Crime Organizado no Brasil”

Há um mapa no documento indicando quais grupos ilegais atuam nos estados.

Em Mato Grosso do Sul, são seis:

  • PCC (Primeiro Comando da Capital), surgida em São Paulo
  • CV (Comando Vermelho), originada no Rio de Janeiro
  • Sindicato do Crime, surgida no Rio Grande do Norte
  • BDM (Bonde do Maluco), da Bahia
  • Os Mano, do Rio Grando do Sul
  • PGC (Primeiro Grupo Catarinense), de Santa Catarina.
Mapa sobre as facções no Brasil
Mapa ilustra a atuação das facções criminosas no Brasil (Foto: Estudo FPBSP/ Esfera Brasil)

Explosão da violência 3q292x

Assim como outras análises sobre segurança já assinalaram, o texto construído pelo FBSP e pela Esfera Brasil traduz episódio ocorrido na linha de fronteira com o Paraguai, em Mato Grosso do Sul, como marco histórico de recrudescimento da carnificina entre as máfias.

Diz o material que o recorde de mortes violentas intencionais no Brasil, em 2017, esteve diretamente associado a amplo conflito entre o PCC o CV, por rotas transnacionais e interestaduais do narcotráfico.

“Esse conflito teve início em 2016, com o assassinato, pelo PCC, de um atacadista de drogas em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, que abastecia as duas facções. A morte de Jorge Rafaat fez com o PCC asse a controlar a rota de Ponta Porã, que responderia, segundo relatos de investigadores que atuam na área, por mais de 60% de toda cocaína que entra no País.”

“Segurança Pública e Crime Organizado no Brasil”

Rafaat, que chegou a carregar o slogan de “Rei da Fronteira”, foi fuzilado em Pedro Juan Caballero, cidade gêmea de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, no dia 16 de junho de 2016. Morreu crivado de disparos de uma .50, arma de guerra.

A cena da morte, gravada por câmeras de vigilância, é um clássico digno de séries como Narcos, uma das mais populares no gênero true crime.

Só que é pura vida real, com impacto longevo e amplo na dinâmica do crime organizado.

Veja de novo: 676e4k

Atentado em que Jorge Rafaat foi morto

“A partir desse episódio, a guerra entre PCC e CV se nacionalizou e reverberou em diversos estados brasileiros, resultando em rebeliões e assassinatos bárbaros, com decapitações em presídios no Norte e no Nordeste e em uma guerra sangrenta nas ruas”.

Naquele ano, cita o texto, o Brasil registrou mais de 61 mil assassinatos.

Naquele ano, foram 565 assassinatos em Mato Grosso do Sul.

Naquele 2017, foram 313 homicídios na faixa de fronteira em MS, 61% do total no estado.

Mortes na faixa de fronteira em MS
Mortes na faixa de fronteira em MS (Fonte: Sigo)

Em 2024, até o momento, Mato Grosso do Sul contabiliza 189 assassinatos, conforme a consulta da coluna às estatísticas oficiais. Do total, 86 ocorreram nos municípios fronteiriços, representando 45%.

Brasil, um país de muitos assassinatos 6v5a1b

Embora nos anos seguintes a 2017 tenha se verificado reduções na mortalidade ligada à violência, o estudo aponta que o Brasil segue chamando a atenção no cenário mundial pelo alto índice de assassinatos.

“Os números disponíveis dão um retrato da gravidade do quadro: em 2021, último ano com dados internacionais consolidados e atualizados, o Brasil sozinho foi responsável por aproximadamente 10% de todos os homicídios do planeta2, embora tenha apenas cerca de 3% do total de habitantes da Terra”.

“Segurança Pública e Crime Organizado no Brasil”

“Mais do que isso, o País está inserido em uma região composta por vários outros países que vivem quadros agudos de violência letal tão intensos quanto o nosso, a exemplo de México, Venezuela, Colômbia ou Equador”, pondera o material.

São 38 páginas de documento, que analisa diversos aspectos dos efeitos do crime organizado. As ideias am pela internacionalização do PCC, via acordos com máfias estrangeiras, e pela modernização dos crimes, a partir das novas tecnologias, como os criptoativos. Confira o documento abaixo:


Ao final do texto, FBSP e Esfera Brasil fazem oito sugestões para o enfrentamento do quadro analisado.

Confira quais são: 2p6bh

1. Criação de um Comitê Interministerial de Combate ao Crime Organizado composto por integrantes do Ministério da Justiça, da Fazenda, da Casa Civil, da Controladoria-Geral da União e da Advocacia-Geral da União, para definir plano de atuação no setor em prazo definido, e fixação de operações conjuntas em escala nacional, com a possibilidade de agregar autoridades estaduais e outros órgãos em atividades específicas;

2.Aprovar, no Congresso Nacional, o projeto da Lei Geral de Proteção de Dados de Interesse da Segurança Pública, para organizar e regular a produção, gestão e compartilhamento de dados e evitar insegurança jurídica que afete investigações
criminais;

3.Regulamentar a Lei 14.478/2022, que dispõe sobre a prestação de serviços de ativos virtuais, no âmbito do Banco Central, e a Lei 14.790/2023, que dispõe sobre as apostas de quota fixa, no âmbito do Ministério da Fazenda, para organizar os setores, definir regras de compliance e de comunicação de atividades suspeitas de lavagem de dinheiro;

4.Ampliar e fortalecer o Coaf, destinando parte dos recursos obtidos com a tributação e multas aplicadas no setor de ativos virtuais e apostas de quota fixa ao órgão, para incremento
em pessoal e em tecnologia;

5.Promover alterações constitucionais e legais para racionalizar as bases de dados referentes à segurança pública apresentados pelas unidades da federação, a fim de garantir informações de maior qualidade, a comparação entre a implementação de políticas nas diferentes UFs e o ree de verbas segundo padrões objetivos;

6.Elaborar estudos e diagnósticos sobre o número do efetivo policial em cada UF, sua alocação real, além de utilizar ferramentas de tecnologia para identificar áreas vulneráveis e focar a atuação ostensiva nos locais de maior criminalidade;

7.Estruturar operações de crédito, com apoio de instituições públicas e privadas, para empreendimentos comerciais e prestação de serviços nas áreas retomadas do crime organizado;

8.A Esfera Brasil promoverá debates com autoridades públicas, empresários e representantes da sociedade civil e apresentará estudos e relatórios para incentivar e colaborar na tramitação e implementação das propostas mencionadas

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Capivara Criminal, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (1) 1j10k

  • Brigida Aparecida da Silva Godoy

    Por isso temos que cuidar e amar muito nossas “crianças”,pois o amor é a chave para diminuir a violência,ter religião,ter fé,ter princípios principalmente em casa,amor, carinho, muito diálogo e não diga logo,

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