Contrabando de cigarros em MS: a cortina de fumaça do crime organizado 4f362j

Pesquisa aponta que Mato Grosso do Sul deixou de arrecadar R$ 2 bilhões nos últimos 5 anos em razão do contrabando de cigarros 156t5k

“O contrabando é crime fiscal, mas arrasta consigo um rastro de sangue, porque é fonte primária de uma rede criminosa que pratica diversos outros delitos, inclusive crimes violentos”.

Coronel da PM, Wagner Ferreira, secretário-Executivo de Segurança Pública da Sejusp (MS).
Trabalhador fuma cigarro em Campo Grande (Foto: Maressa Mendonça)
Trabalhador fuma cigarro durante intervalo do expediente em Campo Grande (Foto: Maressa Mendonça)

Nos últimos 5 anos, Mato Grosso do Sul perdeu R$ 2 bilhões em arrecadação de impostos em razão do contrabando de cigarros. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipec, com dados de 2022, e divulgada pelo Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade.

Além dos prejuízos causados ao Estado, a Segurança Pública enfatiza que o dinheiro do contrabando enriquece organizações criminosas que também praticam outros crimes.

Os números colocam o Estado na liderança deste mercado ilegal em que a gestão e os maços de dinheiro ficam a cargo do crime organizado, ocasionando consequências intragáveis para a população. Em se tratando de perda de arrecadação, o Fórum faz o cálculo com base no volume de cigarros contrabandeado apreendidos e o volume de cigarro contrabandeados consumidos pela população, conforme as pesquisas.

Apreensão de carga de cigarros contrabandeados feita pelo DOF (Foto: Divulgação)
Apreensão de carga de cigarros contrabandeados feita pelo DOF (Foto: Divulgação)

“O contrabando alimenta toda uma rede criminosa, levando à ocorrência de outros pequenos crimes para a sua execução final. Por exemplo, veículos furtados ou roubados em diversos estados do Brasil são utilizados no transporte ilegal desses produtos. Aproximadamente 50% dos veículos apreendidos em Mato Grosso do Sul com cigarros contrabandeados são veículos que foram roubados ou furtados, ou têm pendências judiciais e istrativas”.

Coronel Wagner Ferreira

As rotas 6w6i6e

Esses veículos carregados com contrabando seguem rotas conhecidas da polícia: a faixa de fronteira. Segundo o secretário, a localização geográfica de Mato Grosso do Sul, que faz fronteira com o Paraguai e a Bolívia, facilita a ação dos criminosos porque liga um dos principais produtores da América Latina (Paraguai) aos grandes centros urbanos, consumidores do produto.

No mapa acima é possível ter noção da extensão da faixa de fronteira no Estado. A Segurança Pública entende que 44 dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul fazem parte dela. Para combater a criminalidade nesse espaço existem departamentos específicos, um deles é o DOF.

O Departamento de Operações de Fronteira, ligado a Polícia Militar, surgiu em 1987 e já tinha como um dos focos o combate ao contrabando. À época, de soja e hoje de cigarros. A luta contra o narcotráfico, roubos de cargas e veículos também fazem parte da lista.

Só do dia 1º de janeiro ao dia 31 de agosto deste ano, a unidade apreendeu 324.323 pacotes de cigarros, 56 milhões de quilos de maconha e outros 28 mil quilos de cocaína.

dados DOF

Dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) apontam que das 71 ocorrências de contrabando registradas neste ano, 44 ocorreram na faixa de fronteira.

O atual chefe da unidade, coronel Everson Rozeni, confirma que o contrabando é ligado a outras práticas criminosas, incluindo também falsificação de documentos, associação para o crime e até homicídios.

“Envolve uma estrutura logística grande, tanto de transporte quanto de rede de batedores, de olheiros, de mateiros e até de agentes públicos que possam estar envolvidos também fazendo a facilitação”, comenta Rozeni.

Máfia dos Cigarreiros 1u275a

Uma das amostras da extensão desta rede veio à tona em 2018, quando equipes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) fizeram uma operação para investigar policiais do Estado que facilitavam a entrada de veículos com cigarros contrabandeados mediante pagamento de propina. Diversos agentes foram condenados e expulsos da corporação após a confirmação das denúncias.

Os golpes sofridos pelas organizações, seja pelos prejuízos resultantes das apreensões ou por operações como esta do Gaeco, motivam adaptações. O coronel cita, por exemplo, a utilização de barcos por parte dos criminosos para carregar mercadorias contrabandeadas, mas reforça que o serviço de inteligência está atento a essas mudanças. Confira o áudio abaixo:

O comandante da Polícia Militar Rodoviária, coronel Maxuel Antunes, comenta ainda da utlização de estradas vicinais por parte dos criminosos. “Os contrabandistas aproveitam estas rotas para desviar das Bases da PMR e pontos de Bloqueio Policial”, diz.

Segundo ele, os produtos ilegais que am pelas rodovias do Estado têm como destino os grandes centros consumidores de drogas e produtos contrabandeados ( São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Paraná).

A orientação dele é que a população não incentive esse mercado ilegal.

Fumante (Foto: Maressa Mendonça)
Fumante (Foto: Maressa Mendonça)

“Primeiro é não consumir estes produtos que podem ser nocivos à saúde da população devido a forma como o tabaco é produzido. Segundo é denunciar via 190 qualquer informação que tenha ciência de contrabando de cigarros”, diz.

Coronel Maxuel Antunes, comandante da PMR.

Além da segurança 5o2r69

O cirurgião oncológico da Unimed Campo Grande, Cezar Augusto Vendas Galhardo, chama atenção para os malefícios desses produtos.

“Nós sabemos que no cigarro possuem mais de 4 mil substâncias tóxicas, e isso o cigarro que é regulamentado no Brasil e que é regulamentado pelas agências como a Anvisa e a Vigilância Sanitária. Os cigarros contrabandeados são um perigo ainda maior, porque nós não temos um órgão fiscalizatório”.

Cezar Augusto Vendas Galhardo, cirurgião oncológico.

Mas a questão dos cigarros, especialmente dos contrabandeados, vai além da Segurança Pública e da Saúde. É uma questão que envolve também tributação. Isto porque um dos fatores que contribuem para o consumo de cigarros de origem paraguaia é o valor, bem menor dos que os produzidos no Brasil, regulamentados pela Anvisa, mas sujeitos aos impostos.

No Brasil, os impostos sobre o produto variam entre 70% e 90%, dependendo do Estado. Já no Paraguai, o cigarro é taxado em apenas 13% — uma grande vantagem competitiva para os contrabandistas.

O advogado Edson Vismona, presidente do FN (Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade), fala sobre o assunto. Confira o vídeo abaixo:

“É importante que sejam tomadas medidas que impactem a demanda do cigarro contrabandeado e não apenas medidas que se restrinjam ao combate da oferta do produto ilegal. Para isso, a questão tributária é fundamental e deve ser colocada em discussão”.

Edson Vismona

Questionado sobre a possibilidade de um possível barateamento do produto incentivar o consumo e, consequentemente, sobrecarregar o SUS (Sistema Único de Saúde) em razão das doenças causadas pelo tabagismo ele afirma que isto não deve ocorrer. “Essa lógica não existe no Brasil porque quando aumenta o tributo aumenta o preço do produto legal, mas o ilegal não paga imposto”, diz.

Em se tratando dos investimentos que poderiam ser feitos com esta arrecadação, o coronel Wagner completa. “O orçamento anual da Segurança Pública em MS é de aproximadamente 2,5 bilhões. Então calcula o impacto desse investimento se fosse aplicado em segurança”, diz.

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