Chefe dos tatus de túnel para fuga da PCE é ex- condenado a366e
Contratado como o responsável por “” uma empreitada ambiciosa, mas de teor completamente marginal, o homem apontado como engenheiro do grupo que tentava fugir por um túnel da PCE (Penitenciária Central do Estado), em Cuiabá, já era conhecido do Judiciário. Anderson Ramos da Cruz, de 36 anos, cumpriu pena por condenação relacionada a posse de armamento irregular.

De acordo com a investigação jornalística da Capivara Criminal, Anderson pagou esse débito com a Justiça até novembro de 2018, quando foi atestado o cumprimento da reprimenda. A ação correu na 2ª Vara Criminal de Rondonópolis, terra onde Anderson nasceu.
“Considerando que a pena imposta ao condenado foi de 01 ano de reclusão, JULGO EXTINTA A PUNIBILIDADE de ANDERSON RAMOS DA CRUZ, pelo cumprimento integral, nos termos do art. 66, inciso II da Lei 7.210/84. Informo, ainda, que a r. sentença transitou em julgado para a acusação em 30/04/2018, para a defesa em 20/04/2018 e para o(a) acusado(a) em 08/11/2018”, dizia o despacho no qual o condenado é declarado como alguém já sem contas a pagar em relação a esses autos.
Nessa época, chama a atenção o fato de Anderson informar à Justiça ser construtor e não engenheiro civil, como agora é identificado.
Sete anos depois da infração penal, datada de 2015, Anderson Ramos Cruz está de volta à condição de envolvido com a criminalidade e de forma muito mais gravosa. As acusações agora são de participação em plano de fuga em massa de presos da prisão onde estão bandidos dos mais perigosos do Mato Grosso.
É na PCE a “hospedagem” de Sandro Louco, apelido do detento Sandro da Silva Rabelo – com mais de 200 anos de punição a cumprir. Apelidado também de Billy, ele é considerado fundador e liderança negativa máxima no estado da facção criminosa CV (Comando Vermelho), a mais presente na massa carcerária mato-grossense.
Não há, por ora, informação de participação de Sandro no intento relacionado à escavação do túnel para fuga da penitenciária.
Mas existe, de outro lado, a convicção das autoridades envolvidas na apuração de presença de faccionados, até pelo domínio da máfia surgida no Rio de Janeiro entre os internos da PCE. Algo grande desse tipo, revelam fontes da área, não sairia nem da primeira conversa sem o aval dos comandantes da irmandade mafiosa. Ademais, precisava de investimento alto.
Toda a rede de implicações faz parte do escopo investigatório da operação “Armadillo” (tatu em espanhol).
De acordo com a descrição das ações feitas já divulgadas, a presidente da Afar (Associação dos Familiares e Amigos de Recuperandos) de Rondonópolis, Luiza Vieira da Costa, de 27 anos, tem ligação com os chefes da tentativa de fuga em massa. A casa de apoio esteve entre os endereços vasculhados pelos policiais no dia 25 de janeiro.
Chefia dos tatus 2b52b
Anderson Ramos da Cruz, pelas apurações, era o chefe dos “tatus”, apelido dos homens aos quais é confiada a tarefa de escavar túneis. Para a estrutura funcionar, havia elementos de engenharia profissional, como escoras e iluminação.
Para os operários sobreviverem tão longe das origens, foi montado um QG, com alimentos e tudo o mais.
Em setembro do ano ado, a construção subterrânea, saindo de uma casa vizinha ao presídio, foi descoberta. Doze “tatus”, entre eles três adolescentes, foram presos no lugar.

Eram oriundos do Nordeste, do estado do Piauí. Haviam cavoucado em torno de 40 metros, de um total próximo de 200 metros. Estavam, portanto, a 80% de seu objetivo.
No curso do trabalho policial, foram identificadas mais oito pessoas participantes do plano de escape dos detentos.
Até agora são vinte, e podem haver mais.
Foram expedidos pelo Poder Judiciário de Mato Grosso 12 mandados de busca e apreensão domiciliares e uma ordem de sequestro de imóvel para a fase mais recente da operação. O bem agora em posse do Poder Público é a residência no bairro Industriários, onde o buraco rumo à penitenciária estava em evolução até setembro de 2022.
Entre as irregularidades surgidas na perseguição aos mandantes do crime, está uma simulação de venda dessa casa, para dissimular a intenção ilegal. A proprietária fugiu.
Os mandados deferidos foram cumpridos em Salvador (BA), em Oreiras (PI), em Cuiabá, e em Rondonópolis, onde Anderson Ramos da Cruz vive.
No perfil da rede social Linkedin, focado em contatos profissionais, Anderson informa estar procurando trabalho como engenheiro civil. A reportagem tentou localizar comprovações de sua formação superior, sem êxito.
São sigilosas as peças da operação, que conseguiu, nesta semana, a manutenção da prisão do engenheiro, uma das peças importantes para configurar as responsabilidades pela tentativa de colocar em liberdade pessoas encarceradas na maior unidade prisional de Mato Grosso.
Além das equipes da GCCO (Gerência de Combate ao Crime Organizado), integraram a operação Armadillo equipes da Gerência de Operações Especiais, da Delegacia Regional de Rondonópolis, da Polícia Civil da Bahia e da Delegacia do município de Oeiras, no Piauí.
Tudo que foi recolhido de provas está em análise, para encerramento do inquérito e envio das conclusões ao Ministério Público de Mato Grosso, a quem cabe fazer a denúncia dos indiciados ao Judiciário.
Está em apuração, para todos os alvos o crime de promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa. A punição prevista na lei é de até oito anos de reclusão.