Caso Vanessa: relatório detalha "dias de tormentos" antes de feminicídio 5z1954
Quebra do sigilo dos equipamentos eletrônicos de Caio Nascimento revelou histórico de perseguição e violência psicológica m4q2s
A quebra do sigilo dos equipamentos eletrônicos de Caio Nascimento revelou um histórico de perseguição e violência psicológica contra a jornalista Vanessa Ricarte. De acordo com relatório do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), a vítima de feminicídio ou por “tormentosos últimos dias de vida”.

Desde, pelo menos, o início de 2025, Caio já demonstrava comportamentos invasivos, perturbando a liberdade e a privacidade de Vanessa tanto no ambiente físico quanto virtual. Além de monitorar sua movimentação, o agressor chegou a restringir sua liberdade de locomoção.
A investigação identificou, a partir de dados do WhatsApp, que Caio obrigava Vanessa a compartilhar sua localização em tempo real, inclusive durante o expediente de trabalho. Também utilizava recursos tecnológicos para rastrear os aparelhos da vítima — como celular, computador e relógio inteligente.
Em 31 de janeiro, por exemplo, Vanessa estava em um evento profissional nas proximidades do Shopping Campo Grande quando Caio começou a monitorá-la.

Ao identificar que o aplicativo indicava a presença dela no shopping, ele iniciou uma série de mensagens, áudios e ligações exigindo explicações. Mesmo após Vanessa enviar fotos e justificativas, Caio minimizou o próprio comportamento controlador com áudios de tom despreocupado.

No dia 7 de fevereiro, um novo episódio: Caio constatou que os dispositivos de Vanessa não mostravam a localização em tempo real. Ele então ou a cobrar a atualização dos dados, que foram enviados pela jornalista em forma de prints de tela.
Na ocasião, Vanessa ainda explicou que tentava se concentrar no trabalho. Diante da ausência de respostas imediatas, Caio ativou remotamente alertas sonoros nos dispositivos da vítima.
Em outra ocasião, ao questionar a criação de uma nova conta de e-mail, Vanessa explicou que apenas ara o computador da empresa. Ela ainda acusou o ex-noivo de ter alterado sua senha.
Mesmo após a jornalista encerrar o expediente e informar que iria para casa, Caio continuou realizando chamadas de vídeo para verificar se ela realmente estava no caminho de volta.
Segundo o Gaeco, no final de fevereiro, Vanessa já se sentia compelida a manter Caio constantemente informado sobre sua localização, como mostra uma das ocasiões em que ela compartilha sua posição ao chegar ao trabalho presencialmente.

Monitoramento digital e controle absoluto 3938u
Além da perseguição física e emocional, Caio também monitorava contas de e-mail, redes sociais e arquivos salvos da vítima, chegando a alterar senhas com o objetivo de exercer controle total.
Ele fiscalizava interações profissionais e pessoais de Vanessa, cobrando explicações e exigindo que ela retornasse para casa sempre que desaprovava algum contato.
Em 24 de janeiro, Caio exigiu explicações sobre solicitações de amizade recebidas por Vanessa em uma rede social.
A jornalista respondeu que desconhecia a plataforma, o que, para os investigadores, comprova a vigilância digital.

Isolamento social 6w704o
No dia 5 de fevereiro, mensagens revelam a tentativa de isolar Vanessa de colegas de trabalho. Caio orientou que ela limitasse os assuntos tratados com terceiros, proibindo conversas sobre temas como viagens, família, relacionamento e planos pessoais.
Dois dias depois, ele afirmou que revisaria todos os grupos da vítima em aplicativos de mensagem, reforçando o controle sobre suas interações sociais.

Em 11 de fevereiro, véspera do feminicídio, Vanessa removeu os vínculos de Caio com suas contas e alterou a senha do perfil no Instagram. O Gaeco concluiu que, entre os dias 23 de janeiro e 12 de fevereiro de 2025, Vanessa foi perseguida de maneira implacável.
Ciclo de violência 6675a
As mensagens trocadas entre o casal demonstram um padrão clássico do ciclo de violência. Caio alternava episódios de agressividade com pedidos de desculpa e demonstrações de afeto.
Após ofensas ou ameaças, especialmente quando Vanessa demorava para responder ou não compartilhava a localização, ele tentava se redimir com elogios e promessas de mudança.
O Gaeco destacou que, além dos crimes de perseguição e violação de intimidade, Caio cometeu violência psicológica — submetendo Vanessa a constrangimentos, humilhações e manipulações que comprometeram seu bem-estar emocional e liberdade de ir e vir.
Caso Vanessa 724d4v
Vanessa foi assassinada no dia 12 de fevereiro de 2025, após registrar uma queixa contra o ex-noivo na Delegacia de Atendimento à Mulher. A jornalista foi atacada com três facadas ao chegar em casa, chegou a ser socorrida e levada à Santa Casa de Campo Grande, mas não resistiu.
Em 19 de março, a Justiça aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), e Caio César será julgado por júri popular pelo feminicídio. O MP também denunciou o acusado por cárcere privado, violência psicológica e tentativa de homicídio contra o amigo de Vanessa, que presenciou o ataque. No entanto, o juiz Carlos Alberto de Almeida Garcete rejeitou esses três últimos pontos, alegando falta de embasamento suficiente na denúncia.
Denuncie 53e2p
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