Basta! 'Campanha sobre violência doméstica tem que ser feita para homens', defende Luiza Brunet 3i453a
Sul-mato-grossense Luiza Brunet é atriz, modelo, empresária e ativista dos direitos das mulheres 33334
A partir desta segunda-feira (7), o Primeira Página inicia uma campanha, um apelo a toda sociedade: basta de violência contra a mulher! E para reforçar esse discurso, e mostrar para todos o quanto o comportamento dos homens agressivos exige punição, vamos falar sobre o tema. Em 2022, já são 10 mulheres assassinadas em Mato Grosso do Sul em contexto de violência de gênero, ou seja, feminicídio. Basta!
Basta desse tipo de violência. Não podemos mais aceitar que parceiros, filhos, e até desconhecidos completos se sintam no direito de sobrepujar uma mulher, ao ponto de tirar dela o direito de viver.
Não podemos aceitar que esses números não tenham freio e infelizmente façam do Brasil um dos país campeões em crimes contra as mulheres.

“A campanha sobre a violência doméstica tem que ser feita para os homens, não para as mulheres. Porque é assim: ‘mulher se proteja do seu marido. Se estiver apanhando, coloque um sinal vermelho. Não. Homem não bata na sua mulher porque você vai ser enquadrado dentro de um protocolo que você não vai gostar”.
Luiza Brunet

A declaração da ativista, atriz e empresária Luiza Brunet, de 59 anos, à reportagem do Primeira Página tem relação com os casos de feminicídio registrados recentemente em Mato Grosso do Sul, estado onde ela nasceu.
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De janeiro até aqui, 10 mulheres foram assassinadas em Campo Grande e no interior de MS. São mortes relacionadas ao menosprezo pelo gênero feminino em que os suspeitos são maridos, companheiros, namorados ou ex.
Os casos são brutais e trazem à tona a complexidade do combate à violência doméstica. Para Luiza Brunet, a luta para evitar que mulheres sejam agredidas física ou psicologicamente envolvem desde a educação até maiores punições para os agressores.
“Acho incompreensível qualquer que seja a razão para um homem matar uma mulher. Não tem explicação”.
Luiza Brunet
Pode não ter explicação, mas eles tentam. Tamerson Ribeiro Lima de Souza, de 31 anos, por exemplo, alegou ter matado a mulher Natalin Nara Garcia de Freitas Maia, 22, com um golpe de mata-leão porque, dentre outras coisas, ela o desafiava, “dizia que eu não era homem”, comentou em seu primeiro depoimento à polícia.
Adailton Freixeira da Silva, de 46 anos, justificou ter sido traído por Francielle Guimarães Alcântara, 36, a mulher que torturou e matou na frente do filho de 1 ano e 8 meses, e alegou que tinha medo de ser abandonado.
Tem que existir punições mais sérias. O homem só é preso quase depois de matar, tem que ser antes”
Luiza Brunet
A empresária chama atenção também para o fato de as mulheres não serem as únicas vítimas dos agressores, mas a família como um todo. “Crianças também acompanham, apanham e isso causa danos irreversíveis”, diz.
Para se ter ideia, em dois anos, 166 filhos perderam suas mães para o feminicídio em Mato Grosso do Sul. Não são apenas números, são vidas afetadas por um comportamento inissível e que nem sempre começa com a agressão física.

Os primeiros sinais 702w1z
Quando se trata de violêcia contra à mulher, a agressão física é apenas parte de um conjunto de ações que os agressores usam para sujeitar suas vítimas. Muitas mulheres também estão sujeitas à agressões psicológicas, morais, sexuais e patrimoniais. E nesse contexto não dá para comparar o que é mais leve ou severo. Tudo é violência.
“Brigar muito já é indício de relacionamento abusivo. A gente tem que saber. Não é só matar, é uma pirâmide profunda que precisa ser avaliada”.
Luiza Brunet
Nessa “pirâmide” citada por Luiza, ciúmes de roupas, controle do dinheiro da mulher, afastamento do convívio familiar são sinais que devem ser considerados. “No primeiro levantar de voz, a mulher já tem que fazer a denúncia. Antes do primeiro tapa”, enfatiza a empresária.
Luiza Brunet veio de um lar em que havia violência doméstica e também foi vítima. Denunciou à época, mas não foi fácil. Pouco depois se tornou ativista dos direitos das mulheres.
Ela defende a educação como forma de homens e meninos entenderem que mulheres precisam e merecem ser respeitadas. Que não existe um gênero superior. Também afirma que as punições precisam ser mais severas para os infratores.

“A violência doméstica é muito democrática. Qualquer mulher pode ser vítima”
Luiza Brunet
Apesar de qualquer uma poder ser vítima, nem todas têm coragem de denunciar. Seja por medo, vergonha, ou até dependência financeira é preciso ter forças para romper o ciclo da violência.
Em se tratando especificamente de finanças, Luiza Brunet ressalta a importância de a mulher ser independente.
Isso é um aporte para você ter uma vida de qualidade e você escolher, inclusive, com quem você quer compartilhar sua vida afetiva, escolher se você quer ter filho ou não. Você vai ter escolhas mais assertivas. Isso não significa que no meio não possa dar errado, mas você vai ter mais oportunidade de escolher.
Luiza Brunet
Escolher denunciar 4m6g6
Para as que estão sendo vítimas a escolha assertiva é denunciar e se afastar do agressor. Luiza ressalta que o Estado conta com diversos projetos de acolhimento às mulheres e de combate à esse tipo de crime.
A Casa da Mulher Brasileira de Campo Grande, por exemplo, foi a primeira a ser inaugurada no país.

“Tenho orgulho de ser de Mato Grosso do Sul porque tem vários trabalhos [ de combate à violência doméstica] ‘startados’aí que deram muito certo”, finalizou.
Luiza Brunet