A fronteira na mira do Exército: conheça histórias de quem se doa para proteger vidas 271mu
O Exército abriu as portas para a imprensa e para autoridades conhecerem as atividades desenvolvidas e quem são as pessoas que atuam nessas áreas. 3w6p4q
A região de fronteira entre o Brasil e a Bolívia está entre os principais desafios das forças de segurança pública. Só em Mato Grosso, são 917 quilômetros de fronteira seca e rios que viraram rotas alternativas para os criminosos. As “cabriteiras”, como são chamadas as estradas vicinais com menor fluxo de veículos, são usadas por traficantes para trazer a droga produzida na Bolívia sem ter que ar pelas barreiras policiais, o que exige monitoramento e estratégica para combater esses crimes.
Segundo a secretaria estadual de Segurança Pública, entre janeiro a dezembro de 2021 foram apreendidas em Mato Grosso na região de fronteira mais de 14 toneladas quilos de drogas. Neste ano, de janeiro até outubro já foram 12 toneladas de drogas apreendidas.
Além do Gefron (Grupo Especial de Fronteira da Polícia Militar e Polícia Federal), o Exército também está presente nos pontos mais longínquos para combater o tráfico de entorpecentes e outros ilícitos com um trabalho integrado com as demais forças de segurança.
Neste mês, o Exército abriu as portas para a imprensa e para autoridades conhecerem as atividades desenvolvidas e quem são as pessoas que atuam nessas áreas.
Na península Insua, na divisa de Mato Grosso do Sul com Mato Grosso, o Pelotão Especial de Fronteira do Exército Porto Índio conta com 40 militares que fazem rondas pelos rios da região e prestam auxílio aos ribeirinhos em caso de emergência. A península Insua tem ao norte a Terra Indígena Guatós, onde vivem os remanescentes desta etnia na região, a Oeste a Bolívia, ao Leste o Rio Paraguai e ao Sul a Baía Gaíva.
O Pelotão Especial está a 240 quilômetros da sede do Batalhão que fica em Corumbá. Por causa da distância, os militares ficam três meses longe da família, alojados em 16 casas construídas no local com energia mantida por gerador. O local também tem posto de saúde e uma escola que atualmente não está funcionado.
Segundo o chefe do Estado maior do Comando Militar do Oeste, general Jayro Rocha Júnior, até cinco anos atrás, os militares ficavam com as famílias no local e as crianças tinham aula junto com filhos dos ribeirinhos. “Com a redução do número de alunos em idade escolar, tanto filhos dos militares como dos ribeirinhos, a escola foi desativada”, ressalta o general.
Segundo ele, a cada 45 dias as lanchas do Exército trazem comida e mantimentos e os próprios militares mantêm uma horta no local.
Renato de Almeida Salles Júnior tem 34 anos. Ele iniciou a carreira no Exército em 2012 com os cursos de formação em Jundiaí (SP) e Três Coroas, (MG) Quando se formou, ou a servir em Campinas e, no início deste ano, foi transferido para Corumbá. A esposa de Renato, Isabela Salles de 29 anos também é militar e atua na área da saúde como técnica de enfermagem, mas desde junho ela está no Rio de Janeiro, na casa da mãe, em licença maternidade. Isabela teve uma menina, a Isabel. Renato fica com os olhos marejados ao olhar a foto da esposa com a bebe no colo. Ele está contando os dias para rever as duas. O reencontro vai ser em dezembro.

Renato diz que ele mesmo pediu a transferência para Corumbá. O casal queria conhecer e trabalhar em outro Bioma. “O Pantanal está sendo uma ótima experiência. É uma região muito bonita que precisa da ação do estado para proteger suas riquezas e sua gente.” pondera.

Entre os 40 militares que prestam serviço no Pelotão especial Porto Índio, está o indígena da etnia Guató, Heraldo Guató que entrou para o Exército 2019. Heraldo diz que ser um militar é a realização de um sonho. Ele conta que quer continuar trabalhando na região para defender o Pantanal e cuidar do seu povo.


O comandante do Pelotão, tenente-coronel Leandro Pimentel diz que a presenças do Exército nesta área isolada do Pantanal é fundamental para impedir a ação de criminosos na região e também agilizar o atendimento aos ribeirinhos e casos de problemas de saúde. Segundo o comandante, além do Posto de Saúde com os medicamentos necessários, os militares contam ainda com uma “Ambulacha” que permite um deslocamento mais rápido até Corumbá em caso de acidentes, o que em muitos casos pode ser a salvação de uma pessoa em estado grave.
Herança militar 1r373g
Em Mato Grosso, o Exército conta com cerca de 3000 homens que atuam em três Batalhões de Infantaria Motorizada, um Grupo de Artilharia de Campanha e um batalhão de Engenharia de Construção. O maior deles é o Batalhão de Infantaria Motorizada de Cáceres com 865 homens que vigiam a fronteira, sob o comando do tenente coronel Leandro Basto Pereira. A história dele está intimamente ligada à atividade militar. Leandro é filho do ex-cabo, Nivaldo Pereira que também atuava no batalhão de Cáceres. Leandro se emociona ao relembrar do tempo em que era criança e ia com o pai para o quartel para conhecer a atividade militar.
“Foi naquela época que, inspirado pelo meu pai surgiu o sonho de ser um militar e hoje me sinto honrado de comandar o Batalhão onde ele trabalhou”.
“Tenho certeza que se ele estivesse vivo, estaria muito orgulhoso de me ver comandando a tropa”, relata Leandro.
O Batalhão de Infantaria Motorizada de Cáceres conta com quatro Pelotões Especiais na região de fronteira. O maior e mais estruturado é o de Corixa, que ou recentemente por reformas na estrutura. Fica numa região pantaneira a 90 quilômetros de Cáceres e 15 quilômetros da cidade boliviana de San Mathias.
Parte dos militares que servem no local estão com a esposa e filhos como o 3º sargento Igor de Lima Faustino, de 28 anos. Ele se alistou, gostou da experiência no Exército e prestou prova. Igor é nordestino, natural de João Pessoa, Paraíba. Após um período em Minas Gerais se candidatou à vaga em Cáceres. Veio com a esposa Jéssica e a filha Helena de três anos.
O casal diz que se adaptou bem ao local e está feliz. Igor e Jéssica se declaram apaixonados pelo Pantanal, só lamentam a distância da família. “Às vezes bate uma saudade muito forte que a gente tenta amenizar com ligações de vídeo, pelo menos conseguimos ver nossos pais e irmãos” afirma Jéssica.
O Pelotão Especial de Fronteira de Corixa (nome herdado do Rio Corixa que marca a fronteira entre Brasil e Bolívia) é comandando pelo 2º tenente Vítor Sampaio desde agosto desde ano. Vitor se formou na Academia Militar das Agulhas Negras e fez o curso de guerra na selva. Ele veio para Mato Grosso acompanhado da esposa Cláudia Sampaio, que é advogada.
Cláudia diz que apesar de morar no meio do Pantanal, em um local distante da cidade, ela mantém as atividades profissionais.
“Com a implantação do processo eletrônico, conseguimos trabalhar em qualquer lugar do país em home office. Isso é muito bom porque posso acompanhar meu marido sem interromper minha carreira”, avalia.
Os Batalhões de fronteira também atuam em operações integradas com o Gefron e a Polícia Federal no combate aos crimes ambientais.
Para o superintendente da PF em Mato Grosso, Sérgio Mori, este trabalho integrado com o compartilhamento de informações e apoio em equipamentos e recursos humanos foi fundamental para o sucesso de Operações como a Alfeu para combater o garimpo ilegal na terra Indígena Sararé..
“Na questão ambiental, nós temos aqui Terras Indígenas que são muito visadas por madeireiros e por mineradores irregulares. Nós já fizemos várias operações nessa área com destaque para a Operação Alfeu que já teve cinco fases com o apoio de várias instituições como Secretaria de Segurança, Funai, Ibama, Exército e Polícia Rodoviária Federal. É uma operação bem grande que exige muita logística pra defender uma área enorme que é alvo dos criminosos.”.
O comandante da 13ª Brigada de Infantaria Motorizada de Mato Grosso, general Kurt Everton Werberich reforça a importância deste trabalho integrado das forças de segurança.
Segundo ele, o trabalho em parceria leva à otimização de recursos com resultados mais eficientes. O general ressalta ainda o trabalho humanitário do Exército Brasileiro em campanhas de vacinação com apoio logístico como foi realizado no enfrentamento à covid-19 e a Operação Acolhida na recepção e transferência de venezuelanos para outros Estados, no programa de interiorização.
O o ao Exército se dá de várias formas entre elas as AMAN (Academia das Agulhas Negras que fica no Rio de Janeiro). Também existem a escolas de sargentos e oficiais espalhadas pelo país.
Ainda existe a possibilidade de ingresso temporário para diversas áreas por um período de 8 anos.
É o caso da enfermeira Nayra Curvo e da farmacêutica Eliane Lara. Nayra é 3º sargento e está no Exército há cinco anos a serviço do Batalhão de Infantaria Motorizada de Cáceres na área da saúde. Eliane, natural de Paranatinga, é 2º tenente e há um ano e meio também está trabalhando em Cáceres.
Para elas o Exército foi uma opção de emprego numa cidade do interior na área em que se formaram na faculdade, uma oportunidade de exercer a profissão que escolheram.
