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TDAH: no mundo da lua 133n1p

Eu custei a acreditar que era um problema. Ele não tinha nenhum atraso do desenvolvimento físico ou mental; para muitas coisas, parecia bem inteligente. Então, por que havia repetido alguns anos escolares, ou por que mal acompanhava as aulas? A professora havia me dito que ele não parava quieto em sala, que ia à janela, […] m5l2a

Eu custei a acreditar que era um problema. Ele não tinha nenhum atraso do desenvolvimento físico ou mental; para muitas coisas, parecia bem inteligente. Então, por que havia repetido alguns anos escolares, ou por que mal acompanhava as aulas? A professora havia me dito que ele não parava quieto em sala, que ia à janela, olhava o movimento da rua, retornava à carteira, fazia aviõezinhos das folhas de seu caderno e os jogava ao alto durante a aula.

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Crianças podem ter dificuldade de estudar (Foto: Oleksandr Pidvalnyi/Pexels)

Chegava em casa quase sempre machucado, porque não media as consequências de suas peraltices. Em casa, pulava nos sofás e subia nas estantes como se estivesse escalando uma montanha. E com que rapidez fazia tudo isso. Os móveis estragavam rapidamente, bibelôs quebrados o tempo todo. Quase eu enlouquecia atrás dele dia e noite. Meus momentos de tranquilidade resumiam-se às horas de aula.

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Enfim, Dênis cresceu e quando adolescente era um pouco menos peralta, mas ainda muito desatento. Queria falar o tempo todo e não prestava atenção ao que os outros falavam. Entrava em brigas sem pensar, simplesmente por impulso e quase foi expulso da escola porque quebrou o braço de um colega em luta corporal. Os trabalhos estudantis eram deixados para a última hora, sempre assim.

Dênis ficou adulto, concluiu o ensino médio e resolveu nem tentar entrar na faculdade. Hoje trabalha numa loja de conserto de computadores e lá consegue manter a atenção, é algo que o interessa. Está casado e tem uma filhinha agora com dois anos, quase tão agitada como ele era na mesma idade.

Dênis nunca fez tratamento. Até hoje é tagarela e desatento em casa e no trânsito. No trabalho, também, porém bem menos. No geral, ele consegue ser funcional e levar uma vida relativamente normal. Dênis é portador de uma enfermidade mental, denominada transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, conhecida pela sigla TDAH, que acomete cerca de 5% das crianças e adolescentes, de ambos os sexos, e pode acompanhar a pessoa doente por toda a vida.

Assim, como Dênis, quem tem esta doença, apresenta impulsividade, prejuízo da atenção voluntária (quando se faz necessário prestar atenção, independente do interesse da pessoa ao fato), preservação da atenção espontânea (quando se trata de algo de interesse da pessoa), procrastinação e hiperatividade, muitas vezes presente apenas no período infantil. Durante a infância, a criança geralmente é muito agitada, não consegue parar quieta, sobrecarregando muito os pais ou as babás. Na escola, elas necessitam de atenção especial. Caso contrário, não conseguem assimilar o conteúdo ado em sala de aula.

Com o crescimento, geralmente a hiperatividade diminui ou desaparece. A atenção, porém, permanece por toda a vida. Quando a enfermidade não é descoberta ou quando é tratada tardiamente, há grandes prejuízos na vida escolar e acadêmica. Uma página de um livro pode ser lida inúmeras vezes por falta de foco. A maior parte do tempo a pessoa acometida deste problema parece viver no mundo da lua.

O tratamento deve iniciar o mais precocemente possível e isso hoje não é muito difícil de acontecer, porque quando a família não percebe cedo, a escola faz essa parte. Como a vida escolar inicia nos primeiros anos de vida, atualmente o diagnóstico na maioria das vezes é precoce. O atendimento de um psiquiatra da infância e adolescência é quase sempre necessário; o acompanhamento com a psicologia, também. Os medicamentos, quando indicados, são muito controlados e poucos profissionais os prescrevem.

Os adultos, mesmo aqueles que foram hiperativos na infância, de um modo geral, diminuem ou perdem a hiperatividade, mas não a desatenção. Continuam impulsivos e desatentos. A procrastinação faz parte de suas vidas. O tratamento, que deve iniciar ainda na infância, pode perdurar por toda a vida.

Viver com transtorno de déficit de atenção, com ou sem hiperatividade (TDA ou TDAH) não é fácil, apesar de haver algumas vantagens para os portadores dessa enfermidade como, por exemplo, o direito de uma hora a mais nos testes escolares e nos concursos públicos.

O tratamento permite ao portador de TDAH uma vida normal ou, pelo menos, próxima da normalidade. Vale a pena procurar um profissional capacitado no assunto o mais cedo possível, de preferência ainda na infância e manter o tratamento indicado por este profissional.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Saúde Mental, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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