Fanatismo – Normalidade ou Doença 4f625i
Pensar e acreditar em algo ou alguém é normal e assim vive a humanidade, ou pelo menos, a maior parte dela 43t43
Pensar e acreditar em algo ou alguém é normal e assim vive a humanidade, ou pelo menos, a maior parte dela, uma vez que algumas pessoas são desconfiadas de tudo e de todos ou completamente céticas. Não obstante isso, a confiança faz parte da vida dos seres vivos e é, até certo ponto, necessária para que a vida flua com alguma serenidade. Isso faz que as pessoas optem por um lado entre dois ou muitos nos diversos caminhos da vida, dentre eles a atividade religiosa, a ideologia política, as práticas desportivas, os estilos culturais, as diferenças sexuais, a tolerância com as diversas escolhas de vida, etc.
Quando, porém, as nossas crenças se vestem de uma rigidez inabalável, quando somos únicos ou parte da verdade de um grupo, da única verdade, que não aceita contraponto ou contestações, nem sequer a possibilidade de discutir civilizadamente determinado assunto, quando não nos permitimos a refutação, estamos deixando para trás a normalidade social e seguindo a estrada hostil do fanatismo, uma estrada de mão única, que não aceita retorno.
É bem verdade que fanatismo não significa doença, apesar de assemelhar-se a uma enfermidade. O fanático é possuidor de ideias rígidas, incontestáveis, muitas vezes acompanhadas de comportamento violento e incontrolável. São ideias inflexíveis, intolerantes, carregadas de paixão, que chegam a aproximar-se do delírio.
É claro que podem coexistir o fanatismo e a doença mental, com um influenciando o outro ou não, mas na maioria dos casos não há enfermidade psiquiátrica. O fanatismo é nocivo para o convívio familiar e social. Casamentos se desfazem, amizades têm fim. O fanático não consegue ver aquele que pensa diferente dele apenas como alguém que não compartilha com suas ideias ou, no máximo, como adversário. Identifica-o e o vê como inimigo e o exclui de seu convívio. Constrói castas de iguais e recruta cônjuges e filhos para seu exército da mesma ideologia.
Não há respeito ao pensamento do outro, se este for contrário ao seu. Há radicalismo, ódio e extremismo, mas nada disso é percebido pelo indivíduo fanático como algo disfuncional ou nocivo, apesar de isso ser mostrado a ele, principalmente por pessoas mais chegadas. Infelizmente, hoje em dia as redes sociais estimulam a formação de grupos radicais e a disseminação de ódio, com o aumento continuado de seguidores e fortalecimento de determinados pontos de vista, que são únicos e imutáveis.
Quando coisas muito sérias acontecem no âmbito familiar ou no círculo de amizade do fanático e ele, num lance de sanidade, percebe os prejuízos afetivos e sofre com esses prejuízos, pode, nessa ocasião, aceitar a busca de apoio psicológico ou, até mesmo, psiquiátrico. Só então é que há possibilidade de acabar a guerra ideológica do fanatismo e iniciar a normalidade dos contrários.
É também comum o fanatismo no mundo artístico, onde milhares ou milhões de fãs seguem, ovacionam seus ídolos, não medindo esforços para vê-los, com gastos exagerados para concretizar este fim. Prejudicam a própria saúde, com perdas de incontáveis de noites de sono, com gastos de grandes somas em dinheiro para acompanhar os shows de seus ídolos.
Aceitar o contrário e conviver com ele é uma tarefa difícil, se não impossível para o fanático. Se o fizesse, conseguiria, certamente, exercer sua democracia, que é o primeiro o para a democracia do outro, pois seguiria as sábias palavras de Bertrand Russell, quando asseverou: “Eu nunca morreria por minhas crenças, pois posso estar errado.”
Digo agora a cada um dos leitores o que incansavelmente digo a mim: Pense e reflita. Esteja certo da possibilidade de estar errado e escute o lado contrário. Depois, permaneça no seu lado ou mude de lugar, pacificamente. Afinal de contas, assim como dinheiro, fanatismo não traz felicidade.