“Lavagem cerebral”, relata mãe de golpista de MS preso em Brasília 22i7
A mulher, que preferiu não se identificar, afirmou que o filho largou o emprego para viver nos acampamentos do Estado até o dia em que viajou para a capital federal com o grupo de bolsonarista 243o3p
Um mês depois dos ataques terroristas em Brasília, parte dos envolvidos na destruição dos prédios dos Três Poderes permanecem presos no Distrito Federal; um deles de Mato Grosso do Sul. Enquanto responde pelos crimes que cometeu, a família tenta daqui entender os motivos que levaram ao extremo da idolatria política. “O que me entristece é que parece que foi feita uma lavagem cerebral no meu filho. Não dava para entender nada”, lamentou a mãe do hoje golpista.

A equipe de reportagem conversou com a mãe do preso e por medo, ela pediu para não ser identificada pela reportagem.
À reportagem, a mulher contou que ainda lembra do exato momento que descobriu sobre a prisão do filho: eram 11h30 do dia 9 de janeiro quando o telefone tocou e ela reconheceu o prefixo de Brasília na tela. Do outro lado da linha, ouviu que o rapaz estava no meio dos mais de mil presos pela invasão do dia anterior.
“Ele estava muito envolvido em uma lavagem cerebral mesmo. Ele mudou muito, uma lavagem cerebral”, compartilha a mãe sobre a mudança no comportamento do filho. Segundo ela, o homem largou o trabalho no interior de Mato Grosso do Sul e começou a “viver” em acampamentos bolsonaristas a partir do segundo semestre de 2022.
“Ele foi de uma cidade para outra. Depois, ele veio para a capital [Campo Grande]. Aqui, ele chegou com tudo pago: agem de ônibus e até carro por aplicativo. Isso tudo e ele já estava desempregado. Ele saiu do serviço e veio viver nos acampamentos”.
Acostumada a uma rotina intensa de trabalho – ela sai cedo para o trabalho, enfrenta transporte público coletivo e chega em casa só à noite – a atitude do filho em largar o emprego para morar nos assentamentos não faz sentido, por isso, acredita que ele pode ter recebido ajuda financeira, principalmente para a Brasília.
“Meu filho conseguiu muita mordomia. Ele estava desempregado em Brasília. Foi um choque quando ele me ligou e falou que ia sair do serviço e ir para o acampamento dos bolsonaristas. Eu falei para ele ‘cara, você tá louco, o que você tá fazendo aí?”.

Longe da família 6bk5o
O rapaz saiu da casa da mãe em 2015. Mas o contato permaneceu. A mulher explica que sozinho, o rapaz “relaxou” com a emissão de documentos e até com as votações. “Desde que ele saiu de casa, ele relaxou com documento, até com voto. Eu acho que ultimamente ele nem votou. Como uma pessoa que nem vota diz que vai defender o Brasil? Como?”, declara inconformada.
Leia mais 6p1262
-
ALMT rejeita pedido de afastamento de servidores envolvidos em atos antidemocráticos 3t3j1b
-
Wellington Fagundes vê falhas na Segurança do Governo Federal em atos golpistas 2k13i
-
Operação da PF cumpre mandados em MT e 5 estados por atos golpistas em Brasília 11565q
-
Mãe acusou pai de querer guarda de Sophia quando foi intimada por maus-tratos 5d1c49
-
Maus-tratos e abandono a animais são altos em bairros periféricos n4014
-
Wellington Fagundes defende I no Senado para investigar atos golpistas em Brasília 364ro
-
Preso em atos golpistas tem condenação por invadir terreno em MS 4y282e
-
Por conta de maus-tratos, três cachorros são sacrificados em MT 4p3y1l
Nas eleições do ano ado, no entanto, o contato entre os dois já não era o mesmo, distância que foi sentida pela mãe. As conversas com o filho sempre direcionadas para o tom político extremista.
“No fim do ano, quando ele me ligou, já estava havia duas semanas no acampamento na minha cidade. Eu senti uma diferença muito grande. Saímos para ir ao mercado, mas ele estava bem diferente. Me falaram que ele estava louco. Acho que ele não chegou a ficar louco”. Para a mãe do rapaz, ele viu no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) alguém para seguir, mas não soube distinguir a vida pessoal do extremismo golpista.
Com as festas de fim de ano se aproximando e o rapaz em um acampamento bolsonarista de Campo Grande, o convite para ar o Natal em família foi feito. Ela achava que a virada do ano também seria reunida com o filho, mas foi diferente.
“Ele ou o Natal aqui em casa com a gente, com a minha família. Reunimos a família toda. Quando ele veio, pedi para ele não falar de política. Foi muito bom, não teve bebida, não teve política, conseguimos ter um Natal em paz. No ano novo, meu filho não quis ar com a família. Ele foi ar o Ano Novo com o pessoal em frente ao Comando Militar Oeste do Exército, no acampamento”, lembra.

Idas e vindas à Brasília 3hr1c
Segundo a mãe do preso, ele foi três vezes a Brasília com todas as despesas pagas. Na última vez, o rapaz chegou em 6 de janeiro, dois dias antes dos ataques prédios públicos dos Três Poderes. Antes de ir à capital federal, o preso ligou para avisar da viagem. Ele justitificou que iria “defender o país”. Ela até tentou mudar a ideia do filho, mas não conseguiu.
“Quando foi na sexta-feira, dia 6 de janeiro, meu filho me ligou avisando que iria para Brasília. Ele disse que ia para Brasília para ‘’defender o país’. Eu disse para ele: ‘larga a mão, não faz isso, você não precisa ir lá para Brasília’. Ele respondia: ‘eu prefiro morrer do que não defender o meu país’. Eu não sei, parece que fizeram uma lavagem cerebral nele, ele tava com a cabeça bem diferente”.
Antes do quebra-quebra, ele ligou mais uma vez, desta vez no caminho de um mercado para comprar alimentos; ia cozinhar para os outros bolsonaristas no acampamento em Brasília. Naquele dia, avisou que ia participar dos atos.
“Ele ligou outras vezes, ele ligou outras vezes à tarde. Acredito que ele não estava no Congresso. Pela última vez, ele me ligou e eu avisei, pedi para ele não ir. Falei que ia ser perigoso, mas ele retrucou e disse: ‘os policiais estão do nosso lado, não tem problema nenhum. Eles são nossos amigos e estão dando apoio. Ele foi para lá mesmo saindo tiro, bomba e gás lacrimogêneo na cara”.
Até então, a última notícia que a mãe teve do filho golpista foi a da ligação de 9 de janeiro, quando informaram sobre a prisão por envolvimentos nos atos antidemocráticos. Um mês após, a mãe ainda busca na memória uma explicação para as atitudes individuais do filho.
“Eu sinto um aperto muito grande no coração, meu coração está despedaçado. Eu não me acho culpada porque eu nunca o incentivei. Tudo que aconteceu foi o menino que se criou e estudou, que conhece a vida, ele que fez. Eu não acredito que eu tenha me matado e sacrificado para criar um filho sozinha e chegar nessas alturas da vida e ver uma situação dessa: ver meu filho sendo preso por política”.