O quê há em comum entre estudante assassinado e funeral de Tancredo Neves? 5j4362

O que começou como uma homenagem a um jovem estudante assassinado pela repressão militar acabou se transformando na trilha sonora da despedida de um presidente que nunca tomou posse 2l5k

Poucas músicas na história da MPB carregam tanta carga simbólica quanto “Coração de Estudante”, de Milton Nascimento. Composta em meio à transição democrática do Brasil, a canção atravessou momentos marcantes da história nacional, tornando-se um hino de luta e esperança. O que começou como uma homenagem a um jovem estudante assassinado pela repressão militar acabou se transformando na trilha sonora da despedida de um presidente que nunca tomou posse.

Um estudante que virou símbolo de resistência 646329

A origem de “Coração de Estudante” remonta ao ano de 1968, um dos períodos mais tensos da Ditadura Militar. Foi nesse contexto que Edson Luís de Lima Souto, um estudante secundarista de apenas 18 anos, foi morto a tiros pela polícia dentro do restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro. Sua morte, uma das primeiras a ganhar repercussão nacional como resultado da repressão política, gerou revolta e fortaleceu o movimento estudantil contra o regime.

Milton Nascimento e o letrista Wagner Tiso, que sempre estiveram atentos às transformações sociais do país, compam a música como um tributo à juventude brasileira que enfrentava a censura e a violência do Estado. A letra evoca a necessidade da educação, da liberdade e do protagonismo dos jovens na construção de um futuro melhor.

A canção destaca, com delicadeza e profundidade, o poder transformador da juventude:

“Quero falar de uma coisa / Adivinha onde ela anda? / Deve estar dentro do peito / Ou caminha pelo ar…”

Essa mensagem de esperança e renovação, inspirada na luta dos estudantes, logo ultraaria seu propósito inicial para se tornar um dos maiores símbolos da redemocratização brasileira.

A canção e o funeral de Tancredo Neves 4q20t

Se a música já havia se consolidado como um hino da resistência estudantil, em 1985 ela ganhou uma nova e impactante ressignificação. Naquele ano, após duas décadas de Ditadura, o Brasil voltava a ter um presidente civil eleito. Tancredo Neves, símbolo da transição democrática, venceu o colégio eleitoral e estava prestes a assumir a presidência quando, poucos dias antes da posse, foi internado às pressas devido a complicações de saúde. Após uma série de cirurgias e meses de internação, Tancredo faleceu no dia 21 de abril de 1985, antes de tomar posse como presidente da República.

Funeral de Tancredo Neves
Funeral de Tancredo Neves (Foto: O Globo)

A morte de Tancredo gerou um clima de comoção nacional. O país, que havia depositado nele as esperanças de um novo tempo, viu sua democracia nascer de luto. Durante o velório, realizado com honras de chefe de Estado, “Coração de Estudante” foi escolhida para embalar a despedida, reforçando sua ligação definitiva com a história política do Brasil.

A letra, que falava de juventude e sonhos interrompidos, parecia descrever perfeitamente o sentimento do povo naquele momento:

“Já podaram seus momentos / Desviaram seu destino / Seu sorriso de menino / Quantas vezes se escondeu…”

Assim, a canção deixou de ser apenas um tributo à luta estudantil para se tornar um marco da reconstrução democrática do país.

Uma canção para um documentário 1b2g28

Curiosamente, “Coração de Estudante” não foi composta inicialmente para esses eventos históricos. Sua primeira grande aparição aconteceu como trilha sonora do documentário Jango (1984), dirigido por Sílvio Tendler. O filme abordava a trajetória de João Goulart, último presidente antes do golpe militar de 1964, e recontava os anos de autoritarismo no Brasil.

A música se encaixou perfeitamente na narrativa do documentário, ajudando a reforçar a necessidade da memória e da justiça histórica. No entanto, seu impacto foi tão grande que rapidamente extrapolou o universo do cinema e foi adotada como símbolo da reabertura política do país.

O legado de “Coração de Estudante” b4z5t

Desde então, “Coração de Estudante” segue viva em momentos de grande relevância nacional. Sua presença é marcante em formaturas, manifestações políticas e homenagens a figuras importantes da história do Brasil. Seu poder simbólico reforça a importância da educação, da juventude e da democracia como pilares fundamentais para um país mais justo.

Milton Nascimento conseguiu, com sua sensibilidade, transformar uma melodia e uma letra em algo muito maior do que uma simples canção. “Coração de Estudante” se tornou um patrimônio emocional do Brasil, lembrando a todos que a esperança e a transformação social am, inevitavelmente, pelo coração de seus estudantes.

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