Vestido de miss MS vira polêmica por plágio a arte indígena 64261t
Estilista indígena Natielly Albuquerque produziu e usou a própria peça no concurso Miss Indígena 2022, e afirma que modelo foi copiado por Miss 2l194k
“Apropriou de uma arte que não é deles”. A frase é da estilista terena Natielly Albuquerque, de 22 anos, sobre o vestido usado pela miss Mato Grosso do Sul 2022, Hemilly Duarte, para representar a “Fantasia Regional” para o concurso nacional de beleza Miss Brasil.

Leia mais 6p1262
A peça, segundo a estilista, residente da aldeia Marçal de Souza, primeira aldeia urbana do Brasil, localizada em Campo Grande, é uma cópia do que ela produziu e usou no concurso Miss Indígena 2022, que aconteceu em abril deste ano. Inclusive, Natielly participou do evento, desfilou com a roupa e ficou em segundo lugar.

Look postado nas redes sociais 141s6i
O susto de ver sua produção copiada pela miss MS, de acordo com a estilista, ocorreu na terça-feira (2), quando Hemilly postou nas redes sociais o “traje Mãe do Pantanal”.
“Eu soube por um colega meu que me mandou ontem, logo que foi publicada a foto dela. Ele até falou que era parecido com o meu vestido. Perguntou se fui eu que fiz. Lá [na postagem], ela fala que foi confeccionado na aldeia Marçal de Souza, e não foi”, declara Natielly.
Confira abaixo o vídeo da Miss mostrando detalhes do vestido:
Logo que soube, a estilista contou tudo para os seus pais e foi atrás de mais informações.
“O meu amigo falou que a miss entrou em contato com ele perguntado se ele não fazia esse tipo de roupa. Ele falou que não fazia, que só mexia com sementes, e falou de mim, que faço e me indicou”, conta Natielly.

Na mesma conversa, o amigo dela enviou fotos de Natielly usando o vestido que ela mesma produziu, artesanalmente, para usar no Miss Indígena deste ano.
Assista abaixo Natielly desfilando com a peça autoral:
Quando o amigo informou que Natielly poderia fazer o vestido para Hemilly, a mesma falou que não precisava.
“Falou: ‘eu não preciso, porque tenho uma pessoa que faz’, e ou meu contato”, afirma a estilista.
Natielly jamais recebeu mensagens de Hemilly sobre o vestido. Ela também chegou a tentar contato com a Miss, mas, até hoje, nunca foi respondida. “Seria totalmente diferente”, afirma.

O assunto estava esquecido, até que voltou à tona quando soube que Hemilly usou um vestido muito igual ao dela.
A mãe de Natielly entrou em contato com a aldeia Marçal de Souza e descobriu que a Miss visitou o cacique do local e pegou algumas informações com o líder.
A estilista terena também soube que o vestido da Miss foi produzido por uma designer de moda e um pintor, ambos não indígenas.
“Apropriaram de uma arte que não é deles. Eu sei que não registrei [a peça], mas copiou minha peça”, reforça Natielly, que é estilista desde criança, época em que produzia seus artesanatos.

Questionada se faria o vestido para Hemilly usar no concurso de Miss Brasil, a estilista terena diz que aceitaria sem pestanejar.
“Faria! Com toda certeza eu faria. Nível Brasil. Eu seria reconhecida no Brasil. Não pensaria duas vezes na parceria”, enfatiza Natielly. Além disso, a estilista também reclama dos órios usados pela miss MS.
“Eu fiquei sentida também porque ela não cita o nome dos artistas indígenas que produziram os órios [cocar e colar]”, ressalta Natielly.
“Eu necessito de uma retratação da equipe dela. Isso já daria um processo por danos morais e apropriação cultural. Esse look, peça, é moda autoral (…) a própria foi informada e sugeriram meu trabalho, através do meu amigo. Creio que não custaria nada ter entrado em contato comigo”, finaliza a terena.
O que diz a miss 2oj3t
Hemilly Duarte, Miss MS 2022, foi procurada pela reportagem, via ligações e mensagens. Em resposta, após o fechamento da matéria, disse que está ando por um confinamento do concurso.
O Primeira Página se coloca à disposição e aguarda o retorno.
*Atualização:
Angelo Mariano, diretor do concurso estadual de miss, negou a acusação de plágio feita por Natielly. Segundo ele, “desde às estampas do vestido, o cocar, órios e grafismos, são feitos por outros artistas da aldeia. Os nomes dos profissionais, inclusive, são creditados no ensaio feito pela miss e eles estariam a disposição, para reiterar a originalidade da criação”.
Sobre as referências utilizadas no vestuário, Angelo também esclarece. “São objetos e imagens de animais do Pantanal, que são de domínio público. As simbologias indígenas também são garantidas para a Hemilly, porque ela também tem descendência indígena”, diz.
O coordenador do concurso estadual ainda acrescenta. “Essa estilista está tentando privar a Hemilly de usar aquilo que ela tem direito por descendência indígena, além disso a estilista diz que tem direitos sobre cortes e figuras que na verdade são de domínio público. As imagens do Pantanal são direito de todos nós. As grafias indígenas foram feitas por membros da aldeia, e todos eles estão conosco torcendo pelo sucesso da representante sul-mato-grossense!”, frisa Angelo Mariano.
A final do Miss Brasil Mundo acontece nesta quinta-feira (4), no Teatro das Caesb, em Águas Claras, Brasília.
Comentários (2) 5a601i
Eu que fiz o grafismo e sou indígena, sou muito preocupado para fazer tal serviço, pois a pintura não tá igual!
Oi, Arnoldy. Você pode nos mandar uma mensagem no (67) 99850-9706? Obrigada.