Secas constantes ameaçam capacidade de recuperação do Pantanal, diz WWF 1m166e
O Pantanal tem capacidade natural de regeneração, mas as secas frequentes ameaçam essa característica do bioma, alertam especialistas. O período seco começa em maio e tem o auge em setembro. Porém, com chuvas fracas em dezembro do ano ado e janeiro de 2021, a previsão é que a seca deste ano seja ainda mais severa […] 5g5h3z
O Pantanal tem capacidade natural de regeneração, mas as secas frequentes ameaçam essa característica do bioma, alertam especialistas. O período seco começa em maio e tem o auge em setembro. Porém, com chuvas fracas em dezembro do ano ado e janeiro de 2021, a previsão é que a seca deste ano seja ainda mais severa que a de 2020. As informações são da WWF Brasil, com base em levantamentos feitos por pesquisadores.
Conforme a professora de Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Christine Strüssmann, a fauna pantaneira tem grande habilidade de recuperação em alguns ambientes, como áreas de campo inundável, sujeitas anualmente aos ciclos de cheia e seca acompanhada de fogo. Entretanto, em outras áreas não sujeitas ao fogo recorrente, como matas ciliares, dificilmente haverá essa regeneração.

A bióloga Paula Valdujo, especialista em conservação do WWF-Brasil, explica que houve secas intensas por dois anos seguidos e que a de 2021 é recorde, com o Rio Paraguai perto do nível mais baixo da série histórica iniciada em 2016. Ela afirma que as áreas que normalmente ficam submersas já estão muito expostas e que, com as secas intensas e repetidas, a vegetação de áreas que normalmente estariam inundadas nesta época se acumula, o que forma tufos de capim seco que são altamente inflamáveis.
Secas e queimadas 1x1i2c
O fogo provocado pela estiagem faz parte da dinâmica natural do Pantanal, cujo equilíbrio depende da alternância de períodos de alagamento e de seca. Mas esse ciclo de regeneração natural pode ser comprometido caso queimadas tão intensas quanto as de 2020 ocorram por anos consecutivos – um risco real, considerando as mudanças climáticas, diz a WWF-Brasil.

No ano ado, o número de focos superou a soma de 2019, 2018 e 2017. Até então, o recorde era de 2005, com 12,5 mil focos. A área afetada pelo fogo foi de mais de 40 mil km² ou mais de 27% da cobertura vegetal do bioma no Brasil. O recorde anterior havia sido também em 2005, quando 27 mil km² foram destruídos.
O impacto na fauna ainda não foi inteiramente mensurado, mas estimativas realizadas ainda no auge das queimadas do ano ado sugeriam que, em setembro, o fogo já havia atingido ao menos 65 milhões de animais vertebrados e 4 bilhões de invertebrados.
Um estudo feito pelos ministérios públicos de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso estima que quase a maior parte dos 22 mil focos de queimadas detectados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) no Pantanal em 2020 foi provocada pela ação humana.
Embora a seca de 2021 esteja ainda pior que a de 2020, até o início de julho o número de focos de queimadas no acumulado do ano era equivalente a 1/10 do que foi detectado no mesmo período no ano ado. Isso ocorre provavelmente porque o tempo foi muito curto para que o emaranhado de vegetação se desenvolvesse. Portanto, há menos biomassa para ser queimada, explica Catia Nunes da Cunha, especialista em ecologia de áreas alagáveis do Instituto de Biociências da UFMT.
Futuro 65222o
A bióloga Paula Valdujo diz acreditar que é provável que a fauna atingida pelo fogo em 2020 se regenere completamente, mas alerta que isso vai depender do que vai acontecer daqui em diante, já que o impacto do fogo é cumulativo: a vegetação volta após a queimada, mas se a chuva for reduzida por mais um ou dois anos consecutivos, com grandes incêndios se repetindo, essa resiliência pode ser comprometida.
Paula explica ainda que o desmatamento no Pantanal, assim como na Amazônia e no Cerrado, pode tornar mais recorrentes os eventos extremos de estiagem, desequilibrando o ciclo natural de alagamentos e seca pantaneiro. A bióloga explica que é preciso, por exemplo, conservar as cabeceiras dos rios no Cerrado e que parte das chuvas do Pantanal depende da Amazônia.

Ciclos sobrepostos 5e4t2e
Segundo a professora Catia Nunes da Cunha, além do ciclo anual, há também grandes variações plurianuais. Ou seja, a longo prazo o ciclo anual se sobrepõe a grandes períodos mais úmidos, alternados por grandes períodos de estiagem mais forte e com muito fogo.
A pesquisadora disse que os últimos 40 anos corresponderam a um ciclo plurianual úmido e que, em contrapartida, entre 1963 e 1973, houve um longo período seco, sem inundações, no qual a vegetação adaptada à inundação regrediu e expandiu-se novamente nos últimos 40 anos. Porém, ela observa, ainda não é possível afirmar se o Pantanal está entrando em um novo período de grandes estiagens, hipótese que atualmente é estudada.
Catia coordena uma equipe de campo da UFMT que está avaliando o efeito do fogo sobre a vegetação pantaneira. Os pesquisadores trabalham em nove parcelas permanentes que são estudadas desde 2006. As árvores são etiquetadas e o grupo analisa o grau de mortalidade e a capacidade de regeneração das diversas espécies da flora após os incêndios.
Veja galeria de imagens do Pantanal:
Pantanal é rico em fauna e flora. Foto: Rodolfo Perdigão/Secom-MT Aves são atração à parte na paisagem do Pantanal. Foto: Rodolfo Perdigão/Secom-MT Jacaré no Pantanal mato-grossense. Foto: Mayke Toscano/Secom-MT Pantanal é morada de diversas espécies de aves. Foto: Mayke Toscano/Secom-MT Peões conduzem o gado no Pantanal. Foto: Mayke Toscano/Secom-MT Onça-pintada no Pantanal mato-grossense. Foto: Marcos Vergueiro/Secom-MT