Pantanal: bioma mais afetado por desmatamento do país em 37 anos 636h5a

Nos últimos 37 anos – entre 1985 e 2021 – o Brasil perdeu 13,1% da vegetação nativa, entre florestas, savanas e outras formações não florestais, segundo divulgou a ONG MapBiomas na sexta-feira (26). Nesse período, a porção do país coberta por vegetação nativa caiu de 76% para 66%.

As mudanças do uso da terra desencadearam uma redução da superfície de água, que afetam Pantanal (Foto: Andre Penner/AB-picture alliance)
As mudanças do uso da terra desencadearam uma redução da superfície de água, que afetam Pantanal (Foto: Andre Penner/AB-picture alliance)

As áreas devastadas desde 1985 deram lugar à agropecuária, que atualmente responde por um terço do uso da terra no Brasil. Nessas quase quatro décadas, a área ocupada pela agropecuária ou de 21% para 31%. O maior crescimento foi nas áreas utilizadas pela agricultura, 228%, e agora correspondem a 7,4% do território nacional.

“Apesar de 72% da área de expansão da agricultura ter ocorrido sobre terras já antropizadas [cujas características originais foram alteradas pela ação humana], principalmente pastagens, é importante ressaltar que 28% da mudança para lavoura temporária se deu sobre desmatamento e conversão direta de vegetação nativa”, afirmou Laerte Ferreira, professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador da Equipe de Mapeamento de Pastagem e do Grupo de Trabalho Solos do MapBiomas.

Os dados, lançados numa coleção de sete mapas anuais de cobertura e uso da terra no Brasil, ressaltam que a alteração no uso do solo agravou os desafios de preservação da segurança hídrica, alimentar e energética no país.

As mudanças do uso da terra desencadearam uma redução da superfície de água que, nos últimos 30 anos (1991 a 2021), registaram perda de 17,1%. O fenômeno atingiu especialmente o Pantanal, um bioma fortemente influenciado, por exemplo, pela variação da umidade gerada na evapotranspiração das árvores da Amazônia.

“A ocupação do solo e a produção rural precisam ser compatibilizadas com a conservação dos biomas”, afirmou Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, apontando que a tendência de rápidas transformações é um grande desafio para o desenvolvimento e ocupação territorial sustentáveis e prósperas.

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O levantamento mostra ainda que o processo de conversão de vegetação nativa em lavoura e pastagens foi mais intenso em algumas regiões, principalmente no Matopiba – área com predominância de Cerrado entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – e na Amacro, na Amazônia Legal, entre os estados do Acre, Amazonas e Rondônia, e no Pampa, no Rio Grande do Sul.

O Matopiba concentrou 56,2% da perda de vegetação nativa no Cerrado nos últimos 20 anos. Na Amacro, a perda de florestas aumentou fortemente na última década, representando 22% do desmatamento na Amazônia contra 11% no período de 2000-2010. O Pampa, por sua vez, é o bioma de maior transformação proporcional tendo sua área de vegetação nativa reduzida de 61,3% para 46,3% em 37 anos.

Terras indígenas 3w675g

O MapBiomas destacou ainda a importância das terras indígenas para a preservação da Amazônia, mostrando que a perda de vegetação nativa em territórios indígenas foi de apenas 0,8% entre 1985 e 2021, contra a perda de 21,5% registada fora de áreas protegidas nesse bioma.

A organização alertou ainda que apesar de 66% do território do Brasil ser coberto por vegetação nativa, isso não significa que essas áreas sejam na totalidade conservadas, já que a análise da evolução das mudanças de uso da terra ao longo dos anos apontou que pelo menos 8,2% de toda vegetação nativa existente é secundária, ou seja, são áreas que já foram desmatadas pelo menos uma vez nos últimos 37 anos ou já estavam desmatadas em 1985.

Para o levantamento, o MapBiomas analisou dados de satélites. “Os satélites nos ajudam a revelar os desafios de como expandir a agropecuária sem desmatamento, como proteger os recursos hídricos e como ocupações urbanas podem ser mais seguras e menos desiguais”, afirma Julia Shimbo, Coordenadora Científica do MapBiomas e pesquisadora do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

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