'Em benefício da comunidade', diz morador que ajuda a reflorestar o próprio bairro em Cuiabá 3g1q3t
Em 36 anos como morador da região, sêo Luiz conta já ter realizado o plantio de mais de 500 mudas. 5w5u1v
Em setembro de 1986, Luiz Both, de 69 anos, se mudou para o bairro Jardim Universitário, em Cuiabá. A casa em que ele vive até hoje fica no final de uma rua sem saída, de frente para as margens do córrego Urubu. Ele relata ao Primeira Página que quando chegou, a região era só mato e logo nos primeiros anos, dedicou algumas horas da sua rotina para limpar o terreno e plantar algumas árvores.

Both era professor de química do IFMT, antiga escola técnica de Cuiabá, e desde que se aposentou, há dois anos, ele usa a jardinagem como hobby para se manter ativo. Ele conta que nesses 36 anos já plantou na região mais de 500 mudas de espécies frutíferas e ornamentais.
Ele destaca que faz tudo com muito carinho. O mogno da imagem, por exemplo, foi uma das primeiras mudas plantadas no espaço, e hoje tem 33 anos. O orgulho em ver os frutos da própria dedicação beneficiando a comunidade, é o que impulsiona o aposentado a continuar.
“É muito gratificante plantar uma coisa e ver o crescimento, ver produzindo, e as pessoas usufruindo. Nós pensamos sempre naqueles que estão precisando. Já conseguimos produzir bastante coisa aqui e com essas pessoas vindo buscar, a gente sente uma valorização”, ressalta.
Nascido e criado em uma colônia alemã, perto de Santa Rosa (RS), Luiz veio para Mato Grosso em 1981. Foi na roça que ele aprendeu desde criança tudo que sabe e aplica hoje no bairro. O objetivo dele é embelezar toda a avenida principal.

“Queremos enfeitar até lá em cima. Aqui é tudo área verde da prefeitura, olha o tanto de área que tem e só cresce mato. Queremos aproveitar esse espaço. Este pedaço era todo capim, depois que a prefeitura roçava, logo que secava alguém tocava fogo. Aí resolvi encher de ipês – só nesse pedacinho plantei 41 mudas e entre eles plantei algumas outras como jacarandá, pata de vaca e recentemente outras frutíferas. Hoje ninguém mais ‘taca’ fogo”, explica Luiz.
A variedade é enorme. Além das belíssimas flores ornamentais que se estendem pela avenida, o grande jardim ainda oferece aos moradores diferentes hortaliças, quiabo, gergelim, abóbora, maxixe, vagem, melão, abacate, banana, amora, cana-de-açúcar e muito mais.
Luiz cita também as espécies de árvores nativas que foram plantadas na região pela concessionária de água e esgoto do município.
Além da flora diversificada, o local abriga algumas espécies de animais silvestres nativos do estado. Nas proximidades do córrego, moradores afirmam já terem visto saguis, jacaré, sucuri e jabuti.
O estudante e empresário, Ildefonso Padilha Junior, de 30 anos, cresceu acompanhando a transformação do bairro.

“É bacana porque aqui as coisas estavam bem jogadas. Ele está fazendo uma revolução no nosso meio ambiente. Agora ele está colhendo bastante coisa, e por questão de estar reflorestando, ele também contribui a longo prazo”, disse o vizinho.
Mutirão 2kn3o
A gratidão de alguns moradores retorna em formato de auxílio. Luiz conta que muitos se prontificam a ajudar a plantar as mudas e cuidar do espaço.
“Algumas eu trouxe lá do Rio Grande do Sul, cada vez que viajo pra lá eu trago sementes. Mas tem muita gente trazendo mudas. Outras eu mesmo crio, outras eu vou buscar lá no Horto Florestal e aí a gente planta. Tem umas pessoas que vêm ajudar num mutirão que a gente faz todo sábado, às 8h. Às vezes vem quatro pessoas, seis, já houve vezes que 8 pessoas se prontificam”, relata.
Ainda segundo o professor aposentado, nos encontros semanais os voluntários plantam em média de 15 a 25 mudas, um trabalho feito com muito carinho, dedicação e cuidado. Devido à fiação da rua, próximo ao meio-fio são cultivadas apenas espécies ornamentais e de pequeno porte.

Porém, Luiz lamenta que grande parte do esforço tem sido jogado fora, já que algumas pessoas que am pelo local danificam as plantas e até arrancam e somem com as mudas recém-plantadas. Desde o início do mês, mais de 37 brotos foram furtados.
“Tem que descobrir quem está fazendo isso, se está arrancando e jogando fora ou se está arrancando aqui para plantar em um outro lugar. Isso [o plantio] da muito trabalho. Essa terra é muito dura. Enquanto está chovendo nós conseguimos furar essa cova com certa facilidade, mas quando estiver seco tem que arrumar uma barra de ferro para conseguir furar, fazer a cova e plantar as árvores. É um trabalho muito pesado e a gente se sacrifica plantando, em benefício da comunidade”, afirma.
Outro problema recorrente é o lixo. Toda semana eles recolhem uma quantidade considerável de plástico, garrafas de vidro e entulho que são descartados de forma indevida no local.
Impacto positivo 2mh2d
Apesar dos obstáculos, os moradores sentem os impactos positivos da iniciativa.
“Eu sempre comento com o meu marido, ele está sempre aqui cuidando. Fica mais fresco e bonito”, disse a contadora Camila da Cunha Mazzaro, de 35 anos, que mora na região há cerca de 15 anos.
Para o aposentado Nilson Assunção de Guimarães Silva, de 62 anos, morador do bairro há 27 anos, Luiz desempenha um papel importante na comunidade.

“É um trabalho prestativo, chega a ser divino, porque isso seria só mato, mas com os cuidados dele a gente tem plantação de cana, de banana, de maxixe, de quiabo…. ele faz parte de uma sociedade que precisa dele e ele como membro dessa sociedade é muito cooperativo”, elogia.
“Isso é a natureza, nosso objetivo é enfeitar, deixar florido, plantar árvores frutíferas porque tem muitas crianças e pessoas que podem vir pegar essas frutas quando estiver produzindo. Isso vai ser muito bom para muita gente além de acabar com as queimadas porque essa fumaça é extremamente prejudicial para a saúde”, conclui Luiz.
O mutirão de plantio das mudas ocorre todo sábado, às 8h da manhã, na Avenida Principal 1, no bairro Jardim Universitário, em Cuiabá.
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