Uma das falas mais aguardadas no julgamento sobre a execução de Matheus Coutinho Xavier, de 20 anos, a mãe do estudante e assistente de acusação no júri, Cristiane Coutinho, deu um forte depoimento durante o encerramento da manifestação da acusação nos debates deste terceiro dia de audiência.
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Com o nome do filho bordado na beca, vestimenta dada de presente pelos promotores de acusação, Cristiane lembrou dos sonhos que o filho jamais vai poder realizar, e clamou por Justiça.
“Os outros réus têm a capacidade de dizer que depois de quatro anos vão ver os filhos deles e choram. Eu nunca mais vou ver meu filho. Eu não pude dar o último beijo, o último abraço (no meu filho). O pai dele foi segurando as mãos dele ensanguentadas, saindo sangue pelo ouvido, da boca, do nariz, isso é pouca coisa? […]”, disse Cristiane.
Vale lembrar que, nesta terça-feira, durante o segundo dia de julgamento, Marcelo Rios, um dos réus, chorou ao saber que iria rever os filhos. Jamil Name Filho também reviu os filhos e comentou que um deles está na faculdade.
Durante a sua fala, Cristiane mostrou vídeo de um júri simulado que Matheus apresentou na faculdade. Confira aqui.
O estudante estava no 3º semestre de direito, quando foi morto por engano a mando da milícia armada chefiada por um dos réus, Jamil Name Filho, o Jamilzinho. O ex-policial Vladenilson Daniel Olmedo, de 63 anos, também é julgado pelo crime, nesta quarta-feira.
“Ele (Matheus) não sabia que estava pronunciando as palavras que iriam ar no tribunal do júri em que ele é a vitima”, diz a advogada. Conforme Cristiane, o filho estudava na mesma faculdade em que um dos filhos de Jamilzinho estuda.
Cristiane Coutinho é advogada há 26 anos, mas como não atua na área criminal, nunca havia participado de um debate no Tribunal do Júri. Apesar da data simbólica para a mãe, não há motivos para comemorar.
“É muito difícil, mas estou aqui em homenagem a ele, em honra dele, porque quem o conheceu, e aqui tem até colega dele, sabem o quão honrado ele era. Não é possível esquecer isso. Não é possível negligenciar. Só eu sei os cacos que estou para estar aqui, os cacos que nunca se colarão. O que eu quero é a Justiça, não estou aqui em caça as bruxas, como ouvi alguns advogados falando porque essas 15 mil folhas não são em vão. Aqui não estão sendo contadas historinhas, brincadeiras, conversa para boi dormir. Ali tem provas. Provas”, enfatiza Cristiane, diante do processo que culminou no julgamento.
Cristiane Coutinho no júri. (Foto: Gustavo Arakaki)
Diante dos três réus, Cristiane reiterou que o filho foi executado a mando de Jamil Name Filho. E enfatizou.
“É muito doloroso, mas eu estou aqui com coragem e por honra ao contrário da covardia típica dos criminosos, dos que se organizam para ocultar provas, pagam para comenter crimes. Eles planejam, eles espreitam, não dão chance de defesa a vítima como não deram para o meu filho”, diz.
Durante a sua fala, Cristiane agradeceu pela beca dada pelos promotores com o nome do filho. “Ele queria ser promotor de justiça, ele queria isso, ele me disse”.
A advogada ainda parabenizou os membros do MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul) “que não ficarão milionários com esse processo”; uma crítica indireta aos três defensores de peso de Jamilzinho – entre eles há até ex-ministro do STJ (Supremo Tribunal de Justiça).
Para finalizar, Cristiane Coutinho fez o pedido derradeiro aos jurados
“Eu quero e peço por Justiça, porque a autoria, a motivação, todos os elementos do crime foram amplamente debatidos. Então às vossas excelências, cabe a decisão e eu espero que ela seja a da Justiça e da paz que há mais de 4 anos eu busco e espero. E o pai dele também”, conclui.
Perto do fim 1r1o
A sentença do julgamento pela morte do jovem Matheus Coutinho Xavier, nesta quarta-feira (19), deve ser anunciada ainda hoje, por volta das 21h30 até 22h.
