Capivara Criminal 232h40

Bilhete para Nova Iorque é último rastro de Flavinho, réu por chefiar milícia armada 1q244s

Fevereiro de 2020. O coronavírus já se insinuava como ameaça mundial. O Brasil se preparava para a eventual emergência de saúde, embora vagarosamente, com autoridades negando o risco de gravidade da nova doença, se chegasse por aqui, como depois acabou chegando e provocando quase 700 mil mortes. Em Mato Grosso do Sul, o vírus se […] 3e6q19

Fevereiro de 2020. O coronavírus já se insinuava como ameaça mundial. O Brasil se preparava para a eventual emergência de saúde, embora vagarosamente, com autoridades negando o risco de gravidade da nova doença, se chegasse por aqui, como depois acabou chegando e provocando quase 700 mil mortes.

Em Mato Grosso do Sul, o vírus se instalaria a partir de março. No noticiário local, o que estava quente era a operação Omertà, de combate à máfia capaz de matar para sustentar a exploração milionária da jogatina. No dia 20 daquele mês, iria estourar a quinta fase, a “Snow Ball”, destinada a fulminar esquema de agiotagem e extorsão.

Enquanto isso, logo no primeiro dia de fevereiro, um homem chamado Flavio comprava agens para Nova Iorque, nos Estados Unidos, saindo de Assunção, capital do Paraguai, para viajar com a esposa, Melany. A intenção era ir no dia 24 de abril e voltar em 2 de maio, de acordo com os bilhetes. A aquisição, de R$ 9, 5 mil, foi feita em seis parcelas, no cartão de crédito da irmã do viajante.

Cópia da carteira de identidade de Flavio Correia Jamil Georges
Identidade de Flavio Correia Jamil Georges que consta em processo judicial. (Foto: reprodução de processo no TJMS)

Deu errado. A viagem “miou”. A companhia aérea primeiro alterou o horário da saída do voo, depois, às vésperas do embarque, em 18 de abril, cancelou a decolagem, por causa das medidas restritivas impostas pela pandemia de covid-19.

Seria mais uma entre milhares de viagens frustradas pelo turbilhão de impactos provocados pela crise sanitária global – se os ageiros não fossem Flavio Correia Jamil Georges, 39 anos, e a esposa dele.

Esse talvez seja o último rastro de localização de Flavio Georges, personagem bastante conhecido, notadamente na região de fronteira Brasil/Paraguai. O voo partiria justamente da capital do país vizinho, terra onde, suspeita-se, ele se abrigou para fugir do alcance da polícia e da justiça do Brasil.

Flavinho, como costuma ser chamado, é réu na operação Omertà. Desde junho de 2020, menos de 2 meses depois da viagem impedida pela pandemia, ou a ser considerado foragido da Justiça, com mandado de prisão em aberto.

Quando a ida para Nova Iorque naufragou, pessoas próximas ao casal já estavam presas e o novelo se desenrolava em direção à fronteira. Era questão de tempo.

Chama a atenção a curta duração do eio planejado, pelas datas da ida e volta previstas. O retorno, supõem fontes da Capivara Criminal, pode ter sido comprado só como praxe, para evitar desconfianças. De Nova Iorque, como se sabe, é possível pegar outro voo para qualquer lugar do mundo e, simplesmente, virar poeira.

Chefe de milícia armada 3we4x

Para a operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) – calcada em informações levantadas por força-tarefa da Polícia Civil – Flavinho era um dos cabeças de milícia armada com atuação na região onde Brasil e Paraguai se misturam. A organização, conforme à denúncia ao Judiciário, era consorciada a outro grupo criminoso do mesmo tipo, baseado em Campo Grande.

Ambas as máfias tinham pai e filho, de famílias entrelaçadas, no topo do organograma. Na região vizinha ao Paraguai, com atuação do lado de cá e do lado de lá, os “donos” eram a família Georges. Em Campo Grande, quem mandava era Jamil Name – morto em 2020 na prisão, vítima de covid-, e Jamilzinho, ou Guri, apelidos de Jamil Name Filho, que está na cadeia desde a deflagração da Omertà, em 27 de setembro de 2019.

Juntas, de acordo com as denúncias feitas à Justiça, as duas organizações criminosas cometiam um arrazoado de crimes, de assassinatos por encomenda, mediante uso de armas de grosso calibre ilegais, até a corrupção de agentes de segurança pública: guardas municipais, policiais civis e um policial federal.

Flavinho é o filho mais jovem de Fahd Jamil, 82 anos, o homem um dia intitulado como “Rei” ou “Padrinho” da fronteira. Fuad, outra denominação para o octagenário, está atualmente em liberdade vigiada, esperando julgamento por acusações compartilhadas com o filho.

O patriarca vive em Campo Grande, sem contato com Flavinho, segundo afirmam as pessoas próximas dele e os defensores.

Flavio Georges nunca compareceu a um ato dos processos pelos quais responde.

Mas jamais deixou de enviar representação legal, ou seja, mantém um time de contratados na área do Direito. Sempre há um advogado falando por ele e apresentando suas argumentações e contestações. Assim como o genitor, alega inocência de todas as imputações.

Por causa da fuga, tem ação parada. Ocorre isso com a acusação de ser, junto com o pai, mandante da execução do chefe de segurança da Assembleia Legislativa Ilson Martins Figueireido, sargento reformado da Polícia Militar. Figueiredo foi metralhado em uma das avenidas mais movimentadas de Campo Grande, em julho de 2018.

A caça policial aos assassinos indicou crime de pistolagem, a mando de Fuad e Flavinho, para vingar o sumiço de Daniel Jamil Georges, o filho primogênito, dado como morto depois de mais de uma década sem qualquer sinal nem de corpo.

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O mesmo Flavio Jamil Georges que virou um espectro para a Justiça, e que só se manifesta por meio de advogados, está travando disputa judicial com as empresas em que comprou a agem para a viagem de Assunção a Nova Iorque. Ele e a irmã, a odontóloga Flavyanne Correia Jamil Georges, querem ressarcimento do valor pago pelas agens não usufruídas.

Informações dos voos entre Assunção e Nova Iorque
Informações dos voos reservados entre Assunção e Nova Iorque para Flavinho e a esposa (Foto: reprodução de processo)

A ação corre na 16ª Vara Civel de Campo Grande, onde está à espera de sentença. Não houve conciliação entre as partes.

A Capivara Criminal procurou a defesa dos irmãos na demanda judicial. Uma das indagações foi se o cliente vive em solo paraguaio, como é desconfiança de fontes ouvidas pela coluna, sob condição de preservação do nome.

Para essas fontes, a família já estava decidida a migrar ao Paraguai na época da viagem cancelada, para fugir dos os da Omertà. Quando a força-tarefa foi à mansão dos Jamil Georges em Ponta Porã, em junho de 2020, encontrou o lugar vazio.

Outra pergunta feita foi sobre a intenção de apresentar-se à Justiça, seguindo o que fez Fahd Jamil, depois de um ano e meio foragido, período vivido em local não revelado, apesar de tudo sugerir ser o Paraguai, onde a família sempre teve presença forte, além de negócios.

“Os fatos em relação ao processo se deram em época anterior ao processo criminal que ele responde, bem como não houve necessidade de audiência. Há mais de dois anos não tenho contato com Sr. Flávio”, respondeu Alex Derzi, o profissional de Direito contratado.

“A respeito desse processo, quando foi necessário, tratei com seus familiares”, acrescentou.

“Em relação a eventual intenção de se apresentar, não tenho essa informação, pois não atuo em seu processo criminal”, disse.

O caminho da reportagem, então, foi procurar a banca na área criminal, representada nas ações por Rafael Serra, de São Paulo. Não houve retorno. Se houver, esse texto será alterado para comportar a resposta.

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É possível pedir extradição? h6g5o

Não há informações sobre a existência de tratativas entre o Brasil e o Paraguai para captura de Flavio Correia Jamil Georges e consequente extradição. A Capivara Criminal procurou o Gaeco, responsável pelas acusações na operação Omertà, para saber se existe alguma providência nesse sentido.

Foi perguntado, por exemplo, sobre pedido para inclusão de Flavinho na divisão vermelha da Interpol, reservada aos bandidos mais procurados.

Veio uma resposta breve, tratando o tema como sigiloso.

“Em atendimento à sua solicitação informamos que, de acordo com o GAECO/MPMS, eventuais medidas de captura de foragidos são tratadas de maneira sigilosa”, traz o texto do e-mail recebido da assessoria de imprensa do Ministério Público de Mato Grosso do Sul.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Capivara Criminal, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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