Advogado ligado a facção caiu no raio-x de aeroporto com carregadores e munição 2dz4o
Bruno Ghizzi, advogado suspenso por integrar sintonia dos gravatas, foi flagrado pela Polícia Federal, em outubro de 2021, com dois carregadores e 15 munições, no Aeroporto Internacional de Campo Grande 3c672h
Era quinta-feira, 21 de outubro de 2021, quando dois policiais federais foram chamados ao setor de embarque do Aeroporto Internacional de Campo Grande, porque o aparelho de raio-x havia encontrado evidências de objetos proibidos na bagagem de um ageiro. Quando chegaram, os agentes encontraram dois carregadores de pistola .380 e 15 munições do mesmo calibre em uma pasta usualmente usada para transportar notebook.

A mala era de um advogado que, meses depois, ficaria conhecido como o pivô da operação Courrier, desencadeada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) em março de 2022, para desmantelar um núcleo de profissionais do Direito acusado de servir de pombo-correio e estafeta para integrantes da maior facção criminosa do País, dominante no crime em Mato Grosso do Sul.
Foi liberado diante do entendimento da autoridade policial de que não houve dolo na atitude de levar o armamento para o aeroporto. Os itens irregulares foram apreendidos.

Usou senha exclusiva de servidor 425qz
No dia desse episódio com a Polícia Federal, Ghizzi já estava sendo mais do que observado pelas autoridades. Isso porque, por volta de zero hora de primeiro de julho de 2021, havia usado a senha de um servidor do Poder Judiciário para fuçar o perfil de um delegado de Polícia Civil.
A partir desse fato, o fio da meada se desenrolou e transformou-se na investigação do Gaeco. No alvo, pelo menos 15 advogados e duas dezenas de presos, entre eles alguns considefrados cabeças da facção criminosa dentro dos presídios em Mato Grosso do Sul e em outros estados.
Ghizzi ou dois anos preso por causa dos indícios levantados pelo Gaeco. Segundo a investigação, em vez de advogar, ou a fazer parte da facção criminosa, até mesmo para fazer chegar aos clientes – comparsas segundo o Gaeco – itens vetados, como celular. Por causa disso, foi suspenso pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
A maior parte do tempo de cadeia, ficou no presídio fechado da Gameleira, situação incomum para advogados, que têm carceragem própria, no alojamento construído no Presídio Militar, no Jardim Noroeste. O motivo foi uma tentativa de incendiar o quarto onde ficava na ala especial dos profissionais do Direito.
Em dezembro, às vésperas do Natal de 2023, o advogado suspenso foi solto, mediante pagamento de R$ 39 mil de fiança e obrigatoriedade de monitoramento por tornozeleira eletrônica.
O pai dele, o defensor público Helkis Ghizzi, também acabou sendo preso, e depois solto, sob suspeita de dar apoio às atividades da facção criminosa. Assim como o filho, está sendo processado pelo Gaeco. A Defensoria Pública o afastou das atividades.
As acusações 6e52q
Bruno Ghizzi, 32 anos, é réu em quatro ações derivadas da operação Courrier, por corrupção ativa e por integrar organização criminosa, além de quebra de sigilo funcional, pelo uso da senha do servidor público, um chefe de cartório que acabou demitido do Judiciário.
Desde outubro de 2023, ou a ser réu em um quinto processo, relacionado à situação ocorrida no Aeroporto Internacional de Campo Grande. O fato parecia esquecido, mas a promotoria entendeu diferente da Polícia Federal.

“Segundo restou apurado, no dia e local acima mencionados, a equipe da polícia federal foi acionada pelos funcionários da área de embarque do aeroporto, pois, o ageiro identificado como BRUNO GHIZZI, ora denunciado, foi detectado pelo aparelho de raio-x tentando embarcar no avião portando 02 carregadores de pistola .380 e 15 munições .380”.
Denúncia do MPMS à 3ª Vara Criminal de Campo Grande
A acusação é de infração ao artigo 14 da lei 10826, o Estatuto do Desarmamento.
- “Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, ório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
- Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”
O inquérito relativo às munições e carregadores foi tocado pelo Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros). A instauração veio depois que policiais da unidade deram apoio ao Gaeco no cumprimento das ordens de busca e apreensão da operação Courrier e encontraram uma pistola 380 na casa de Bruno Ghizzi, além do termo de declarações prestado na Polícia Federal.
Quanto à arma, o entendimento é de que não havia crime, pois o advogado tinha o registro na PF.
“Em relação a arma de fogo apreendida diante do cumprimento do mandado de busca e apreensão extraído dos autos de n. 0027516-50.2021.8.12.0001 expedido pela 2° Vara Criminal Residual de Campo Grande-MS, haja vista que o denunciado BRUNO GHIZZI apresentou documentação da posse da arma de fogo Taurus, Modelo 838C, calibre .380 A, número de série KLU62220, o Ministério Público, deixa de ofertar denúncia, requerendo o arquivamento do presente em relação ao referido crime, com fundamento no art. 28 do Código de Processo Penal, ressalvado o disposto no art. 18, do mesmo codex.”, escreveu o promotor responsável, Alexandre Capiberibe.
Essa pistola, conforme as afirmações apresentadas por Ghizzi à Justiça, já havia sido vendida, por R$ 4 mil, e estava em trâmite de transferência junto ao setor específico da Polícia Federal.
O último andamento dessa causa penal foi a expedição de mandado de citação ao acusado, para responder em dez dias às denúncias. Esse prazo só conta quando Ghizzi for notificado.
Um habeas corpus impetrado em segundo grau tenta trancar trancar a ação, tendo como um dos argumentos o fato de a Polícia Federal não ter enxergado a situação como ível de abertura de inquérito, segundo documento acostado aos autos.
Ao votar o pedido de liminar, os desembargadores mantiveram o processo, em dezembro de 2023.

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A operação Courrier ainda não tem condenações. A ofensiva contra a “sintonia dos gravatas” enfrenta várias polêmicas e mudou de juiz porque o primeiro magistrado responsável, Marcio Wust, da 6ª Vara Criminal, se desligou do processo depois de ser flagrado em uma conversa suspeita com um dos réus, Marco Antônio Arantes de Paiva, advogado de São Paulo que durante muito tempo foi conhecido como defensor de Marcos Williams Herbas Camacho, o Marcola, considerado um dos bandidos mais perigosos do país.
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Outra polêmica envolvendo a operação reside na tentativa da defesa de Bruno Ghizzi de tirar os promotores do Gaeco da acusação. Ele se diz perseguido pelo grupo do Ministério Público especializado em combater o crime organizado e por isso apelou ao Judiciário para excluir o Gaeco das ações.
As tentativas têm sito frustradas. Na sexta-feira (12 de janeiro), a 2ª Câmara Criminal votou mais um recurso dos advogados de Ghizzi para tentar excluir o Gaeco das ações, e a resposta foi negativa, por unanimidade.
Indagado sobre o próximo o em relação a essa demanda, o advogado Flávio de Oliveira Moraes informou que qualquer decisão será tomada após análise dos autos. A decisão dos desembargadores ainda será publicada, para ar a valer.