Jovens reforçam importância de programas para que indígenas entrem na faculdade 49m5o

Em Mato Grosso, existem a Faind na Unemat e o Proind na UFMT z424i

Cursar o ensino superior é o sonho de muitos jovens e adultos. E isso, não é diferente para os povos indígenas de Mato Grosso. Contudo, jovens lideranças do estado ressaltam que ingressar na graduação é mais desafiador para pessoas de comunidades tradicionais.  

105 indígenas colaram grau pela Unemat, em 23 de setembro deste ano. (Vídeo: Deivid Sulzbacher Fontes)

Segundo eles, as dificuldades começam no o à universidade, mas se estendem no decorrer do curso. Por isso, defendem programas específicos e diferenciados de ingresso para os povos indígenas no ensino superior, que respeitem o jeito de ser e viver de cada povo.  

No estado, a Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso) e a UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) têm programas específicos para ingresso de indígenas. Na Unemat, que se tornou referência no Brasil e na América do Sul, existe a Faind (Faculdade Indígena Intercultural). Já na UFMT, o Proind (Programa de Inclusão Indígena).  

Unemat e Faind 1zk4t

Formado em 23 de setembro deste ano pela Unemat, o professor Gilmar Koloizomae, de 36 anos, da Aldeia Bacaval, do povo Paresi, disse que realizou um sonho ao concluir o curso, mas lembra que não foi fácil e viu de perto a dificuldade também enfrentada pelos colegas.  

Jovens reforçam importância de programas específicos no ensino superior para indígenas em MT
Gilmar Koloizomae concluiu o curso na Unemat em setembro deste ano. (Foto: Moisés Bandeira)

Na data, além de Gilmar outros 104 professores indígenas também colaram grau pela Unemat: 55 foram diplomados em pedagogia intercultural indígena e 50 em licenciatura intercultural indígenas. 

O programa de graduação da Unemat teve início em janeiro de 2001 e já formou 675 professores indígenas. A instituição também oferta mestrado desde janeiro de 2020 com o PPGecii (Programa de Pós-Graduação em Ensino em Contexto Indígena Intercultural), que já formou 20 mestres indígenas. 

A Faculdade Intercultural Indígena da Unemat também já ofertou 3 turmas de pós-graduação a nível de Especialização em Educação Escolar Indígena, formando 150 professores especialistas indígenas. 

Importância para os povos indígenas   1k4y3l

“Pude ver como é complicado pra gente, indígena, fazer uma faculdade. De todos os formados ali garanto que, se não fosse essa faculdade, muitos não teriam o ao ensino superior. A maioria das universidades tem vagas para indígenas, mas os indígenas não têm condições de fazer e ocupar essas vagas”, disse Gilmar. 

Colação de grau aconteceu em Barra do Bugres. (Vídeo: Deivid Sulzbacher Fontes)

Na Unemat, o curso funciona de forma diferenciada, onde as aulas acontecem em duas etapas durante o ano, uma presencial no campus em Barra do Bugres, onde é oferecido alojamento, alimentação e transporte para os estudantes e outra acontece nas comunidades indígenas. 

“Mesmo que várias pessoas critiquem a Faculdade Indígena, é a única forma, nesse momento, dos indígenas terem oportunidade de ter um curso superior. Porque lá na faculdade, tem toda uma estrutura, o alojamento, a agem, roupa lavada, tudo que a gente precisa”, ressaltou Gilmar.   

Apesar da importância da Faind para os indígenas, a coordenação do programa explica que em cada etapa é necessário que a instituição corra atrás de parceiros e recursos para garantir a realização das aulas.  

“Em cada etapa é uma negociação, isso depende muito de esforço institucional, a gestão de universidade, do órgão cooperador, e energia em cada etapa. Então, a gente tem a maior vontade de que essa logística se torne uma política pública, porque a gente não sabe o que vai acontecer no ano que vem”, explicou Adailton Alves da Silva, coordenador do PPGecii (Programa de Pós-Graduação em Ensino em Contexto Indígena Intercultural).

Outra dificuldade é o alojamento, que segundo os estudantes, não oferece condições adequadas. Mas, a coordenação adiantou que o local a por reforma, que já era para ter sido finalizada, mas acabou atrasando.  

“O alojamento é uma estrutura que já vem sendo usada há mais de 20 anos e está sendo reformada com o curso funcionando, o que gera uma série de dificuldades. A reforma já era pra ter concluído com essa turma, mas não foi possível”, explicou o diretor político-pedagógico e financeiro do câmpus de Barra do Bugres, Fernando Selleri.  

Jovens reforçam importância de programas específicos no ensino superior para indígenas em MT
Programa de graduação da Unemat já formou 675 professores indígenas. (Foto: Moisés Bandeira)

Novas turmas  2q5w1s

Para este ano, a Unemat prevê a oferta dos cursos de matemática e enfermagem intercultural indígena. Apesar da tradição em oferecer cursos de licenciatura, o coordenador informou que a expectativa é oferecer 50 vagas para o curso de enfermagem e que o edital seja publicado ainda neste ano, com previsão para início das aulas já no primeiro semestre de 2023.   

“É uma experiência nova, é a primeira vez que estamos ofertando um curso de bacharelado, mas ele foi muito bem pensado por profissionais da área de enfermagem, que tem experiência com a educação indígena, também. Então, nossas expectativas são muito boas. E esperamos a partir dessa experiência poder trazer outros cursos de bacharelado”, informou Fernando Selleri.  

UFMT e Proind   2a3dr

Já a UFMT, que tem o Proind, que garantia o o de indígenas do estado na instituição, por meio de um processo específico e diferenciado nos cursos de graduação da instituição, informou que o programa começou em 2008 oferecendo, conforme a Resolução Consepe 82/2007, 90 vagas em um período de cinco anos. 

Ao todo, 59 estudantes de cursos de graduação nos campus da UFMT em Cuiabá, Araguaia, Sinop e Rondonópolis, que atualmente compõe a UFR (Universidade Federal de Rondonópolis), participaram do programa. 

Contudo, no momento, não existe previsão para que novas vagas e que um novo vestibular específico para os indígenas seja realizado na instituição.  

Formada em ciências sociais pela UFMT, em 2017, Marta Tipuici do povo Manoki afirma que o programa foi muito importante para formar indígenas em cursos de graduação, que hoje atuam em suas áreas em prol das comunidades, em Mato Grosso. 

Jovens reforçam importância de programas específicos no ensino superior para indígenas em MT
Marta Tipuici se formou em ciências sociais pela UFMT, em 2017. (Foto: Arquivo pessoal)

“A gente vê muitos indígenas trabalhando na área da saúde, que se formaram a partir desse programa. Embora, a gente tenha muita dificuldade para formar ali, principalmente com a questão da permanência, a gente conseguiu. E, infelizmente, essa política está parada, a gente não tem notícias se pode acontecer novamente”, lamentou. 

Apesar da disponibilidade de cotas para o ingresso de indígenas pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada), ela afirma que mesmo assim é difícil que consigam ar a universidade e, por isso, defende a continuidade do programa. 

“Quando estava na universidade fizemos um levantamento que mostrou que pelas cotas os indígenas e os quilombolas não conseguiam ar a Universidade. Então, eram pouquíssimas pessoas oriundas de terras indígenas que conseguiram entrar na universidade via cotas”.    

Jovens reforçam importância de programas específicos no ensino superior para indígenas em MT
Atualmente Marta Tipuici cursa o mestrado na USP. (Foto: Arquivo pessoal)

Mas, lembra que quem conseguiu ingressar na UFMT enfrentou muita dificuldade e discriminação. Ela conta que chegou a ouvir que a presença de indígenas poderia baixar a qualidade do ensino na instituição.  

“Muitos pensavam, que a entrada dos indígenas mancharia o nome da universidade, pois poderia baixar o índice da Universidade, mas isso foi ao contrário. A gente contribuiu para que a universidade pudesse ser uma universidade mais plural”. 

Como exemplo, citou a bolsa monitoria, que foi criada a partir da demanda dos indígenas e que se tornou uma política da instituição, onde todos os estudantes podem ter o. Nessa modalidade, um aluno recebe uma bolsa para ajudar colegas, que tenham dificuldade nas disciplinas.  

“Tive o a um monitor, depois isso ampliou para universidade. Tanto é que criou a bolsa monitor e foi a partir dos estudantes indígenas. Isso prova que as dificuldades não são só dos estudantes indígenas, existem outros estudantes que tem dificuldade, tanto é que a bolsa foi ampliada para todos os cursos”, lembrou.  

Hoje estudante de mestrado em antropologia social na USP (Universidade de São Paulo), ela afirma que o programa foi essencial para sua trajetória acadêmica e espera que possa continuar e que mais jovens indígenas cursem a graduação.  

“Através desse programa de inclusão indígena puder ter o a outra universidade. Estou fazendo mestrado na USP. Sou muito grata as políticas de inclusão que pude ter o. Então, acredito que muitos outros jovens indígenas, que estão aí querendo cursar uma universidade, eles devem ter esse direito, de poder entrar nessa universidade. A gente espera que a UFMT consiga voltar com essa política”. 

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