Dos rituais de transformação à defesa do meio ambiente - conheça a cultura dos povos do Xingu 2e5658
No primeiro episódio da série, os repórteres Gustavo Nolasco e Fábio Barros mostram traços importantes da cultura indígena 413969
A partir desta segunda-feira (27), o Primeira Página e a TV Centro América vão exibir uma série especial chamada “Originários”, que vai mostrar um pouco da vida e da cultura dos povos indígenas de Mato Grosso. (Assista o vídeo abaixo).
No primeiro episódio, os repórteres Gustavo Nolasco e Fábio Barros, mostram o início da viagem até chegarem ao município de Gaúcha do Norte, a 721 km de Cuiabá. No percurso, lavoura e floresta fazem parte da paisagem.
No limite do município, a equipe de reportagem alcança o Parque Nacional do Xingu. Uma área gigantesca de mais de 2,6 milhões de hectares, sob responsabilidade dos povos indígenas.
De acordo com Ewésh Yawalapiti Waurá, da ATIX (Associação Terra Indígena do Xingu), este é o primeiro território a ser demarcado na década de 60. “A preservação é fundamental para nós”, comenta ele.
Um dos maiores corredores verdes do planeta tem tanta riqueza que se transformou no palco de vários conflitos. “Cada vez mais o desmatamento avança entorno do nosso território”, destacou Ewésh Yawalapiti Waurá.

A Polícia Federal tem acompanhado a situação, e de acordo com o delegado Thiago Pacheco, algo precisa ser feito urgentemente. “A ação no Parque Indígena deve ser rápida, pois a tendência é de que o desmatamento ilegal ceda lugar para áreas de garimpo”.
No interior da floresta, os povos indígenas representam o escudo para impedir o avanço da devastação. “Eu tô aqui pra lutar pelo povo, comunidade Kuikuro”, disse o cacique Afukaka Kuikuro.
Mas até os guerreiros da aldeia estão com medo. “O rio qualquer hora morrer. Muita soja, e por isso estou preocupado. No caso aqui, a gente está lutando para preservar pro o futuro, para os nosso netos”, disse o cacique.
O professor Aturi Aweti também teme o que pode acontecer com os indígenas, caso o desmatamento não seja interrompido.

“A gente fica com medo, né, sem saber o que vai acontecer amanhã. Nesse momento, vivemos com preocupação, pois não sabemos o que vai acontecer, se o povo vai entrar para procurar ouro. A gente vai ficar sem fazer nada vendo o povo entrar? O indígena não vai poder se defender. Isso que nos preocupa. Isso que é ser indígena em 2023”, comentou ele.
Também há dias de festa 6cu4e
Na aldeia Ipatse Kuikuro, a mais populosa do Alto Xingu, onde vivem 380 pessoas, é realizada da Jawari, a principal festa do ano. Desta vez, o homenageado é Agaku Kuikuro, que morreu no ano ado. Ele era mestre de cultura e dedicou os últimos anos a manter as tradições da aldeia vivas para os mais jovens.
“Estamos em festa Jawari. Estamos homenageando as pessoas importantes”, disso o cacique Yanama Kuikuro.
E o cacique completa: “Hoje em dia só juventude, não tem mais os anciões. Eles estão organizando isso. Eu sou um dos que estão organizando aqui, conforme meu pai me orientou por muito tempo quando ele estava vivo”.
O luto neste lugar é um sentimento celebrado e une a comunidade: caciques, guerreiros, mulheres e crianças dançam e cantam para atrair bons espíritos. O ritual também é realizado no interior das casas.

Reclusão na puberdade l212b
Mas, essa não é a única tradição preservada. Pela fresta da oca, o olhar curioso da Divina, de 12 anos, que está reclusa há 11 meses.
“Eles crescem juntos, e na primeira menstruação da mulher ela entra na reclusão e o homem também. Quase um ano sem poder sair, sem poder tomar sol. E durante o tempo em que estão reclusos, aprendem a fazer muita coisa”, explica o cacique Mapi Aweti.

A reclusão dos jovens também inclui as arranhadeiras – toda semana os adultos arranham os corpos dos mais jovens para que no processo, que pode durar até três anos, se tornem homens fortes para defender os interesses da aldeia.
Luta tradicional 372gr
Os rituais de agem, segundo a cultura deste povo, são para que os jovens fiquem prontos também para o Huka Huka – uma luta tradicional entre os povos.
Participar dos combates exige pintura especial. Arikitua Aweti, sobrinho do cacique explica o desenho feito em sua pele. “Isso aqui significa um gavião”.
Aldeia Aweti 2s13b
Após a preparação, o grupo sai da casa principal e começa a percorrer toda a aldeia. Esse ritual chamado Taquara é uma forma de alegrar a todos.

Também cabe aos homens proteger as músicas tradicionais da extinção. “Pra não esquecer, meu pai ou tudo pra mim, e agora meu filho também está aprendendo. Se ele não aprender, aí acaba essa música”, afirmou Lahi Kamaiurá, que é cantor.
A transformação das mulheres 5h5v4h
E do coração da floresta se levanta outra força: as mulheres!
A liderança feminina nas aldeias ganha ainda mais relevância diante da entrada da cultura não-indígena no Parque Xingu.

“As mulheres têm que se unir para poder lutar junto com os homens. Essa é a política que eu estou fazendo dentro da aldeia”, disse Núbia Tapirape, de 33 anos.
E manter a tradição forte é também uma ferramenta para combater um inimigo invisível.
“A gente tenta dialogar de forma mais crítica em relação a entrada da cultura não-indígena. Ela está entrando como um furacão, e a gente nem percebe muitas vezes”, completou ela.