"Ô mãe": a emoção de Evani ao recuperar celular e ver gravações de Carla, jovem que foi vítima de feminicídio 2n6q52

“Eu vou filmar o fogo. Ô, mãe…” Na gargalhada, Carla narra o incêndio que via à frente, na região do Bairro Tiradentes, quando voltava junto com a amiga do mercadinho, onde tinha ido comprar café. O vídeo foi feito no dia do desaparecimento dela e é o último registro que resta da filha à dona Evani.

Depois da condenação do assassino de Carla Santana Magalhães, de 25 anos, a família teve de volta o celular da vítima. Era um pedido da dona de casa Evani Santana, de 59 anos, que queria guardar todas as recordações de Carla.

“Ô, mãe… O tempo todo ela me chama, tudo que ela vai fazer, ela tem que chamar a mãe”. É essa a reação de Evani ao ouvir a voz da filha, um ano após a morte.

Último vídeo de Carla mostra incêndio gravado horas antes do crime. (Imagens: Arquivo Pessoal)

O aparelho celular voltou à família no último dia 23 de setembro, trazendo centenas de fotos, inclusive do último aniversário de Evani ao lado da filha, comemorado 10 dias antes do crime.

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Com celular carregando na tomada, mãe de Carla a pelas fotos da filha que lhe acalmam o coração. (Foto: Paulinha Maciulevicius)

Cinco parcelas pagas 1g2128

O celular era novo. Carla tinha pagado apenas cinco parcelas, mas já acumulava memórias de toda uma vida. “Eu falei que o celular eu não ia deixar, e não era nem pelo aparelho, mas pelas fotos. Nele estão as únicas fotos que tenho com ela depois da Carla adulta”, explica a mãe.

Basta pressionar um botão para ver a filha sorrindo na Lagoa Itatiaia, um dos lugares que Carla mais gostava de ir para tomar tereré. Como toda jovem, selfies, vídeos, homenagens e montagens compõem a galeria de fotos que hoje é o alento para a mãe.

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Foto de fundo é de Carla na Lago Itatiaia, um dos lugares que a jovem mais gostava de ir. (Foto: Paulinha Maciulevicius)

De fala mansa e com o peso da saudade nos ombros, dona Evani diz que ainda tem receio de mexer no aparelho sozinha. O medo é que ela, sem querer, apague as lembranças a que se agarra agora.

“O meu celular é bem simples, não é de foto, essas coisas. Então, eu tenho medo de apagar o que eu não quero que seja apagado”, se justifica

O celular foi entregue pela justiça em perfeito funcionamento, apenas o número da vítima não funciona mais devido ao tempo. Mas isso pouco importa, o valor está no olhar que Carla tinha para com a família, a melhor amiga, e a vida.

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Vídeo feito por Carla, também no dia do crime, mostra interação dela com os cachorros dentro do quarto. (Imagens: Arquivo Pessoal)

Como a maioria das pessoas, Carla vivia com o celular na mão e retratava o que acontecia ao seu redor. O vídeo em que ela aparece chamando atenção das cachorrinhas em cima da cama também é do dia do crime. “Jesus amado”, repreende a jovem na brincadeira.

“Ela fazia uma bagunça com essas cachorras e tratava elas como se fosse criança”, comenta a mãe. Ao fundo, a voz de Carla diz: “Está certo isso gente? Não tá”, brinca.

O quarto da jovem segue intacto na casa e serve como refúgio quanto a saudade aperta doído. Volta e meia, dona Evani também sente o cheiro do perfume da filha exalando pela casa, como se Carla estivesse ali a abraçando.

“Tem dia que eu sinto ela, como se ela tivesse me abraçando ali”, descreve.

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Na última selfie, filha usa a mesma máscara que mãe utiliza durante entrevista. (Foto: Paulinha Maciulevicius)

Última foto 5j1e59

Também é do dia do crime, 30 de junho de 2020, a última foto de Carla. Uma selfie dela na varanda de casa usando uma máscara com estampa de âncora, justamente a mesma que dona Evani usa no dia da nossa conversa. “É a última que vai ter dela, no mesmo dia dos vídeos, no mesmo dia de tudo”, diz a mãe.

Ao refletir com os olhos sobre a imagem da filha, Evani diz que as fotos, o vídeo, a voz da filha, ainda que pelo celular, trazem um pouco de Carla de volta.

“Sinto que ela está mais perto de mim. Eu fico mais tranquilo, mesmo sabendo que ela não está aqui, mesmo sabendo que ela não vai me voltar, ver as fotos dela me acalma. É como se eu estivesse segurando ela de volta nos meus braços”.

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Último aniversário de Evani ao lado da filha, 10 dias antes do assassinato de Carla. Dona Evani fazia 58 anos. (Foto: Paulinha Maciulevicius)

Crime 4k3m

Carla Santana Magalhães, de 25 anos, despareceu na noite de 30 de junho de 2020, na frente da casa onde morava com a mãe, no Bairro Tiradentes, em Campo Grande. Três dias depois, o corpo de Carla foi encontrado sem as roupas, na calçada de um bar, na mesma rua onde ela sumiu.

No dia 19 de julho, o vizinho da vítima, Marcos André Vilalba Carvalho, foi abordado por policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar, que encontraram vestígios de sangue dentro da quitinete onde ele morava, ao lado da casa de Carla.

Ele acabou preso e confessou que matou a jovem por não tê-lo cumprimentado durante um encontro na rua de casa. Durante as audiências, o assassino afirmou que depois de beber e usar drogas, encontrou Carla e deu um golpe mata-leão para imobilizá-la e arrastá-la para dentro da própria casa. Marcos ainda estuprou e matou a vizinha por medo de ser denunciado.

Julgado no dia 13 de agosto de 2021, Marcos foi considerado culpado e recebeu a sentença de 31 anos e 9 meses de prisão pelo homicídio, estupro e ocultação de cadáver, além de 1 ano e 9 meses de detenção (diferente de prisão) por vilipêndio de cadáver.

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