Mães de UTI: histórias de quem viveu o medo antes do Dia das Mães 5w92y

O que deveria ser o início de um novo capítulo feliz se transformou em um mergulho na dor e na incerteza 282472

O nascimento de um filho é um momento esperado com ansiedade, alegria e esperança. Mas, para algumas mães, o que deveria ser o início de um novo capítulo feliz se transforma em um mergulho no medo, na dor e na incerteza. Neste Dia das Mães, duas mulheres, Angélica e Tainara, compartilham suas histórias de sobrevivência ao lado dos filhos recém-nascidos, ambos internados em UTIs neonatais logo após o parto.

Mães com filhos recém nascidos na UTI (Foto: Arquivo Pessoal)
Mães com filhos recém nascidos na UTI (Foto: Arquivo Pessoal)

Ao Primeira Página, essas mães revelam um lado pouco falado da maternidade: o das mães que não puderam sair com seus filhos nos braços logo após o parto.

Angélica e Leonardo 6i171t

Angélica com o filho recêm nascido na UTI (Foto: Arquivo Pessoal)
Mães de UTI: Angélica com o filho recêm nascido na UTI (Foto: Arquivo Pessoal)

Leonardo foi o primeiro e único filho de Angélica. Um bebê muito desejado, que chegou em plena pandemia, após uma gestação sem complicações.

O parto cesáreo ocorreu na madrugada de 22 de abril de 2020, e tudo parecia perfeito, até que a moça da limpeza percebeu que algo não estava bem com o recém-nascido. A médica de plantão, Aby Jaine, foi chamada para realizar novos exames.

“A dra Aby Jaine preocupada pegou meu bebê nos braços e começou a examinar, pediu exames de urgência, fez tudo e me informou que ele deveria ser entubado, pois estava com muita dificuldade para respirar”, lembra Angélica. 

Após descobrir que o bêbe havia aspirado mecônio durante o parto, Leonardo precisou ser entubado com urgência, em meio a uma UTI lotada e carente de equipamentos. A médica ordenou com urgência o uso de respiradores recém-chegados para tratar pacientes de Covid.

A mãe, ainda sob o efeito da anestesia da cesárea, entrou em choque. “Eu fiquei apavorada! Pois o caso dele era super delicado! Por conta da dificuldade da respiração, o peito dele ali a região ficou inchada!”

Leonardo na UTI (Foto: Arquivo pessoal)
Leonardo na UTI (Foto: Arquivo pessoal)

Devido ao quadro perigoso e aos equipamentos do filho tão pequeno, Angélica não conseguia ficar por muito tempo na UTI.

“Depois da intubação fui lá ver ele, não tinha coragem de ficar lá, fiquei muito impressionada, porque não podia pegar, não podia alimentar, meu peito jorrava leite e ele não podia mamar, ficava lá no berço imóvel, sedado. Eu fiquei muito perdida, não conseguia no primeiro momento ficar ali, parecia pesadelo e eu não tinha forças e nem coragem para enfrentar aquela situação”.

Angélica

Após falhas nas primeiras medicações, a médica avisou que a próxima tentativa seria a última possível. Naquele momento, Angélica diz ter questionado a sua fé e a reconstruiu diante da televisão, enquanto ouvia uma música de Gusttavo Lima dedicada a Maria. “Fiz uma oração e entreguei a vida do meu filho.”

No dia seguinte, veio a notícia: Leonardo havia reagido, porém ainda faltava confirmar com resultados de exames. Em dez dias, ele teve alta, contrariando todas as expectativas médicas. 

“A notícia da alta do hospital foi recebida com muita alegria! Porque como a melhora dele foi também muito rápida, foi novidade para todos”.

Angélica ainda destaca que o período em que ficou na UTI com Leonardo foi carregado de dúvidas, medos e incertezas.

“Foi um período muito triste da minha vida, se não o mais triste! Ouvindo coisas descabidas de pessoas sem noção! Eu fiquei com muito medo mesmo! Falavam que meu bebê teria sequelas, com sequelas ou não queria meu bebê vivo”.

Angélica e Leonardo (Foto: Arquivo pessoal)
Dia das Mães: Angélica e Leonardo (Foto: Arquivo pessoal)

Hoje, Leonardo é uma criança saudável, feliz e amorosa. “Ser mãe dele está sendo uma experiência maravilhosa! Ele é a luz da minha vida, com a chegada dele nunca mais me senti sozinha”, conclui Angélica.

Tainara e Valentina 1c6760

Para Tainara, a maternidade também começou de forma inesperada. Formada há pouco tempo, engravidou sem planejamento. A gestação correu bem até o último mês, quando foi diagnosticada com pré-eclâmpsia.

“A médica resolveu fazer o parto no dia seguinte. Essa atitude salvou a minha vida e a da minha pequena”, lembra.

Tainara após o parto de Valentina (Foto: Arquivo pessoal)
Tainara após o parto de Valentina (Foto: Arquivo pessoal)

Valentina nasceu, mas logo apresentou problemas digestivos e precisou ser transferida com urgência. 

“Quando ela nasceu começou a jogar leite para fora ou seja não estava fazendo digestão e precisou ser avaliada, a pediatra que a atendeu simplesmente levou minha pequena no quarto com uma sonda, falando que ela precisava ser transferida” 

Enquanto a bebê era levada ao hospital El Kadri, Tainara ainda estava internada, enfrentando o próprio quadro delicado de saúde devido a pré-eclâmpsia.

“Quando recebi alta, saí sem minha filha nos braços. Entrei em depressão pós-parto.”

Taianara

Foram três meses de peregrinação entre UTIs, internações e diagnósticos inesperados. Valentina ou por uma limpeza intestinal e, logo depois, foi transferida para a Santa Casa.

Lá, descobriu-se a causa das dificuldades: uma cardiopatia rara chamada Anomalia de Ebstein. Ela precisava de uma cirurgia que só poderia ser feita em São Paulo. Até estar preparada, permaneceu na UTI por 72 dias.

O trauma marcou profundamente a jovem mãe, que chorava todos os dias ao chegar em casa. Ela também não atendia mais o telefone e nem respondia mensagens, sabendo que o assunto seria a filha estar no hospital. 

“O medo era sempre enorme de perder minha pequena, até hoje não compro nada que seja branco, porque na minha cabeça são roupas usadas por crianças que falecem”. 

Tainara relata que começou a cuidar da filha na UTI após acompanhamento psiquiátrico e apoio das enfermeiras. 

“Me ajudou muito a aprender a cuidar da pequena, até porque depois que ela recebeu alta ficamos 6 meses sem poder sair de casa, ela não podia pegar nenhuma infecção devido a não ter tomado as vacinas, recebeu alta tomando mais de 12 medicamentos”.

Quando Valentina completou 1 ano e 7 meses, foi levada para São Paulo, onde ou por uma cirurgia de grande porte. 

Quase sofreu falência renal, e ou pelo risco de fazer hemodiálise, ou por procedimentos de urgência e sobreviveu.

Tainata, Valentina e enfermeiras após alta médica (Foto: Arquivo pessoal)
Tainata, Valentina e enfermeiras após alta médica (Foto: Arquivo pessoal)

“Eu saí da Santa Casa me sentindo a pessoa mais incrível do mundo, sabe o tipo “mãe maravilha” com meu tesouro nos braços”.

Tainara

Com quatro anos, Valentina foi diagnosticada com microcefalia e autismo, e continua em acompanhamento médico. 

“Hoje nossos dias são entre terapias, médicos,  lutando contra o preconceito  e buscando uma melhor qualidade de vida para a Valentina. Tive que deixar meus sonhos e planos todos para trás, mas hoje vivo os sonhos da minha pequena”. 

Como uma mãe atípica, Tainara tem dias difíceis que relaciona a uma montanha-russa, com momentos tranquilos e dias de crise e choros.

“Ao mesmo tempo que em crise ela me deixa sem chão, quando as crises am é ela que me abraça e me acalma”. 

Hoje com 12 anos, Valentina transformou vidas e é a fonte de energia para todos os dias de Tainara.

“Sigo sendo mãe… de UTI, mãe solo, mãe atípica… ou simplesmente sendo mãe. Existem duas Tainaras, a de antes de ser mãe, que não se preocupava com nada e essa Tainara que hoje vive para ver uma pessoinha bem”.

Tainara
Valentina e Tainara (Foto: Arquivo pessoal)
Valentina e Tainara (Foto: Arquivo pessoal)

Dia das Mães 2n24e

As experiências das mães Angélica e Tainara são diferentes, mas atravessadas por sentimentos parecidos: o medo de perder um filho, a impotência diante de aparelhos e diagnósticos, e a força que só o amor de mãe é capaz de fornecer.

Depois de tudo o que viveram, Angélica e Tainara dizem que o Dia das Mães nunca mais será apenas uma data comum no calendário.

Elas celebram não apenas a maternidade, mas a vida e a vitória sobre os dias mais difíceis que já enfrentaram. 

Na casa de Tainara e Valentina o Dia das Mães será em família, reunidas com avó, tia, e bisavó. 

“Buscamos estar sempre reunidas. Somos muito família e não abrimos mão de estarmos juntas. A chegada dessa mocinha foi para aumentar a fé  de toda a família e amigos”.

Neste Dia das Mães, mais do que flores ou presentes, Angélica e Tainara celebram a vida, a própria e a dos filhos que lutaram desde o primeiro respiro.

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Comentários (1) 1j10k

  • Rosa Lobo

    ei por isso em 2023, e uma experiência que não desejo a ninguém, meu filho ficou três meses no hospital regional em Campo Grande, mas graças a Deus sai de lá com meu filho nos braços, e até hoje considero o pessoal de lá minha família.

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