O silêncio pode ser uma forma de se comunicar 406y20

Falar menos pode fazer bem para a sua saúde e evitar problemas. Este é o principal conselho do livro ‘STFU: The Power of Keeping Your Mouth Shut in an Endlessly Noisy World’ (ainda sem versão em português), lançado neste ano nos Estados Unidos. A mensagem no título, numa tradução literal é: Cale-se! O Poder de Ficar com a Boca Fechada num Mundo Infinitamente Barulhento. O autor, o jornalista americano Dan Lyons, relata na publicação os problemas que enfrentou por não conseguir ficar quieto e por falar demais em diferentes situações: em família, no trabalho e na internet.

Por essa razão, ele defende que silenciar-se, muitas vezes, pode ser a solução para manter a saúde mental e emocional. O jornalista explica que é preciso ter mais capacidade de ouvir e falar o que geralmente cria conexão. Isso significa conversar com profundidade sobre assuntos que, de fato, nos interessam e não falar por falar, simplesmente para preencher o silêncio.

Em outro livro sobre o tema, ‘O Silêncio Vale Ouro: Como cultivar a quietude e viver com mais energia, clareza e conexão’ (editora Sextante), os autores Justin Zorn e Leigh Marz afirmam que o silêncio não é apenas a ausência de ruído. É uma presença que traz energia, clareza e promove conexões profundas. Este livro mostra como lidar com o ruído em nossos ouvidos, telas e mentes. E apresenta práticas individuais e coletivas para criar paz no cotidiano. Uma dica importante: é preciso fazer uma pausa para pensar antes de dizer as coisas. Isso diz respeito a “descansar” o mecanismo mental de resposta.

Falar o essencial pode ser terapêutico. Refletir antes de comentar ou responder uma mensagem pode evitar futuras explicações ou retratações. E, com frequência, ao parar para refletir, chegamos à conclusão que não vale a pena comentar ou responder. Quantas confusões e brigas seriam evitadas se as pessoas optassem pelo silêncio em vez de escrever ofensas e comentários maldosos em redes sociais ou em grupos de mensagens!

Ficar em silêncio, às vezes, é necessário. Calar-se também é uma forma de se comunicar. Quando, por exemplo, numa discussão você toma a decisão de não responder a xingamentos e ofensas, você está comunicando que sua escolha foi pela sensatez e não pela discórdia. E mais! Quando a sua opção é pelo silêncio você está comunicando que:

• não quer ou não tem nada para contribuir naquela conversa;
• prefere analisar melhor o contexto para depois falar;
• prefere poupar sua energia e não entrar numa conversa infrutífera,

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Que fique claro, porém, que o silenciar defendido aqui não é se omitir. Não podemos nos calar diante de injustiças e situações que devem ser divulgadas ou denunciadas. A reflexão é sobre como a fala incessante pode nos trazer dificuldade para ouvir. Quem fala demais geralmente tem dificuldade de ouvir o outro ou de ouvir sem interromper o outro.

O silêncio não precisa ser motivo de angústia. O silêncio pode ser a busca por respostas e paz interior. Que o digam os adeptos da meditação, que é uma técnica que incentiva o silenciar para buscar o equilíbrio das emoções.

Na coluna da semana ada, a reflexão foi sobre as ‘conversas difíceis, porém necessárias’. Mas quando a conversa não é necessária, não vai ajudar você a ficar menos ansioso, vai sugar sua energia, tirar seu sono e pode ser motivo de arrependimento futuro, reflita se o silêncio não pode ser mais vantajoso. Feche a boca e curta a paz anterior de ficar em silêncio.