Não quero casar de novo 4q6l6j
Por que mulheres que deixaram o posto de esposa não querem voltar? 3f535g
Você que já morou sob o mesmo teto que um homem e se separou ou ficou viúva, me responda sem pensar: Você quer se casar de novo?
Fiz essa pergunta em uma enquete no tiktok e a resposta foi contundente: 11,8 mil comentários em um vídeo de 1,2 milhão de visualizações. Dessas respostas, 95% delas contém uma mesma palavra: Não.
Em menos de 24 horas o vídeo já tinha 6 mil comentários e me oferecia, ao mesmo tempo, um estudo antropológico e um recorte social. Escolhi a dedo um dos comentários para gravar o vídeo seguinte, um exemplo do porquê a esposa que vira ex, nunca mais quer se vestir de noiva: no Brasil, o casamento é um péssimo negócio para a mulher.
Para entender o presente, precisamos partir do ado. Desde a chegada dos europeus, nossa sociedade foi composta assim: homens provedores, com direito a tudo, e mulheres dentro de casa, aceitando tudo, criando crianças e operando a vida para que o homem pudesse vivê-la. Ela aceitava amante, doença, violência, filhos bastardos, herança dilapidada, tudo para não viver a desonra de ser abandonada.
Por isso que naquela época ter filha era um problema, as famílias precisavam sustentá-la até que ela se casasse e virasse problema de um homem – o que acontecia muito cedo. Os bailes de debutantes existiam para isso, mostrar à sociedade que a moça já estava disponível para o casamento. Não raro, homens muito mais velhos desposavam essas meninas, e o resto você já sabe.
De lá para cá a sociedade evoluiu muito, mas o costume não. Ainda se espera da esposa uma postura obediente e funcional, cuidado da casa, dos filhos e do marido. A diferença é que agora essa mulher também trabalha e simplesmente foi obrigada a acumular jornadas, vivendo uma vida de puro esgotamento, porque homens ainda são educados para serem servidos.
Mulheres que já viveram essa rotina de exaustão, nunca mais querem voltar. Mesmo a segurança emocional de ter um parceiro e a segurança financeira de não bancar as despesas de uma casa sozinha, não são o suficiente para dividir o teto. A maior parte dos comentários eram nesse sentido: mulheres dizendo que amam sua liberdade, sua casinha limpa e cheirosa, e sobretudo, a alegria de fazer o que quiser sem a obrigação de atender um marido que se comporta como um patrão.
“Ah, mas não se pode generalizar” me dirá o homem que precisa mais de uma boa psicóloga do que espaço para opinar na internet. Se você é um bom marido, esse texto não é sobre você. Mas se ele te incomoda, quem sabe não é a hora de você questionar se realmente é um bom marido, ou se sua esposa está infeliz e você apenas não reparou?
Achei interessante que muitas também disseram que querem namorar, se relacionar, mas cada um na sua casa. Essa é a maior prova de que o problema dessas mulheres não é o trauma com o amor, é o trauma com a configuração do casamento. Ela quer o equilíbrio de um relacionamento, sem o peso de precisar servir pessoas pelo simples fato de ser mulher.
Tudo seria mais fácil se houvesse no homem a consciência de divisão de tarefas 50% a 50%, não como um favor, mas como a decisão lógica de pessoas iguais dividindo a caminhada. Segurar metade do fardo da vida a dois não é uma caridade que você faz com sua mulher. É o que se espera de um adulto funcional.

Por um lado, acho triste que a mulher perca sua fé no casamento e desista de caminhar lado a lado com alguém, por ter conhecido a canseira do papel de esposa com 3 jornadas. Por outro lado, entendo o amor pela solitude. A coisa que mais gosto na vida é chegar do trabalho e encontrar minha casa arrumada, limpar apenas minha própria bagunça, dormir na hora que quero e comer o que quero. Não sou responsável por mais nada. Essa liberdade que elas tanto falam, também não troco por nada. Eu adoro um namoro de portão, cada um no portão da sua casa.
E por fim, uma constatação que me deixou muito animada: finalmente vejo mulheres falando de felicidade sem atrelar isso a um homem. Até que enfim uma evolução real daquele costume que gerou a dependência emocional e adoeceu mulheres ao longo dos tempos. Apesar de sermos socializadas para achar que o casamento é o auge da vida, não anulamos outros sonhos por isso.
Casamento tem que ser soma, um pelo outro. Quando você abusa do direito de partilhar, a a ser um contra o outro, um eterno combater e defender até que alguém tome uma atitude. O fato de ver o matrimônio como um o natural da vida e não como única meta da mulher adulta, nos livra de um destino que aos poucos tira o brilho de qualquer amor. Se for dona do seu destino, você casa porque quer e não porque precisa. Acredite, essa é a diferença.