Críticas sociais: humanos ganham pele de onça-pintada em obras de artista 3o354w
Onça-pintada sempre foi um dos animais que encantaram o artista plástico José Lisbran, que pinta humanos com pele do animal 5t176a
Em uma das vezes em que estava imerso entre as tintas e telas em seu ateliê no bairro Poção, em Cuiabá, José Lisbran, de 45 anos, decidiu que precisava encontrar a própria marca pessoal para suas obras. Foi quando se lembrou da primeira vez que viu uma onça-pintada de perto no Pantanal.
Ele não teve dúvidas de que a pele do animal aliado a críticas sociais eram o que ele estava buscando. José conta que quando viu a onça-pintada de perto, trabalhava em uma pousada no Pantanal de Mato Grosso.

A exuberância do pelo amarelo-dourado e o rugido imponente tomaram a memória do artista no momento em que ele buscava criar suas novas obras. Da inspiração repentina, surgiu a primeira série de telas marcadas pelo novo estilo, nomeada como “Amor de onça”.
“Estava folheando uma revista e via foto de uma pessoa com uma criança nos braços, me veio um estalo de colocar a pele da onça. Postei essa tela nas redes sociais e a Heleninha Botelho, que é galerista, falou que estava magnífico”.
O reconhecimento da galerista foi essencial para que José apostasse de vez no estilo que havia criado. Com “Amor de onça”, as obras de José ficaram expostas durante um mês no Museu do Morro da Caixa d’Água e no salão do Teatro Zulmira Canavarros, em Cuiabá.
Na primeira série de obras, os humanos com pele de onça-pintada apareciam rodeados de frutas em formato de coração, com paisagens que causavam certa sensação afetiva. Para as próximas telas, José decidiu que precisava expressar ainda mais o que sentia quando entrava em seu ateliê.
Pele de onça-pintada e críticas sociais 3r1c4i
As paisagens “tranquilas” deram lugar às críticas sociais em “Onças da Cidade”. Em uma das telas, por exemplo, um dos humanos com pele semelhante ao do animal selvagem surge armado, pronto para atirar em uma onça-pintada. Através das representações, José tenta mostrar o caos gerado pela sociedade.

Em outra das obras, ele reproduziu os “Três Macacos Sábios” sem deixar de lado a pele de onça-pintada. Assim como fez em uma tela inspirada no clássico “O Grito”, de Edvard Munch. José busca se inspirar em situações reais para fazer suas críticas.
“Nessa tela, por exemplo, me inspirei naquela foto que todo mundo conhece, do menino que estava desnutrido na África e um abutre parou perto dele”, conta o artista enquanto mostra a obra.
O cenário caótico causado pelas queimadas no Pantanal também não podia ser deixado de lado por José. Nos últimos anos, os incêndios florestais têm sido responsáveis por centenas de animais selvagens que vivem na região.
Na mesma obra, o artista encurtou a distância geográfica entre a escultura “O Pensador”, do francês Auguste Rodin, e o pantanal mato-grossense. Uma das metas de José é conseguir levar a cultura mato-grossense exposta em sua arte para outros lugares do Brasil e do mundo.
O artista que se intitula “cuiabano de pé rachado”, afirma não ter vergonha da cultura ou do sotaque da região onde nasceu.
“Sempre optei por regionalizar a minha arte, é muito importante trazer a identidade do Estado que moramos. Quem não tem cultura nem sabe quem é. Quando era vendedor de carro, as pessoas reparavam no meu jeito de falar. Nunca tive vergonha”.
O artista já trabalha na próxima série “Somos Todos Animais”, que deve contar com 20 obras produzidas por José. Ele conta que pretende continuar com a essência de seus outros trabalhos, sem deixar de questionar as consequências das atitudes dos seres humanos.
Comentários (2) 5a601i
Nossa… eu não conhecia o trabalho do João e fiquei apaixonado. Como um cuiabano que valoriza suas raizes, perceber que artistas regionais constroem sua identidade vinculado ao que é nosso me enche de esperança. Que nossa identidade, nosso povo, nossa fauna e flora seja sempre celebrada. Obrigado, João! E obrigado ao site, repórter por esse conteúdo que dá visibilidade ao que é nosso. Isso é conteúdo de qualidade. Show!!!
Sensacional a releitura do grito e do pensador. A arte e sempre uma ótima forma de conscientizar sobre as questões do nosso tempo e, sem sombra de dúvida, a questão ambiental tá aí urgindo.