Cadeirante e cachorro vivem jornada incrível rumo a 140 países

O engenheiro civil Juliano Renk e o cachorro Hunter estão em Campo Grande rumo a Goiás; conheça a história deles

O acidente que causou a perda do movimento das pernas do engenheiro Juliano Renk há 23 anos não foi capaz de fazê-lo desistir do sonho de sair por aí conhecendo o mundo. De van e acompanhado apenas do cachorro Hunter, ele deixou sua cidade natal Chapecó (SC) e quer chegar a mais 140 países.

A dupla está em Campo Grande, pois Mato Grosso do Sul faz parte da rota de aquecimento dessa aventura!

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Juliano e Hunter curtindo o nascer do sol em Santa Catarina. (Foto: Arquivo Pessoal)

Em solo sul-mato-grossense, Juliano mergulhou nas águas de um rio cristalino de Bonito, algo que ele não fazia desde o acidente, se impressionou com o calor e está deixando amigos por onde a ao lado do companheiro inseparável.

O parapente

Aos 47 anos, Juliano se recorda com naturalidade do acidente que mudou sua vida para sempre. O tempo trouxe a maturidade necessária para ele lidar com as lembranças de um período marcado pelo trauma, anos de recuperação e, enfim, a superação.

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Juliano e Hunter durante a agem deles por Campo Grande. (Foto: Adriano Fernandes)

Acidente

Era o ano de 2001, Renk conciliava a faculdade de engenharia com uma de suas paixões, o parapente. No auge dos seus 23 anos, Juliano era um praticante experiente com direito até a patrocinador. O sentimento de satisfação era imenso.

“Eu praticava parapente todos os dias. Eu era muito realizado, porque eu estava prestes a terminar o curso de engenharia civil, fazendo a coisa que eu mais gostava no mundo que era voar e ainda sendo remunerado por isso. E, nesse momento, quando se é muito jovem, a gente não pensa direito, acho que a confiança é muito grande”.

Juliano Renk, engenheiro civil

Esse excesso de confiança abriu margem para um erro que custou muito caro para o jovem atleta: Juliano sofreu uma queda grave durante voo em Blumenau, Santa Catarina. 

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Juliano e Hunter são amigos inseparáveis. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Foi uma besteira, realizei uma manobra a baixa altura com um equipamento que eu tinha recém trocado, que era um equipamento novo, que eu teria que ter testado antes. Não era o mesmo tipo de equipamento que eu usava. Teve esse fator determinante que foi a minha imprudência. O esporte é super seguro, eu amo, incentivo todo mundo a voar. É maravilhoso. Foi uma pequena negligência e eu tive que pagar o preço”.

Juliano Renk

A recuperação

Os primeiros meses após o acidente foram os mais difíceis, pois Juliano perdeu o movimento das pernas, e até conseguir recuperar o mínimo de mobilidade lá se foram 3 anos.

“2001 foi um ano muito confuso, muito, muito limitante; tive um colapso mental muito grande. Imagine eu, jovem, fazendo faculdade, voando e do nada ir parar em uma cama. Então foi muito triste, sinceramente, muito triste. Até eu conseguir tomar banho sozinho, colocar uma meia, um chinelo foram dois, três anos de recuperação. Mas eu sempre pensava assim: ‘algo vai acontecer’”.

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Van adaptada de Juliano com ele ao fundo da imagem. (Foto: Arquivo Pessoal)

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Volta por cima!

ando o período de recuperação veio a volta por cima. Juliano se deu conta que precisava retomar a vida de onde ela havia parado. Ele terminou a faculdade, abriu um escritório e começou a empreender. Conforme as coisas foram voltando para os trilhos, também aumentava a vontade de se aventurar.

O “start” definitivo ocorreu em meados de 2014. Junto de outros dois amigos, Juliano fez uma viagem de 47 dias em um motorhome entre as cidades de Chicago até São Francisco, nos EUA.

“Me despertou essa vontade de voltar viajar, aquilo me marcou muito. Daí eu já comecei a pensar que eu ia precisar adaptar um veículo, colocar um elevador, eu me perguntava se eu ia conseguir. Em qualquer ocasião, no trabalho, sempre me vinha essa vontade. E o momento mais decisivo ainda foi quando eu comecei a fazer esse projeto e percebi que eu já estava quase há mais tempo vivendo na cadeira de rodas do que como andante”.

Juliano Renk, engenheiro civil

Juliano, a van e Hunter

Estava decidido. O tour pelos EUA fez Juliano criar gosto pela estrada e decidiu traçar um plano ousado: viajar de carro por 140 países. Ele sabia, no entanto, que só a vontade de viajar não seria o suficiente para colocar a missão em prática.

O engenheiro precisava adaptar um veículo as condições físicas dele. Em 2022, o engenheiro adquiriu uma van que poderia receber as adaptações necessárias. A readequações no veículo demoraram cerca de 8 meses para ficar prontas.

O veículo conta com geladeira, cama retrátil, fogão, elevador, tv, ar-condicionado é muito. O carro é literalmente uma casa ambulante equipada com tudo que é necessário.

Juliano também três cadeiras de rodas à disposição. Uma delas, inclusive, é reforçada para ar pelos mais variados tipos de terrenos.

Assista abaixo o interior da van:

Juliano mostrando as adaptações feitas na van dele. (Foto: Adriano Fernandes)

Hunter, pastor belga malinois

Mas tão importante quanto um meio de locomoção era uma companhia para Juliano. O engenheiro sentiu a necessidade de ter alguém do lado durante a empreitada, e ninguém melhor do que um cachorro.

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Hunter é lindo, protetor e dotado de uma inteligência impressionante. (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi assim que ele conheceu o Hunter, cão da raça pastor belga malinois, bastante conhecida pela inteligência. Hunter foi treinado durante cerca de um ano e meio para ser um cão de guarda, assistência e proteção de Juliano.

A expressão já fala por si só. Hunter não é só o melhor amigo do engenheiro, ele é quem o protege e ajuda Juliano em todas as tarefas da rotina, 24h por dia.

“Ele tem um manejo de um comportamento adequado para quando estivermos em lugares públicos e fechados. Ele sabe se comportar na farmácia, no supermercado, está preparado para andar de trem, de avião ou para ficar apenas no meu lado, me cuidando. Se eu precisar que ele pegue algo no chão, ele pega. Se eu precisar que ele segure uma sacola, ele segura. O vínculo entre nós é muito forte, ele dorme comigo toda noite”.

Juliano Renk

Hunter é lindo, não “desliga” um minuto, está sempre atento a tudo e a todos. O tutor ainda chama atenção para o instinto de proteção aguçado do animal. Ele é extremamente dócil, mas a qualquer sinal de ameaça a Juliano ou a van, Hunter pode atacar.

Perrengues

Com Hunter treinado e o veículo pronto para pegar a estrada, Juliano se viu diante de um imprevisto que colocou em xeque o projeto dele. Em setembro do ano ado, quando estava iniciando a viagem o engenheiro sofreu uma queda dentro da van enquanto estava a caminho do Uruguai.

O episódio resultou em uma lesão nas costas de Juliano, próximo ao ombro, região já comprometida pelo acidente de 23 anos atrás. Foram 10 meses de recuperação, o que levou ao adiamento da viagem.

“Tive que dar essa pausa, eu fiquei muito, muito frustrado, mas daí eu fui melhorando e hoje em dia eu estou muito feliz, muito confiante nessa melhora. Foi então que eu pensei, porque não fazer um teste pelo Brasil primeiro? Porque daí eu consigo testar o meu físico, consigo ver a performance do equipamento e ver como o Hunter se comporta também”.

Juliano Renk, engenheiro civil

Juliano deixou sua cidade Chapecó (SC) no mês de junho. Ele ou por cidades como Guaíra, no Paraná, e foi parando conforma a necessidade. Juliano trabalha remotamente como engenheiro, presta assessorias na área e também istra à distância alguns negócios da família.

1º mergulho após acidente foi em MS

Em Mato Grosso do Sul, ele se encantou por Bonito, onde ficou por quase duas semanas antes de vim para Campo Grande, na última quinta-feira (18). No paraíso do ecoturismo, Juliano mergulhou em rio de águas transparentes, algo que ele não fazia há 23 anos desde o acidente.

Hunter foi junto, mas nem no momento de lazer do tutor ele baixou a guarda. No vídeo abaixo ,o cão aparece tirando Juliano da água para que ele não se afogasse.

Assista:

Mas nem tudo são flores no caminho de Hunter e Juliano pelas estradas do Brasil. A van teve um problema técnico no trajeto para a Campo Grande. Ela ela teve de ser encaminhada direto para a mecânica.

Juliano conta que tomou um relaxante muscular e, quando deu por si, estava perdido. Contudo, nenhum dos perrengues fez ele baixar a cabeça. A receptividade dos moradores nas cidades por onde ele a pegou o engenheiro de surpresa e compensa qualquer imprevisto.

“A vantagem de fazer uma viagem como essa é ter a oportunidade de conhecer as pessoas, ver os diferentes tipos de comportamento, como é que as pessoas são. Estou achando isso incrível, o povo daqui de MS é maravilhoso, muito receptivo, hospitaleiro. Onde eu paro as pessoas vem conversar comigo, perguntam sobre a viagem, pedem meu Instagram. E tem também o Hunter, ele chama atenção, é um instrumento a mais de aproximação com as pessoas”.

Juliano Renk, engenheiro civil

A rota

De Campo Grande Juliano e Hunter seguem para a Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Em seguida, ele parte para o litoral, ando por cidades como o Rio de Janeiro. A expectativa é que ele conclua a “rota teste” pelo Brasil até o início de setembro.

No mesmo mês, uma ano depois do acidente que fez ele adiar a sua expedição, Juliano quer seguir rumo às Américas, a primeira etapa de sua viagem. A meta do engenheiro é chegar a, no mínimo, 100 países acompanhado de Hunter, e entrar no livro dos recordes, o Guiness Book, como o cadeirante mais viajado do mundo ao lado de um cão.

Quem quiser acompanhar a jornada incrível dos dois, pode seguir a aventura através do Instagram @impulse_sobrerodasepatas, criado por Juliano para documentar saga dele e do cão.

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Juliano e Hunter durante a agem deles por Campo Grande. (Foto: Adriano Fernandes)

A viagem tem um caráter terapêutico para Juliano, pois é a maneira que ele encontrou de sentir mais livre e independente mesmo com a mobilidade reduzida. Juliano espera que a força de vontade dele também possa inspirar outras pessoas.

“Espero que as pessoas me vejam e se espelhem em mim. Enxerguem que mesmo enfrentando algo limitador é possível vencer algumas barreiras. Quando alguém olha para mim e diz que está gostando do meu projeto, me incentiva ou quando algum outro cadeira fala que a minha ideia é fabulosa, ou que também quer ter um cachorro, eu já ganho o meu dia porque isso é muito recompensador. Então eu tento ser um exemplo bacana, tento me superar.  Desistir jamais, resiliência é tudo”

Juliano Renk

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