Após morte da mãe, Dener constrói sonho de reformar com as próprias mãos

Peso de promessa não cumprida levou mecânico a superar cansaço físico e mental para ver desejo realizado

No bairro Morada Verde, em Campo Grande, as paredes de uma casa guardam o segredo de uma história de família. O enredo principal tem como tema o amor e a superação. Dener Ramos, de 30 anos, se viu encurralado após perder a mãe. Entre a angústia e os últimos desejos dela, existia um sonho: reformar a casa que dividiam.

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Para honrar o desejo, Dener não poupou esforços e trabalhou, por pelo menos, um mês sozinho dia e noite. Tijolo por tijolo, o filho viu nascer das próprias mãos um desejo do coração da mãe.

Ana Maria Ramos da Cruz, que era cardiopata, estava doente. Por causa da condição de saúde, ela precisou trocar a chácara que tinha por uma casa de fácil o ao médico. No começo, Dener não morava com a mãe, já tinha a vida afastada do ninho.

No entanto, com o coração cada vez mais debilitado e após três infartos, a necessidade de ter alguém sempre por perto de Ana Maria se tornou inevitável. A mãe não aceitava morar com as filhas e falava: “da minha casa eu não saio, se quiser, alguém vai ter que morar comigo”. Foi assim que Dener abandonou o apartamento onde morava e voltou a morar com a mãe. 

Conforme relembra, o sobrado onde Dener e a mãe chamavam de lar era motivo de comentários das visitas, pois não estava terminado, o que incomodava Ana Maria. Já faziam cinco anos que ela morava na  propriedade que nunca havia sido reformada por vários motivos, um deles era o valor gasto com as medicações para manter a saúde. Incomodado com a situação, o filho decidiu agir. “Eu falei: mãe, vamos reformar? Vamos tentar fazer um empréstimo, eu te ajudo a pagar e, até então, eram só as tintas”.

Foram feitos vários orçamentos para avaliar o preço da pintura da casa. Todos entre o preço médio de R$ 10 mil e R$ 15 mil, o que era alto para ambos. A solução foi fazer um empréstimo somente para comprar as tintas e tentar driblar as dificuldades com a mão de obra. 

A solução era trabalhar aos fins de semana e no tempo livre, com o apoio de familiares e amigos que poderiam ajudar. “Ela disse que eu sozinho não dava para fazer e eu disse que ia conversar com os guris, meus cunhados e meu irmão para eles darem uma força. Eu tinha alguns amigos que também poderiam me ajudar”, contou ao Primeira Página.

No primeiro momento, todos disseram que ajudariam, mas conforme o tempo ou, as desculpas se tornaram variadas para que o serviço não tivesse continuidade. O início da reforma era previsto para agosto de 2022, mas se ou um ano e o material, já em 2023, seguiu sem ser utilizado. 

“O material ficou parado mais de um ano e eu sempre tentava chamar o pessoal: ‘eai, vamos mexer esse fim de semana? E o pessoal falava: hoje tô corrido, tô cansado’ e eu também tava cansado e corrido, ela doente e eu pensava: as tintas tão aí parada perdendo, fiz empréstimo e ninguém vem ajudar”, lamentava na época. 

Nesse meio tempo, Ana piorou. Cerca de 15 dias antes do falecimento, ela demonstrou tristeza pela perda do material e disse a Dener que tinha comprado o material à toa. O filho, mais que imediatamente, rebateu. “Não, mãe, a gente vai mexer, nem que eu faça sozinho, eu vou fazer”, disse em tom de promessa. 

A partir disso, a matriarca teve seu estado de saúde agravado, foi internada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento),  ficou em estado de emergência, precisou ser levada para a Santa Casa e morreu.

Dener relembra que ficou chateado com a situação. “Parece que bateu um peso nas minhas costas, porque eu tinha prometido um negócio em vida e não cumpri. Foi um sentimento de que era uma missão que eu tinha que concluir, custasse o que custasse, do jeito que fosse, do jeito que dava, porque eu estava me sentindo muito mal”. 

Ao resgatar na memória, Dener fala que a mãe, que faleceu aos 58 anos, era de personalidade forte e superou em vida muitas dificuldades. Sozinha no mundo, sem os pais ou algum tipo de e, aos 12 anos, ela precisou fugir do lugar onde morava pela tentativa de estupro do próprio irmão. “Ela sofreu e ou todos os julgamentos de uma época nada fácil. Se recusou a cair, quanta força! Apesar de tudo não desistiu nem da vida e nem dos filhos, ou e carregou seus fardos e, até, os que não eram seus”, relembrou sobre a mãe. 

Ela era minha referência, hoje sei do seu valor e porque sou forte e levo um sorriso. Tive a proteção de uma mãe para me salvar do mundo”

Dener Ramos 

Desanimado e com o peso da promessa nas costas, dias após a morte da mãe, Dener tomou a decisão. A reforma se tornou sua missão, nem que para isso, tivesse que se sacrificar fisicamente e mentalmente. Ficou um mês trabalhando dia e noite, às vezes tocava a noite inteira e saia para trabalhar na sequência. Voltava para casa, e começava tudo de novo.

“Algumas vezes eu ia até meia noite, duas da manhã, três, dormia um pouquinho, ia para o trabalho e voltava fazendo massa, lixando, porque meu coração estava pesado, parece que se eu não concluísse aquilo, eu não estava me sentindo bem. Foi um mês assim para poder gastar material e ver o rendimento, para eu me sentir bem comigo mesmo”, desabafou sobre a situação. 

A amizade é tudo!

O ritmo de trabalho intenso cobrou. Extremamente cansado da dinâmica exaustiva e com o físico e o mental esgotados, ele pensou em desistir da reforma, não queria mais a dinâmica estressante para honrar o que havia prometido para a mãe. Mas, o que o ele não calculava, é que a vida mandaria um amigo para ajudá-lo a cumprir a missão. 

“Teve um dia que eu cheguei, fui tomar banho e pensei: hoje não vou trabalhar, vou fazer comida, dar uma arrumada na casa, ir ao mercado. Começou a chover e eu parei em um bar e lá eu encontrei um amigo de infância que é pintor e ele tinha prometido para minha mãe que iria ajudar. Foi coisa de Deus, porque eu o encontrei e ele disse que não foi no velório da minha mãe porque não queria ver aquela imagem dela, mas o ele que tinha prometido para ela estava de pé”. 

A partir desse dia a jornada não foi mais solo, mas ganhou a companhia do amigo Edilson Barbosa, que tinha como meta cumprir a promessa feita a Ana. Por vezes, a dupla cumpria cada um a própria jornada de trabalho e se uniam ao final do dia para iniciar a segunda jornada: reformar a casa.

Edilson

“Ele trabalhava comigo até uma, duas, três horas da manhã, tiveram vezes que a gente amanheceu o dia trabalhando e ele me deu uma força tremenda, parece que Deus falou com ele para eu aguentar mais um pouquinho. Ele chegou na hora que eu já tava com um cansaço físico e mental, que eu pensava: acho que vou desistir disso aqui, vou largar mão. Naquela hora ele me puxou e falou, bora, vamos voltar e isso me deu um ânimo de 110%” , revelou agradecido. 

No time para finalizar a reforma da casa, entrou ainda mais um amigo de infância. No retorno a Campo Grande, após um tempo de morado em Porto Murtinho, Wellington Fernandes, que por um longo período trabalhou como pintor predial decidiu ajudar o amigo. “Ele me ajudou a terminar o quarto, amos a textura, pintamos, viramos a noite trabalhando, então esses dois amigos deram uma força enorme para mim e eu sempre levo no coração, independente de qualquer situação, porque amigo é assim, na hora do sufoco, às vezes não é nem com dinheiro, mas algo simples. Hoje sinto meu coração muito mais leve”, agradeceu. 

Conforme relembra Dener, por um longo período em que ele e Wellington moravam no sítio, eles trabalhavam de “orelha”, ou seja, de servente de pedreiro. Foi assim que aprendeu boa parte do que sabe sobre construção. Além disso, os conhecimentos adquiridos no quartel também foram essenciais para auxiliar na pintura.

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A casa ainda não está finalizada, o projeto segue para 2025, mas para Dener, boa parte da promessa já está cumprida e ele pode, enfim, dormir de coração tranquilo. Agora ele segue com a reforma, mas com mais calma, menos correria e com o sentimento de que conseguiu chegar em um nível que a mãe gostaria. “Se ela  estiver olhando, espero que esteja feliz”, concluiu. 

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