A esperança mora em Cuiabá: o recomeço de 2 venezuelanas 2h6qd
Na cozinha da Pastoral do Migrante, no Bairro Carumbé, em Cuiabá, as venezuelanas Glendys Paredes del Carmen, de 42 anos, e Karen Rebeca Carpio Gonzalez, de 43, dividem os preparos do almoço ao som de músicas brasileiras que tocam no rádio. A fartura de alimentos do Brasil ainda emociona as duas mulheres que cruzaram fronteiras com o estômago vazio.
Os cabelos presos e escondidos dentro das toucas evidenciam ainda mais os olhos extremamente claros de Karen, que se emociona todas as vezes em que fala sobre a fome que assola a vida dos venezuelanos que ainda não conseguiram deixar o país.

Venezuelanas lutaram para chegar ao Brasil 1dr3y
“Quando entramos no Brasil chegamos morto de fome, porque na Venezuela já não tinha mais comida para nós. Foram três dias comendo só manga”, lembra Karen.
Assim como ela, Glendys também ou semanas pedindo carona e caminhando com a família em busca de dias melhores com quatro dos cinco filhos, genro e netos. Eles atravessaram a Colômbia e o Equador para conseguirem chegar ao Peru.
No entanto, a experiência ruim no país fez com que todos voltassem para o Equador onde, além da xenofobia, viu de perto os piores dias da pandemia da covid-19 que sobrecarregou o sistema de saúde e matou mais de 33 mil equatorianos.
“Vi os corpos das vítimas sendo amontoados e queimados. Eu estava lá quando tudo isso aconteceu. Não foi fácil no Equador. Não é um bom lugar para os venezuelano, sofremos muito com a xenofobia”, conta Gledys.
Sempre que menciona a xenofobia vivida no Peru e no Equador, o sorriso da venezuelana desaparece do rosto imediatamente. Logo ela e a família decidiram enfrentar as estradas novamente e conseguiram chegar ao Brasil.
Gledys está vivendo com a família em Cuiabá há dois meses. Graças ao acolhimento da Pastoral do Migrante, conseguiu também o tão sonhado emprego. Os alojamentos da instituição se transformaram em “lar” para muitos dos imigrantes, não é diferente para os familiares da venezuelana.
“Aqui em Cuiabá é muito bom. Os cuiabanos têm um bom coração. Colaboramos com a limpeza e a cozinha [na Pastoral do Migrante] sempre que precisam. Gostamos muito de viver aqui, somos como uma família”.
Enquanto frita alho e cebola para fazer o arroz com frango, que seria servido aos imigrantes que moram na instituição naquela manhã, Gledys e Karen não deixam de lembrar dos companheiros venezuelanos.
Para ambas, uma refeição como a que preparavam na cozinha da Pastoral do Migrante se tornou impossível no país onde nasceram. As marcas deixadas pelos dias de fome são impossíveis de apagar e fazem lágrimas rolarem pelos rostos de Gledys e Karen.
“Desde que cheguei no Brasil não amos mais fome, tivemos dias difíceis, precisei dormir na rua. Mas, fome não. O brasileiro tem bom coração. As pessoas na Venezuela estão comendo lixo ou cachorro”, se emociona Karen.
Gledys não hesita em deixar uma mensagem para os companheiros que ainda estão na Venezuela. “Vamos muchachos, que si se puede! Juntos somos más!”
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