Por que Anora dominou o Oscar e venceu Ainda Estou Aqui em quase tudo? 3v5b4h
Mikey Madison entregou uma atuação poderosa e multifacetada como Ani, trazendo profundidade e autenticidade a uma personagem complexa. 5f5h6z
A 97ª edição do Oscar, realizada neste domingo (2) foi um misto de celebração e reflexão para o cinema brasileiro. “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, fez história ao se tornar o primeiro filme brasileiro a conquistar o prêmio de Melhor Filme Internacional, um marco que coroa décadas de esforços e talento do cinema nacional. No entanto, a noite também evidenciou os desafios que o Brasil ainda enfrenta para competir em categorias mais amplas, como Melhor Filme e Melhor Atriz, em que “Anora” e sua protagonista, Mikey Madison levaram a melhor.

A vitória de “Ainda Estou Aqui” como Melhor Filme Internacional é um momento de orgulho e reconhecimento. O filme, que narra a história de Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres) em sua busca incansável pelo marido, Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar no Brasil, ressoou profundamente com o público e a crítica. Walter Salles, conhecido por filmes como “Central do Brasil” e “Diários de Motocicleta”, trouxe uma narrativa universal sobre resistência, memória e esperança, temas que transcendem fronteiras e conectam-se com audiências globais.
A vitória é especialmente significativa porque o Brasil já havia sido indicado ao Oscar em outras ocasiões, mas nunca havia levado a estatueta (Lembremos do fatídico dia em que Fernanda Montenegro “perdeu” a estatueta de Melhor Atriz para Gwyneth Paltrow, em 1999). Agora, o país finalmente entra para o seleto grupo de vencedores do prêmio de Melhor Filme Internacional, consolidando sua presença no cenário do cinema mundial.
Por que “Anora” dominou as categorias principais? 671n1t

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Vamos falar sobre questões técnicas, óbvias. Apesar da conquista brasileira, “Anora” foi o grande vencedor da noite, levando cinco prêmios, incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz (Mikey Madison), Melhor Direção (Sean Baker), Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem. O sucesso do filme pode ser atribuído a uma combinação de fatores, desde sua narrativa inovadora até o timing perfeito em uma indústria que valoriza cada vez mais a diversidade e a pluralidade.
“Anora” conta a história de Ani, uma jovem stripper de Nova York que se casa inesperadamente com o filho de um oligarca russo, resultando em um embate cultural e financeiro. A trama, que mistura realismo social com humor ácido, oferece uma visão contemporânea e provocativa sobre questões de classe, gênero e identidade. Essa combinação de temas relevantes e uma abordagem ousada cativou a Academia, que tem buscado reconhecer filmes que desafiem as convenções tradicionais.
Mikey Madison entregou uma atuação poderosa e multifacetada como Ani, trazendo profundidade e autenticidade a uma personagem complexa. Sua vitória na categoria de Melhor Atriz reflete não apenas seu talento, mas também a busca da Academia por performances que tragam frescor e inovação ao cinema. Fernanda Torres, embora brilhante em “Ainda Estou Aqui”, talvez não tenha tido o mesmo impacto emocional imediato ou o mesmo apoio em campanhas.
Sean Baker, diretor de “Anora”, é conhecido por seu estilo único e por abordar temas sociais com sensibilidade e humor. Baker já havia chamado a atenção em filmes anteriores como “The Florida Project”, e “Anora” consolidou sua reputação como um dos cineastas mais inovadores da atualidade.
“Anora” foi destaque em festivais internacionais e premiações como o festival de Cannes (Palma de Ouro), também venceu como Melhor Filme no Critics Choice Awards e no Sindicato de Diretores e Produtores de Hollywood, que fortaleceu sua posição na corrida ao Oscar. Essas vitórias criaram um momento decisivo na votação final da Academia.
E se falarmos sobre custos, o filme teve um orçamento pequeno (U$ 6 milhões) comparado a outras super produções, como Duna: Parte II, orçado em U$ 190 milhões. A bilheteria de “Anora” ultraou sete vezes seu custo, faturando US$ 41 milhões, até agora.
A evolução da academia e a “busca por diversidade” 285e56
Nos últimos anos, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas tem se esforçado para ampliar e diversificar seu corpo de votantes. Em 2017, por exemplo, foram convidados 774 novos membros de 57 países, elevando o total para 7.258 votantes. Desses novos integrantes, 39% eram mulheres e 30% não brancos, refletindo um esforço para incluir perspectivas mais diversas nas escolhas. Embora, na prática, não vejo isso acontecendo como deveria.
Em 2025, 9.905 profissionais da indústria do cinema estavam habilitados a votar, 6% a mais do que na 96ª edição.
Essa mudança impacta diretamente as premiações, com a Academia reconhecendo obras que trazem novas narrativas e abordagens diversas. “Anora”, com sua mistura de realismo social e humor, e “Ainda Estou Aqui”, com sua história profundamente enraizada na cultura brasileira, são exemplos de como a diversidade de histórias está sendo celebrada.
Um marco para o Brasil, mas um longo caminho a percorrer 3h4q2y
A vitória de “Ainda Estou Aqui” como Melhor Filme Internacional é um marco histórico que deve ser celebrado, mas as derrotas nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz mostram que o cinema brasileiro ainda tem desafios a superar. Competir em pé de igualdade com produções de grande orçamento e campanhas de premiação bem estruturadas exige não apenas talento, mas também estratégia e recursos.
Enquanto “Anora” dominou a noite com sua narrativa inovadora e desempenhos impactantes, “Ainda Estou Aqui” provou que o Brasil pode produzir histórias universais que ressoam globalmente. A chave, agora, é continuar evoluindo e aproveitar esse momento histórico para fortalecer a presença do cinema brasileiro no cenário internacional. A Academia está mudando, e o Brasil precisa estar preparado para surfar essa onda de diversidade e pluralidade.
Achei justo? 4u81o
NÃO. Como brasileiro, artista, jornalista e apaixonado pela arte, minha torcida como a de milhões de brasileiros era que Fernanda Torres – e o filme – se consagrasse ainda mais.
Ter Mikey Madison vencedora da categoria de Melhor Atriz traz muitas camadas que, particularmente, considero problemáticas e enraizadas no Oscar. Acho que Fernanda Torres merecia, sim, a estatueta, além da torcida óbvia, a vejo como uma atriz extremamente capaz e versátil, com uma carga de atuação de mesmo nível que qualquer outra atriz indicada. Na conta geral, visto que é um prêmio americano, onde atrizes internacionais e principalmente latinas não são valorizadas como deveriam, Demi Moore seria a escolha mais próxima de algo justo.
Mas, como uma ingrata piada, a veterana também perdeu o prêmio de Melhor Atriz para a jovem Mikey (parece que já vimos esse filme). REFORÇANDO, o Oscar é uma premiação americana, essa é uma barreira que ainda temos que quebrar, e a Academia entender que as votações precisam ultraar fronteiras.
Entendo que o Brasil fez história e temos total possibilidade de, além de sermos o país do futebol e do carnaval, sermos também o país que pode ser ainda mais reconhecido no cinema mundial, trazendo mais prêmios. Que venham mais obras, mais estatuetas e prêmios para o cinema nacional.