Crítica | Thunderbolts: o filme que o MCU precisava (mas não o que todo mundo esperava) 2a13p
Sem megalomania cósmica, a Marvel aposta em humanidade, ironia e um elenco irresistível para reconectar com o público 3m59w
Thunderbolts chegou como um sopro de ar fresco no MCU atual. O filme parece saber exatamente suas limitações e, em vez de fugir delas, as abraça com humor e um toque de autodepreciação inteligente. A Marvel tenta resgatar um pouco da essência que a tornou tão especial no ado, mas sem apelar para nostalgia barata. Colocar um time de anti-heróis desajustados, sem poderes absurdos ou planos infalíveis, é uma jogada arriscada — e justamente por isso pode dar certo.

Diferente do espetáculo cósmico dos Vingadores, aqui a questão é mais pé no chão: o que significa ser herói quando você é só um humano cheio de problemas tentando fazer o mínimo de acertos? Essa abordagem mais intimista, que prioriza um roteiro bem amarrado e personagens com os quais a gente se identifica (em vez de só efeitos visuais de tirar o fôlego), pode ser exatamente o remédio que o público precisa agora.
O roteiro, escrito por Eric Pearson (Thor: Ragnarok) e Joanna Calo (O Urso), não tem medo de ser autorreferente. Com direção de Jake Schreier (Cidades de Papel), o filme quase parece uma crítica à saturação dos próprios filmes de super-herói — como se o MCU, sob o comando de Kevin Feige, finalmente itisse que a fórmula está cansada e que a única saída é encarar o problema de frente. Os diálogos têm uma ironia afiadíssima, com piadas que zoam a repetitividade do gênero. Em outras mãos, isso poderia soar pretensioso, mas aqui funciona como um aceno de honestidade para o público: “A gente sabe, e vocês também.”
O grande destaque, porém, é o elenco. Julia Louis-Dreyfus rouba a cena como Valentina, a vilã carismática que a gente ama odiar. Florence Pugh devolve Yelena Belova com aquele equilíbrio perfeito entre sarcasmo e vulnerabilidade, enquanto Wyatt Russell mantém John Walker como um arrogante tragicômico — irritante, mas impossível de ignorar. Hannah John-Kamen (Fantasma) e Olga Kurylenko (Treinadora) completam o time com presenças que, mesmo em segundo plano, acrescentam camadas de conflito e humor. A dinâmica do grupo é um caos, e é justamente isso que funciona: são pessoas que se estranham, se entendem e, no fim, precisam umas das outras — mesmo que de má vontade.
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Já o vilão, Sentinela (Lewis Pullman), cumpre seu papel com uma dualidade interessante, mas fica um pouco aquém do potencial. Fãs de quadrinhos vão reconhecer sua ambiguidade, mas o público casual pode achar suas motivações um tanto rasas. Um pouco mais de desenvolvimento sobre sua origem teria dado mais peso ao conflito, embora sua presença traga uma tensão que mantém o filme interessante.
A direção de Jake Schreier é competente, mas segura. Visualmente, o filme não ousa muito, optando por um estilo mais funcional que serve à narrativa sem chamar atenção para si. Em alguns momentos, isso faz sentido, já que o foco está nos personagens. Mas em outros, dá vontade de ver uma ousadia maior — algo que poderia transformar Thunderbolts de “um filme sólido” em “um filme inesquecível”.
No fim das contas, Thunderbolts não reinventa a roda, mas prova que o MCU ainda pode surpreender quando se permite ser mais humano, mais irônico e menos dependente de fórmulas batidas. É um o na direção certa — um sinal de que, mesmo num universo cansado, ainda dá pra contar histórias que valem a pena.