Onça dá à luz na copa de árvore em paraíso tomado pela água 4i5i3
Na Reserva Mamirauá, localizada entre os rios Amazonas e Japurá, as onças-pintadas se adaptaram de forma surpreendente ao sobe e desce das águas 451351
Em um paraíso distante, em plena floresta amazônica, as onças-pintadas tiveram de se adaptar de maneira surpreendente ao avanço das águas em meio à mata. Na Reserva Mamirauá, localizada em Tefé, entre os rios Amazonas e Japurá, as onças aprenderam a viver e se alimentar no topo das árvores, após ficarem ilhadas nas áreas de várzea. Uma onça-pintada chegou a dar à luz um filhote durante o período em que o solo foi tomado pela água.

A rotina aquática das onças-pintadas que vivem na região foi relatada em um estudo publicado pela primeira vez em 2021, realizado por pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no periódico Ecological Society of America.
A Reserva Mamirauá é formada por um ecossistema de várzea — um tipo de vegetação composto por planícies fluviais, cujas florestas são periodicamente inundadas por rios de águas barrentas.
Onça pariu nas alturas 655ze
Cerca de 11 mil quilômetros quadrados da reserva ficam alagados durante três a quatro meses do ano, na estação anual de cheias da bacia do Amazonas, de junho a setembro. Consequentemente, o habitat das onças-pintadas fica submerso sob até 10 metros de água, em média.
É diante desse cenário que as onças tiveram de se adaptar à vida nas alturas. Até 2022, a Reserva Mamirauá abrigava mais de mil onças-pintadas, segundo levantamentos do instituto.
Até então, os pesquisadores suspeitavam que os felinos simplesmente migravam para regiões secas durante a cheia, mas comunidades locais afirmavam que os animais não deixavam a região.

Foi então que os cientistas iniciaram observações e fizeram uma descoberta fascinante sobre as onças que vivem na Reserva Mamirauá: o caso de uma onça-pintada que deu à luz no topo das árvores.
O animal, monitorado por GPS, permaneceu na região da reserva durante todo o ano, inclusive no período da cheia.
“Isso só seria possível se ela tivesse vivido acima da água, nas árvores, nadando de uma árvore a outra e se alimentando nas copas”, afirmou Marcos Brito, ecólogo e pesquisador do grupo de felinos do Instituto Mamirauá, em entrevista à National Geographic.

O filhote, inclusive, foi fotografado entre as árvores durante uma expedição à reserva. Após essa descoberta, a equipe monitorou mais oito animais — quatro fêmeas e quatro machos — ao longo de seis anos.
Todos avam longas temporadas no alto das árvores, descendo ocasionalmente, nadando de dois em dois dias, em média, entre uma árvore e outra. Esse cenário fez com que até a dieta dos felinos se modificasse.
As onças-pintadas que vivem no “paraíso Mamirauá” aram a se alimentar de animais arbóreos. Cerca de 80% de sua alimentação é composta por répteis, como o jacaré-de-óculos, e até por preguiças-de-três-dedos.

Ainda de acordo com o estudo do Instituto Mamirauá, as onças-pintadas que vivem nas várzeas amazônicas são relativamente pequenas em comparação às que habitam outras regiões do país. Os machos analisados no estudo pesavam entre 53,5 kg e 72 kg, enquanto as onças do Pantanal ou do Chaco argentino podem ultraar os 100 kg.
Com informações da National Geographic***