Sentença de morte no ado, leishmaniose dá trabalho, mas não leva esperança de tutores 723p13
Tutores e veterinários defendem que é possível tratar doença, que antes era vista como indicação para eutanásia 495f4m
Foi um choque quando Telma descobriu que Mabel, a cachorrinha da família, estava com leishmaniose. Saudável, ela foi testada pelo CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) de Campo Grande durante um exame de rotina e o resultado caiu como uma bomba na família.
Com o positivo em mãos, Telma foi a clínicas particulares e descobriu que poderia tentar o tratamento, que há 8 anos ainda era um tabu na cidade.
“Eles vieram até a minha casa e testaram ela, depois me ligaram dizendo que tinha dado positivo para a doença e teria que aplicar a eutanásia. Eu fiquei desesperada, porque adotamos ela para a minha filha. Estava há três anos com a gente, uma cachorra saudável. Como iríamos fazer isso? O moço do CCZ foi bem humano com a gente, falou para eu pensar bem, conversar com a família e depois poderia ligar para eles recolherem ou levar lá. Acabamos indo em busca de outras opções, acho que nem ele acreditava que ela deveria sofrer a eutanásia”, explica a professora, Telma Maria, 48 anos.

Mabel, a cachorra sem raça definida e uma mistura de fox paulistinha, é o xodó da casa e completou 11 anos em 2021. Atualmente, o tratamento é feito com um medicamento prescrito por veterinário, que controla a doença, além de zinco, ômega 3 e outros suplementos e vitaminas para deixá-la saudável.
Com o avanço da idade, Mabel começa a apresentar uma leve cegueira, mas nada que a impeça de brincar com a novata, Maju, que chegou há pouco tempo na casa e com seis filhotinhos a tiracolo.
“Nosso presentinho de Deus, nós colocamos para dentro, acabamos ficando com ela, deu seis filhotinhos, conseguimos doar os filhotinhos e agora ela não é mais mamãe, ela é filhinha”, se derreta Telma, sobre a caçula, que também testou para leishmaniose e vai iniciar o tratamento adequado.
Trajetória parecida com a de Gabriel Augusto Fonseca Camargo, 29 anos, que gastou cerca de R$ 2 mil para a recuperação de Goku, hoje com 5 anos.
“Descobrimos a leishmaniose quando ele tinha por volta de 6 meses. Acredita-se que tenha nascido com a doença, pois era muito novinho quando descobriu e aconteceu de darem o diagnóstico errado, pois com 4 meses ele estava com sintomas e identificaram como doença do carrapato”, relembra.
Segundo Gabriel, tratar durante dois meses uma doença que não existia prejudicou a saúde de Goku, que sofreu bastante no percurso. “Ele só piorou, definhou e ficou péssimo. Nem levantava mais. Porém, ao descobrir e iniciar o tratamento, melhorou bastante”, afirma.
Anos depois, ele é a definição de alegria para qualquer tutor: “gordo, brinca e corre atrás da bolinha o dia todo se deixar”, comenta Gabriel.

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Gabriel explica que no início o tratamento foi diferente. “Era com vitaminas e a própria vacina Leishtec, além de alguns outros remédios que eu não lembro, como auxiliares. Ano ado comecei tratar com outro veterinário, fizemos o protocolo mais indicado, que é o com Milteforan, medicamento que foi liberado pela Anvisa há pouco tempo e é específico, além de caro. Antigamente, quando não se podia fazer o tratamento de forma legal, importava-se da Europa e pagavam muito caro. Após a autorização, o preço já abaixou bem”, explica, reforçando que atualmente os exames de Goku apresentam o resultado “não reagente”, que segundo os veterinários possibilitam que ele não transmita mais a doença a outros animais e humanos.
“Tenho dois cachorros e um gato. A outra cadela mesmo morando no mesmo ambiente, nunca desenvolveu a leishmaniose, ou seja, tanto ele pegou dos pais, quanto o tratamento deu certo o suficiente para conviverem e não transmitir”, frisa.
Desafio no tratamento de leishmaniose 4i2d3n
Segundo a médica veterinária Adriana Gimenez Rodrigues de Oliveira Blume, a leishmaniose é uma doença de grande desafio na área da medicina veterinária. “Como ela é uma doença zoonótica de importância da saúde pública, cabe a nós veterinários levar a informação até a população. A LVC é uma doença que tem tratamento e controle, apesar de não existir cura parasitológica”, explica.
A doença pode se manifestar de diferentes formas, sendo as mais comuns lesões na pele, perda de pelos, feridas no focinho, descamação de pele e crescimento exagerado das unhas, além de emagrecimento progressivo. “E temos animais assintomáticos”, como foi o caso da Mabel, da Telma.
Apesar de muitas vezes ser agressiva quando não tratada corretamente, ela pode ser controlada através de exames de rotina, como sangue, urina, PCR de medula óssea, para acompanhamento da doença e ajuste do tratamento.
“Através do tratamento muitos animais ficam estáveis, tem diminuição da carga parasitária. A identificação precoce da infecção e da doença nos ajuda a instituir um tratamento adequado e eficaz e também uma monitorização dos animais. Nós temos um estadiamento da doença que classificamos em cinco estágios sempre levando em consideração parâmetros clínicos, laboratoriais e patológicos da doença para definirmos a terapia e o prognóstico do paciente”, pontua.
Transmissão 4q4p1d
Leishmaniose é um tipo de doença infecciosa causada por um protozoário do gênero leishmania, considerado um parasita. Sua transmissão se dá por meio da picada do mosquito-palha e essa condição é considerada majoritariamente tropical, sendo mais comum em países de clima quente e úmido, como certas regiões do Brasil. Em Campo Grande, o CCZ ainda considera a doença motivo de eutanásia em casos de animais abandonados.
“A leishmaniose é uma doença vetorial, transmitida somente através da picada do mosquito palha, ou seja, não havendo contato do cão para o homem e vice versa. Os pets podem conviver tranquilamente, tendo em vista que a transmissão não ocorre por contato direto e sim pela picada do mosquito transmissor da doença”, ressalta.
Para o tratamento, Adriana explica que há o uso de fármacos leishmanicidas, leishmaniostaticos e imunomoduladores que tem como objetivo a melhora clínica do paciente, redução da carga parasitária e diminuição da transmissão da doença. “Hoje temos disponível o Milteforan, que visa promover a melhora clínica do animal, redução da carga parasitária, além de trazer uma boa recuperação do sistema imunológico e redução e até bloqueio da transmissão da doença”, indica.

Em Campo Grande, o CCZ ainda considera a doença motivo de eutanásia em casos de animais abandonados. Segundo nota da assessoria de imprensa da prefeitura de Campo Grande, “os animais que foram resgatados das ruas e são diagnosticados com leishmaniose am pela eutanásia, uma vez que a doença é perigosa e pode ser transmitida para os outros animais que também aguardam por adoção e são saudáveis. Ressaltamos que, na maioria das vezes, os cães positivos para Leish que estão nas ruas, já estão em situação precária quanto ao seu quadro de saúde, não tendo nenhuma outra alternativa para tratamento”.